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Bernardo Libório: “Os produtores trabalham em confinamento há muitos anos”

Artes

Nasceu no seio de uma família vareira que, há várias gerações, tem a música como paixão, ofício e legado. Cresceu na loja de música do avô, José Muge, rodeado de discos e instrumentos. A música começou por ser uma brincadeira, mas depressa se tornou assunto bem sério. Com todos estes ingredientes reunidos, é fácil perceber de onde vem a vocação de Bernardo Libório que, aos 29 anos, é músico, professor de guitarra, produtor musical e sound designer.

Comecemos pelo avô: José Muge integrou e deu o nome ao mítico Conjunto Oliveira Muge, que fundou, em Ovar, por volta do ano 1961. A banda, que começaria por atuar no também mítico Café Progresso, tal como em bailes e festas comunitárias na região, rapidamente alcançaria grande êxito, com milhares de discos vendidos, presença assídua em várias rádios e programas de televisão no sudoeste africano, bem como atuações em palcos um pouco por todo o mundo. O maior sucesso do grupo será, provavelmente, o tema “A Mãe” que, décadas mais tarde, viria a inspirar o filme “Aquele Querido Mês de Agosto”, de Miguel Gomes.

As memórias de infância de Bernardo Libório têm, quase sempre, como palco, a loja de música do avô.

“Lembro-me de estar ao piano a tentar ‘tirar músicas’. Ouvia uma música e tentava reproduzi-la no teclado. Assim que conseguia, tentava tocá-la também na guitarra”, recorda o jovem vareiro.

Por volta dos seis anos, “uma das primeiras músicas que me lembro de ter experimentado reproduzir foi a do genérico do Dragon Ball”. E se hoje, para Bernardo, essa até pode parecer uma tarefa simples, para aquela criança de seis anos, ser capaz de imitar fielmente aqueles 50 segundos de canção que davam entrada a cada episódio das aventuras de Goku, Bulma, Krillin e Vegeta constituía um feito tão épico quanto improvável. “Era um clima de experimentação muito próprio da idade, só que eu vivia-o no meio dos instrumentos musicais. Era uma brincadeira, mas já se notava que era feliz a fazer aquilo”, afirma.

Pelo ambiente que lhe proporcionou em tão tenra idade, mas principalmente pelas vivências partilhadas e pelo exemplo enquanto ser humano e profissional, o avô José Muge é, de facto, a mais incontornável influência no percurso que Bernardo tem vindo a trilhar. Além de considerar o avô “um excelente músico”, Bernardo reconhece-lhe “uma força de vontade e perfecionismo” que muito admira e que, no seu entender, herdou. “Crescer com ele transmitiu-me esse perfecionismo, essa vontade de ter sempre tudo direitinho e isso acaba por se refletir no meu trabalho. Com o meu avô, tudo tem de bater certo e eu sou parecido com ele nesse aspeto”, partilha o jovem.

Aos 86 anos, José continua muito presente na vida do neto e sempre atento ao seu trabalho musical. “Ele procura saber o que ando a fazer e dá-me sempre a sua opinião baseada nas suas experiências e vivências. É claro que fazer música nos anos de 1960 não é a mesma coisa que fazer música agora. Hoje em dia temos outros fatores tecnológicos que influenciam a maneira como compomos. O meu avô é curioso, gosta muito de conversar e de entender estas coisas”, conta Bernardo. “É claro que, para ele, a música de hoje é toda igual!”, remata, entre risos.

Bernardo começou por aprender violino, mas acaba por ceder aos encantos da guitarra. Chegou a ter bandas de garagem e a tocar em festas a escola, até que ingressa na escola de música Jazz ao Norte, no Porto. Já naquela altura, o jazz era o seu estilo de eleição, no entanto, a opção por este estilo prende-se sobretudo na convicção de seria este o que lhe daria melhores bases para um futuro na música. Futuro esse que, logo a seguir, passou pela Universidade Católica e pelo estudo de Produção de Som para Cinema, área na qual viria também a fazer o mestrado.

No decorrer do curso, Bernardo tem a oportunidade de passar uma temporada no Brasil e aprofundar os seus estudos em cinema e televisão. Aqueles meses no Rio de Janeiro, cidade onde o samba se apaixonou pelo jazz e deu à luz aquele balanço tranquilo da bossa nova que sempre o fascinou, ajudou-o “a alargar os horizontes musicais”, reconhece Bernardo. “O Brasil é musicalmente muito rico. Tem um ritmo invejável, mas também tem muitas influências americanas e africanas. Tudo junto, dá ali uma mixórdia de estilos muito interessante”, descreve.

Atualmente, Bernardo trabalha na Fabamaq, no Porto, uma empresa de software especializada no desenvolvimento de jogos para casinos. Enquanto sound designer a sua missão “é, literalmente, desenhar com o som”. “É conseguir dar vida e intenção dramática a uma sequência de imagens, com o som”, esclarece. Uma tarefa de grande pormenor e que, consoante o contexto e ambiente de cada jogo, pode exigir um grande trabalho de pesquisa. Bernardo explica que quando se trabalha com jogos temáticos, passados num contexto específico – no faroeste, na selva, no mar – é necessário recorrer a referências desses ambientes para compor uma narrativa sonora que remeta para esse imaginário. Só assim, garante, é possível a cada efeito sonoro tornar a experiência do jogador o mais emergente possível. Além disso, é importante nunca esquecer que “um breve som no momento certo pode mudar toda a intenção de uma cena”. Um dos maiores desafios com que Bernardo se depara amiúde é o de “ter de compor um momento sonoro, com princípio, meio e fim, para uma cena de corte que não excede os cinco segundos de duração”, desvenda. Por vezes, “é verdadeiramente difícil”.

