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Pizzarte: o verdadeiro segredo, para além da qualidade da comida

Artes

Aveiro tem no seu âmago várias marcas que lhe são indissociáveis, que quando pensamos na cidade e nas coisas que a diferenciam, vêm logo à cabeça. A Pizzarte é, sem qualquer dúvida, uma delas. O que faz uma casa ter sucesso depois de 34 anos? Qual é o verdadeiro segredo, para além, como é óbvio, da qualidade da comida?

A conversa com Jorge Castelhano veio nesse sentido. E as histórias multiplicaram-se, os momentos únicos também, e aquela que é a “cara” mais visível do projeto explica, sem segredos nem pudores, o que considera ter sido diferenciador ao longo dos anos, mas sempre com uma questão bem em mente: nada seria possível sem o apoio e a dedicação de uma equipa de trabalho inexcedível. Os de hoje e os de sempre.

Foi coincidência a Pizzarte ter sido inaugurada num 25 de abril (de 1987) ou uma forma de marcar, desde logo, uma posição?

Foi coincidência porque, sinceramente, só nos apercebemos disso uma semana depois! A ansiedade e os preparativos finais para abrir tomaram conta das últimas semanas e, nessa altura, nem sabíamos os dias. Quando tivemos tudo pronto, abrimos! Só depois é que nos chamou a atenção o facto de ter sido num 25 de abril.

Foi uma decisão fácil abrir uma pizzaria na Aveiro dos anos 80?

Quando se decidiu que se iria abrir um restaurante, ser pizzaria foi uma escolha natural. Até chegar a essa decisão, é que custou mais um bocadinho!

Como assim, que dificuldades foram essas?

Somos do tempo em que o serviço militar era obrigatório e o meu irmão, mais velho, depois desse período, foi para a Marinha durante dois anos e três meses e, por isso, saímos os dois praticamente ao mesmo tempo. Desde sempre que queríamos abrir um bar. Só que o meu pai, com experiência de comissário de polícia e sendo muito assertivo, disse-nos: “Querem que invista em vocês e não têm formação nenhuma? Pensam que é só tirar finos? Tenham juízo e vão estudar”. E nós fomos.

Foram estudar para onde?

Fomos para Vidago, um pólo da escola de Hotelaria do Porto, que era mesmo no hotel, o que foi muito importante porque tínhamos as aulas teóricas, mas também tínhamos, diariamente, a prática, pois fazíamos serviço no hotel. E quando acabou, dois anos depois, alguns de nós, que éramos cinco, tinham tirado o curso de “Mesa e Bar” e outros em “Cozinha e Pastelaria”, e fomos todos fazer estágios.

A Pizzarte veio a seguir?

Não. O meu pai era persistente nas suas convicções. Ainda nos disse primeiro: “Agora é altura de ganhar experiência”. E nós lá fomos. Não estava nos planos, mas só mais tarde é que percebemos que fazia sentido. Eu fui convidado para a escola hoteleira tirar formação para formador e o meu irmão para um restaurante privado do Porto. Um ano letivo cumprido e fomos os dois para Vilamoura. Arranjamos trabalho e, em meados de agosto, o meu pai telefona e disse que estava disposto a ajudar-nos. Chegámos a casa e ele não concordou com a ideia de um bar porque achava que ia dar só problemas e que só alinhava se fosse um restaurante.

Com essa decisão tomada, acredito ter sido arriscado optar por uma pizzaria…

Para nós tinha de ser algo do género, diferenciador. As pizzarias tinham surgido sensivelmente dois anos antes, no Porto e em Lisboa, e como nós gostávamos, decidimos avançar. O nome surgiu num “brainstorming” com o meu pai e o meu irmão, e a primeira ementa, que ainda perdura na sua essência, com a ajuda de um amigo, que veio de Itália e nos trouxe algumas de lá, que deu para escolher. A aposta foi na massa fina porque era a que preferíamos e correu bem, porque na altura, a experiência de comer pizza era diminuta em Aveiro. Quem experimentou gostou sempre, o que facilitou.

Como foram os primeiros tempos?

Desde sempre que optámos por ter um estilo mais leve, onde quem aqui trabalhava, e primeiros éramos só cinco, tinha uma forma de ser mais… desprendida. Ainda hoje é assim, temos sempre uma imagem leve, onde ninguém anda de farda. Nunca as usámos. E se calhar por isso, é que a nossa primeira grande clientela, foi a malta criativa, os artistas. Chegámos, inclusivamente, a ter o GrETUA a ensaiar onde hoje é o bar, durante seis meses, quando a sala deles entrou em obras e ficaram sem sítio. Como estavam sempre por aqui, foi natural. Vem daí, desde praticamente o berço, a nossa ligação às artes.

Essa ligação às artes e à criação tem sido, também, no que é o estilo da Pizzarte, uma outra imagem de marca?

Sim, também de forma deliberada. Quem nos fez a primeira imagem foi um decorador do Porto que hoje é um dos maiores em Portugal, Paulo Lobo, e a partir daí o Pedro Andrade, há 33 anos, que é artista plástico, de Aveiro. De lá para cá foram muitas as remodelações, porque sempre defendemos que é importante mudar e, se possível, estar um passo à frente.

Houve uma altura em que na Pizzarte havia um bar, puro e duro?

A abertura do bar foi um momento muito marcante, de um restaurante que passou a ter um bar. Até às onze da noite, era restaurante e, depois, até à uma da manhã, um bar. Na altura, em 1989, não existia um conceito de bar em Aveiro. Fomos os primeiros, tirando, se calhar, em embrião, o Autocarro Bar, que também perdura. O Delfim Sardo, hoje, diretor do CCB, decorou-o com o Pedro Andrade. Foi um sucesso, era gente até às quinhentas! Só que havia tanta, mas tanta confusão, que o Governador Civil nos reduziu a licença para a meia-noite e depois de tantas queixas acabou por encerrar. Por um lado, essa decisão foi benéfica, porque deixou de se bar puro, para poder ser um prolongamento do restaurante e passámos a ter espaço para receber grupos.

Outra das particularidades da Pizzarte é, sem dúvida, o xadrez. Não é uma dor de cabeça com tantas crianças e tanto barulho?

Não, não é. As peças de xadrez surgiram porque no início tínhamos muita gente que jogava. Mas como só o faziam à noite, durante o dia passou a ser quase em exclusivo utilizado pelas crianças, o que acabou por ser, se calhar, o primeiro passo para que este espaço se tornasse transversal e que a clientela se solidificasse. Primeiro vinham aqui como crianças, depois como jovens, a seguir como jovens adultos e, agora, trazem os filhos. Nunca pensámos, há 34 anos, que tal viesse a acontecer, mas hoje, deixa-nos orgulhosos. É sinal de que temos feito as coisas bem.

O que é certo é que a Pizzarte pode ter todos esses ingredientes, mas se a comida não for boa, não há casa que resista. Qual o segredo?

Eu acredito que é pelo facto de que não temos a necessidade de impingir nada a ninguém, e o cliente sente-se confortável na escolha. Pelo conceito de comida não temos essa necessidade, o que é uma vantagem. Quem vem à Pizzarte sabe o que aqui existe e o que quer comer. Temos uma carta que sofreu, na sua base, poucas alterações desde a sua génese. Era na altura uma ementa básica, com saladas, pizzas e crepes salgados. E uma sandes de pão de avó, uma espécie de ceia, servido após o jantar, com os ingredientes do que é hoje o Piccolo. Fomos, depois, diferenciadores com o conceito de poder construir a pizza com os ingredientes que mais gostam.

E um cliente que não conheça a ementa, qual a sugestão do chef?

Um cliente que não conheça e pergunte, por norma, as instruções que damos, é que aconselhem as que são as mais consumidas, que também vão mudando ao longo dos anos. Agora, por exemplo, nas pizzas, é a Brava, a Havaiana e as Quatro Estações. Mas já foi a Dolce Vita e a Capriciosa. Nas massas, a Carbonara teve o seu apogeu e agora as escolhas incidem na Pizzarte e na Nero.

Alguma vez se arrependeram de ter aberto a Pizzarte? Agora, por exemplo, nestes confinamentos?

Na verdade, nunca houve falta de confiança na aposta, nem no início. Fomos adotados pela comunidade artística e depois sempre acreditámos no que fazíamos. Nunca passámos a barreira de chegar ao ponto de dizer que se fez asneira. Tivemos momentos complicados sem dúvida, principalmente em 1992, na altura em que com a crise, a economia ficou mesmo parada. Se houve algum momento que nos deixou apreensivos foi esse.

Uma palavra final é dedicada a quem?

Ao staff desta casa. O de agora e os que, em algum momento, por aqui passaram. Sempre fomos diferentes e, acredito, fraturantes no conceito. Recordo-me, um dia, o Mac Adhu apareceu aqui com um cabelo puxado e uma espécie de palmeira em cima da cabeça e perguntou se havia problema de estar assim. Nunca foi um problema para nós. E foi esta dinâmica, este “modo de vida” que nos fez e que, por isso, não queria que passasse em claro. