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Pedro Stattmiller: o arquiteto e artista que procura questionar o ritmo do mundo

Artes

É arquiteto e um explorador de outras artes. Pedro Stattmiller, com 28 anos, cresceu imerso em arte e cultura, com pais que sempre procuraram despertá-lo para a importância de criar e questionar.

Com exposições de fotografia e poesia, poemas publicados em diferentes revistas e uma vontade de continuar a explorar as muitas artes que o compõem, Pedro cria partindo da premissa de que uma obra de arte deve ser capaz de responder ao porquê da sua existência. Move-se e expressa-se, por isso, através da simplicidade – na arquitetura, mas também na fotografia, na escrita e no desenho.

As peças que vai criando ambicionam ser decifráveis por uma “criança de 5 anos ou pela avó de 85” e refletem, muitas vezes, uma preocupação com a rapidez com que o mundo se movimenta, alertando para uma felicidade quase em extinção – a felicidade da espera.

Natural de Aveiro, Pedro habita hoje a cidade onde estudou arquitetura, Porto, e onde agora trabalha como arquiteto. Nas gavetas, agitam-se já novos projetos, novos despertares que passarão sempre por experimentar diferentes coisas em diferentes palcos.

Crescer a procurar questionar

São várias as memórias que guarda de uma infância em que viajar com os pais, que se conheceram no teatro, “significava ir a museus”. Pedro Stattmiller recorda-se, por exemplo, de estar no The Guggenheim Museum, em Nova Iorque, e os pais lhe lançarem o desafio de observar quadros impressionistas a apenas 50 centímetros da tela e, depois, a dez metros. De repente, quando abria os olhos, “via uma paisagem, uma casa, algo interessante. Acho que é uma boa maneira de começar a perceber que, ao ver Arte, nunca se deve ficar por uma primeira visão superficial das coisas. Tudo pode e deve ser questionado”, conta.

Com o tempo, o questionamento não cessou, pelo contrário. Foi sempre um veículo da sua expressão. Chegou a movimentar-se no teatro e na música, é amante de cinema e fotografia analógica e sempre gostou de desenhar. Há não muito tempo, descobriu a escrita e o “prazer gigante quando sentia que escrevia uma ou outra frase que achava que podia ter uma certa especificidade artística”.

Arquitetura e a arte como via para a felicidade

Com a arte sempre muito presente, Pedro, com um “lado científico e racional” não tão direcionado para o estudo académico das Belas Artes, decidiu entranhar-se no vasto mundo da Arquitetura, ingressando no curso na Universidade do Porto. Para isso, mudou-se para a casa da avó no Foco, “um bairro lindíssimo”, em que o simples quotidiano era já “uma aula de arquitetura”. Pôde concentrar-se nos estudos, sem grandes distrações, mas, a parte menos boa, conta, foi não ter optado por usufruir tanto do lado artístico da cidade.

No quinto ano, fez-se ao Chile, para um semestre de intercâmbio que viria a permitir que, de alguma maneira, aprendesse mais facilmente a “sujar-se” no que diz respeito à arquitetura. “Passei para uma escola também de extrema qualidade, mas muito diferente da FAUP, em que cada turma tinha o seu projeto e estilo de representação”.

Podendo voltar atrás, conta, teria apenas tentado entrosar-se ainda mais. Tendo, até aí, não vivido sozinho, no Chile, “ocupava o cérebro com aprendizagens ainda muito básicas”, como aprender a cozinhar ou arrumar a casa. Mas houve outros horizontes a abrir. Ainda na América do Sul, fez, com uma amiga, aquela que seria a sua primeira grande viagem: cinquenta dias no total, vinte e seis deles na Bolívia, o país que, até hoje, mais o fez sentir que estava “a viajar ao passado”.

“Tive sorte – de calendário e biografia – em ter feito uma grande viagem de uma maneira que talvez nunca mais vou voltar a fazer”, conta, recordando os mapas – físicos – e a cadência de um dia a dia sem smartphone.

Depois de um curto período em Portugal, tornou a terras chilenas para um estágio no atelier de Alejandro Aravena que veio, mais tarde, a ganhar um Pritzker Prize, conhecido como o Nobel da Arquitetura.

Na viagem de regresso, trouxe “a importância de dançar”. Começou a ir às noites de forró no Porto, deixou a casa da avó e começou a ganhar algum dinheiro. Pouquinho, diz, mas que permitiu fazer com que percebesse que uma das coisas que mais felicidade lhe trazia “era gastar parte do pouco dinheiro que ganhava a ir a teatro, cinema, exposições”, repetindo, inevitavelmente, as Quintas de Leitura, projeto que diz fazer parte da sua “medicação artística”.

Profissionalmente, seguiram-se o trabalho no Atelier Arnaldo Brito e, depois, no Atelier 15. Aqui, no espaço de Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, diz ter encontrado “uma filosofia de arquitetura completamente única”, de reabilitação e enorme respeito pelo património e “pelas pessoas dos locais onde intervêm”.

