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Os dramas de quem é refém do turismo numa cidade que podia ser Aveiro

Artes

Sábado, dia 9 de julho, o Teatro Aveirense recebe “Turismo”, de Tiago Correia, uma peça que teve na gentrificação, na especulação imobiliária e no fluxo turístico desregrado – fenómenos que afetam cada vez mais comunidades em Portugal e no sul da Europa – os grandes impulsos para a sua criação.

Gentrificação. Este “palavrão”, que tem vindo a impor-se no nosso vocabulário sem pedir licença, descreve o processo de valorização imobiliária de determinada zona urbana, muitas vezes motivado pela pressão turística, que empurra residentes e comerciantes com menor poder económico para locais periféricos, de forma a poder acolher proprietários, visitantes ou investidores com maior prosperidade. Tiago Correia é natural de Tomar, mas vive no Porto há mais de 15 anos, tendo assistido à “veloz e repentina transformação” que a cidade tem sofrido por conta deste fenómeno. “Na altura em que comecei a desenvolver o projeto ‘Turismo’, todos os dias aparecia um novo episódio de alguém que tinha sido despejado da sua casa ou cuja renda tinha aumentado para o triplo; mesmo ao lado do local onde escrevia a peça, um prédio estava a ser demolido para construir mais um hotel”, conta o dramaturgo e encenador, em entrevista à Aveiro Mag.

Se vivências como estas deram o mote para a criação desta peça, houve uma “situação dramática que marcou o processo de desenvolvimento deste espetáculo de forma ainda mais incontornável”: um incêndio criminoso, ateado por ordem de um investidor impaciente, que consumiu um prédio habitacional na zona do Bolhão, em pleno coração da cidade, e vitimou um dos residentes. Depois de semanas de tentativas de intimidação dos inquilinos, o objetivo era conseguir esvaziar o edifício onde ainda vivia uma família.

A pesquisa, contudo, não se desenvolveu só no Porto – também passou pelo Algarve e por Barcelona, por exemplo –, pelo que não pode dizer-se que esta peça seja sobre o Porto, nem sequer sobre cidades portuguesas. “A história passa-se numa cidade anónima onde cabem outras cidades servidas por companhias aéreas de baixo custo e que têm visto os seus centros históricos esvaziados de moradores e atestados de turistas”.

Ora, tendo como cenário esta cidade anónima, “Turismo” conta a história de uma jovem que veio morar para a cidade em busca do sonho de ser atriz e, na verdade, “faz tudo menos isso”. “Alugou uma casa no centro histórico, mas, para conseguir pagar a renda, trabalha num quiosque de manhã, faz visitas guiadas à tarde e, por vezes, às escondidas, ainda subaluga a casa a turistas. Parece condenada a não conseguir seguir o seu sonho”, relata Tiago Correia. O senhorio – outro dos protagonistas da peça – é um polícia de meia-idade que foi viver para os subúrbios com a mãe – uma senhora de idade avançada e com a doença de Alzheimer – de forma a poder arrendar a casa da família no centro histórico da cidade. “Também o polícia é servo do fenómeno turístico. A missão dele é limpar a imagem da cidade para quem vem de fora. Abandonou o centro histórico onde sempre viveu para alugar uma casa mais barata na periferia e daí conseguir tirar alguns rendimentos que lhe permitissem custear as despesas de saúde da mãe, proporcionando-lhe um final de vida digno. Só que, ao fazer isto, está a privar a mãe daquilo que ela realmente mais gostaria: morrer na casa onde nasceu e cresceu”, continua o dramaturgo e encenador. Um investidor, um turista francês “de visita à cidade para tentar aliviar as suas próprias crises pessoais” e uma mulher vítima de um despejo criminoso completam o elenco.

Com, aproximadamente, 140 minutos de duração, a peça resume “três dias alucinantes”, nos quais “as personagens não dormem na ânsia de conseguirem garantir condições de vida mais dignas e mais justas”. “Todos estão a ser prejudicadas por esta obsessão turística e pelas transformações que a cidade está a sofrer. Veja-se o caso do polícia: apesar de ser senhorio da jovem, também ele está numa situação limite. Isto para mostrar que, entre inquilinos, senhorios e turistas, a peça não vilifica uns ou outros. A situação é suficientemente complexa para que seja o espectador a escolher o seu lugar”, explica o autor. “Não há bons nem maus”, acrescenta, salvaguardando, todavia, o caso do “poderoso investidor”, cuja ambição é a de “moldar a cidade aos seus próprios interesses”. “Não é que ele seja o vilão da história, mas é uma personagem que se aproveita das fragilidades das outras para conseguir delas aquilo que quer”, concede Tiago Correia.

A expectativa do regresso a Aveiro

Foi, precisamente, com uma leitura dramática de “Turismo” que, em janeiro de 2020, o Teatro Aveirense e o GrETUA inauguraram o ciclo “À Boca de Cena”, um conjunto de sessões de leitura e conversa entre o público, artistas e autores. “Uma experiência espetacular”, lembra Tiago Correia, confessando estar “ansioso por voltar a Aveiro”, desta vez, para apresentar o projeto em palco. Até porque, assegura, a peça “também fala de Aveiro”. “Fui buscar algumas coisas, algumas delas bastante subtis, ao conhecimento que tinha sobre esta cidade”, partilha sem desvendar mais pormenores. “Espero que as pessoas se identifiquem com a história e consigam entender a ironia presente em todo o discurso”, confessa Tiago, alertando para o facto de “apesar de falar de cidades” e destes fenómenos que as ferem e descaracterizam, esta é “uma peça sobre relações humanas”. “Interessa-me que a peça não morra aqui, que possa continuar a falar das relações humanas daqui a 100 ou 200 anos e que continue a ecoar em Portugal e noutros países”, conclui.

“Turismo” sobe o palco no próximo sábado, às 21h30. Os bilhetes estão à venda na Ticketline e na bilheteira do Teatro Aveirense.

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