José Carlos Mota*
A definição da localização de um novo Pavilhão Desportivo deve ser muito bem ponderada pois ela determina o tipo de mobilidade e o modelo de cidade que se deseja promover. Se for central, privilegia-se a deslocação pedonal e em bicicleta e a autonomia dos seus utilizadores (crianças e jovens, sobretudo), indo ao encontro do que são os princípios do urbanismo de proximidade e da descarbonização da mobilidade que têm ganho crescente importância a nível europeu. Por outro lado, caso seja periférica, penaliza-se a vida dos pais e induz-se a mobilidade em transporte individual, sobretudo quando não há alternativa de transporte coletivo (que é o mais frequente), e perde-se a oportunidade de reforçar uma centralidade urbana já existente.
Para garantir um bom planeamento das funções coletivas, o governo criou há anos, através da DGOTDU, um conjunto de normas de dimensionamento e localização de equipamentos desportivos. Nelas sugere-se que estes sejam implantados na proximidade de estabelecimentos de ensino e em posição central face à zona residencial a servir por forma a potenciar a sua utilização e estimular complementaridades.
É pois com preocupação que se recebe a notícia da intenção de construção do Pavilhão Desportivo Municipal no Parque de Taboeira. Sabendo que não é servido por uma rede eficaz de transporte coletivo, esta decisão será um estímulo para agravar a mobilidade em transporte individual, para reduzir a autónoma das crianças e jovens e para penalizar a relação com outros equipamentos. Perde-se ainda a possibilidade de reforçar a urbanidade e vivências de alguns territórios ainda de consolidação urbana frágil, nomeadamente a zona entre o Pingo Doce e as bombas da BP, as traseiras da Estação ou o território das freguesias urbanas de São Bernardo/ Santa Joana que vai ser servido pela via rápida Aveiro-Águeda, como definido no PDM recentemente aprovado.
Parece-me que tendo em conta o investimento previsto (10M euros), este é um tipo de aposta que deveria merecer ampla discussão pública e uma clarificação em sede de instrumento de planeamento do território, até para avaliar localizações alternativas, seja próxima do centro consolidado, seja na “cidade alargada”.
* Docente da Universidade de Aveiro