Outra das atividades que mais atrai, entusiasma e satisfaz este jovem de Ovar é a produção e direção musical de artistas. “Adoro agarrar na ideia de um músico, uma visão que por vezes não passa de um excerto cantarolado, um assobio ou uma sequência de acordes na guitarra e transformar aquilo numa música inteira, com princípio, meio e fim, pronta a tocar em qualquer rádio”, explica.

Nos últimos anos, Bernardo tem trabalhado com artistas como o vareiro Rui Pedro que, no verão passado, lançou um primeiro single pela editora brasileira Midas Music, Catarina Reis e Dannii, ambos de Santa Maria da Feira, e Samuel Correia, jovem de 16 anos que ainda há poucas semanas partilhou com a Aveiro Mag o seu percurso na música.

Ver a música destes artistas reconhecida nas rádios e ouvida na internet é, para Bernardo Libório, “a melhor recompensa” do seu trabalho.

“Até chegar à forma como as pessoas a ouvem, uma música passa por muitos estágios. Por vezes, temos a música praticamente fechada e percebemos que não gostamos nada daquilo. Há que começar tudo de novo”. É, por isso, um sentimento especial, gerador de boas memórias, poder “ouvir uma música na rádio e poder dizer ‘Esta fui eu que fiz’”, partilha o jovem produtor.

De forma a estar devidamente capacitado para compor para diferentes artistas e produzir diferentes estilos musicais, Bernardo sente necessidade de ouvir um pouco de tudo, sem fronteiras de artistas, estilos, texturas ou culturas.

No espetro da música feita em Portugal, Bernardo é um confesso admirador dos HMB, admitindo que trabalhar com a banda de Héber Marques seria “um sonho tornado realidade”. “Gostava de trabalhar com eles. São uma banda que admiro bastante. Vejo ali influências de outros artistas que também aprecio, como o norte-americano D’Angelo”.

Bernardo Libório tem ainda um projeto acústico que, à semelhança do que tem acontecido a tantos outros profissionais das artes e da cultura, tem sofrido com os tempos de incerteza e entraves inesperados que a pandemia veio impor. Feitas as contas, durante o ano de 2020, foram mais de quarenta os concertos que Bernardo viu cancelados. “Em junho, ainda se abriu uma janela de oportunidade para algumas apresentações ao vivo em locais que tinham condições para cumprir as normas da DGS. Quando dei por mim, estava com a agenda cheia novamente, mas em outubro tudo voltou a ser cancelado”, relata Bernardo. “Foi um rombo gigante”, confessa.

Bernardo costuma apresentar-se essencialmente em ambientes privados – hotéis, festas, eventos –, de guitarra à tiracolo e com um reportório eclético à base de interpretações de músicas de outros artistas. “As pessoas não estão lá de propósito para me ouvir. A minha missão é ser um complemento ao ambiente daquela experiência”, esclarece.

Já no que concerne ao trabalho de produção, a verdade é que as exigências de maior recolhimento não vieram impor grandes alterações à sua rotina. “Os produtores musicais trabalham em confinamento há muitos anos”, brinca Bernardo. Notívago assumido (ao que parece, característica habitual naqueles que fazem da transmissão de emoções através do som a sua atividade), o produtor vareiro trabalha, a partir de um “miniestúdio” que instalou na sua casa. “A tecnologia trouxe essa facilidade: posso gravar em casa, posso pedir a um amigo que grave um guitarra em Lisboa ou no Porto e me mande para aqui. Ele já sabe com que qualidade e especificações técnicas eu gosto de trabalhar. Depois, em casa, é só reunir e misturar todo o material para conseguir fazer música”, revela.

Naquele que é o seu mais recente projeto, Bernardo Libório está a preparar uma masterclass em produção musical onde promete ajudar todos quantos queiram aprender a “dar vida a ideias musicais”. “Neste momento da pandemia em que, por um lado, as pessoas não têm tanta disponibilidade financeira e não querem arriscar investir num curso e que, por outro, pode revelar-se profícuo para aprendizagem, decidi avançar com um curso personalizado em que a ideia é focar-me nos problemas, dificuldades e ideias dos participantes”, conta Bernardo.

Nesta aula alargada que alia a teoria à prática, Bernardo vai partilhar os seus conhecimentos e experiência nas várias etapas que fazem parte da produção de um tema, desde uma fase de pré-produção à qual se segue a gravação, edição, mistura e processo de masterização de forma a preparar uma música para as várias plataformas de streaming e divulgação.

Em 2017, o próprio Bernardo participou numa masterclass em produção musical orientada por Hans Zimmer, autor de algumas das bandas sonoras mais icónicas do cinema, como as do filme Gladiador, da saga Piratas das Caraíbas ou do mais recente filme de James Bond. “Não era tão voltada para as necessidades individuais dos participantes”, recorda Bernardo, mas mais vocacionada para a construção de bandas sonoras para cinema, ofício pelo qual o compositor alemão já arrecadou onze nomeações aos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, tendo mesmo vencido o Oscar, em 1995, pelo seu trabalho n’O Rei Leão. A experiência, lembra Bernardo, tê-lo-á ajudado principalmente a “desenvolver a capacidade de encaixar a música certa no tempo certo”.

Ainda que, nos dias que correm, se dedique mais à música para videojogos e ao trabalho de produção e direção musical de autores independentes, Bernardo também já chegou a trabalhar em bandas sonoras para cinema. E já assumiu para aqueles que o seguem nas redes sociais: “Tenho muitas saudades de fazer sound design para cinema”. Se a atual carga de trabalho o obriga a ser cada vez mais seletivo nos projetos que abraça, a verdade é que, aparecendo um desafio cinematográfico interessante, Bernardo não o vai deixar escapar.

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