“Isso é muito importante”, explica Pedro, “respeitar o passado – porque em arquitetura estamos sempre a lidar com o contacto entre passado e futuro. Futuro esse que está constantemente a transformar-se em passado!”. Prova disso é o Cinema Batalha, cuja reabilitação está agora em curso e para a qual o jovem arquiteto contribuiu de forma exaustiva, numa perspetiva não tão criativa, no sentido de se ter uma tela em branco, mas de execução minuciosa, uma vez que o Batalha por si só era já uma obra de arte.

Agora, encontra-se a trabalhar no atelier B+B Arquitectos, casa de uma equipa jovem que trabalha arquitetonicamente a filosofia de questionar e procurar uma justificação para tudo o que se desenha.

A felicidade da espera

Gonçalo M. Tavares diz que a palavra velocidade nos remete sempre para algo rápido, mas que não tem de o ser. Pedro, que fez com o autor um workshop de Escrita Criativa que o motivou a começar a escrever, concorda – a velocidade pode materializar-se em algo lento ou apressado e a verdade, para o jovem arquiteto, é que “o mundo está muito rápido”.

“Há um tipo de felicidade que acho que está um pouco em extinção”, explica, “que é a felicidade de esperar pela revelação de um rolo analógico, por exemplo. A felicidade de esperar por um episódio de uma série nova. A felicidade de esperar que um livro que estava esgotado fique à venda.” A rapidez atual com que nos movemos “não é feita para a nossa felicidade” e, por isso, importa e urge questionarmo-nos. Refletir sobre a importância da espera. “Acho que somos mais felizes se não cumprirmos parte dos nossos desejos no instante exato em que os desejamos”.

Pedro procura esse desacelerar através da fotografia analógica, dos poemas que escreve, da forma como viaja e se move.

Em 2019, partiu com a namorada para o Sudeste Asiático, onde, em 95 dias, viajaram por seis países e cerca de 30 cidades. Depois de um “grande período de estudo” e, no fundo, “como preparação para a Índia”, viagem que ambos querem fazer, iniciaram o percurso em Kuala Lumpur, Malásia. Seguiram-se Singapura, Tailândia, Laos, Camboja e Vietname. Mas foi no sul do Laos, onde muito poucos encontram interesse, que colecionou dos dias mais felizes da sua vida. Seguindo os conselhos de um viajante português com que se haviam cruzado, Pedro e a namorada fizeram-se a ‘4000 ilhas’, ou Si Phan Don, um arquipélago aninhado no Rio Mekong onde tudo fazia recordar os artigos de uma National Geographic antiga.

Aí, na ilha de Don Khone, onde guarda memórias de passeios de bicicleta com sorrisos impressos nos rostos, “as pessoas eram felizes”, conta, e viviam de forma auto-sustentável, cruzando-se com búfalos, tomando banho no rio, junto às canoas. “Descobri um estilo de vida que imagino ser o estilo de vida de um índio”, diz. “Na Ásia, há um contacto com o chão que faz falta na Europa. Da mesma forma que é muito importante as crianças riscarem paredes, é importante o ser humano andar descalço. A minha felicidade pessoal passa muito por estar descalço”, explica o viajante. Um dos instantes que o fez pensar estar a viver uma história inspiradora das revistas com moldura amarela foi o de, num passeio ao cemitério, ao espreitar para o rio, descobrir que toda a aldeia se havia reunido para ajudar a tirar da água uma pequena embarcação – o instante de ver uma aldeia inteira reunida por um só e tão simples propósito.

No regresso a terras lusas, tinha já uma exposição marcada: Douro Híbrido, um ciclo de arte contemporânea que conjuga a visão de jovens artistas e arquitetos sobre o Douro, mecenado pela Porto Cruz. Pedro fez dupla com a escultora Jéssica Burrinha, desenvolvendo juntos a instalação “In Materia Veritas”, onde um poema sobre a importância de pisar a terra com os pés ia atravessando o chão da sala, abraçando a escultura vertical e rigorosa feita com diferentes tons de terra. “Foi uma junção feliz, onde duas linguagens puderam comunicar sem nunca sair da sua área de expressão”, conta.

Sobre a viagem à Ásia, com as fotografias que foram recolhendo e poemas que brotaram do papel uma semana antes de serem colocados nas paredes, organizou com a namorada uma exposição no Espiga, um Espaço de Imaginação, Gosto e Arte no Porto, com o título “O ponteiro dos minutos serve apenas para palitar os dentes”.

“Em viagem, raramente escrevo”, conta, porque, para o jovem arquiteto, que quer escrever mais, “tudo parte da liberdade condicionada – mesmo quando a condição é o calendário”. E por isso procura formas de se condicionar, inspirando-se em obras e conselhos de quem já o faz. Hoje, com um projeto de “arqueologia urbana” em mãos e a intenção de continuar a explorar a sua criatividade em diversas áreas, Pedro garante, de olhar atento e aberto para o mundo, que se avizinham aventuras entusiasmantes.

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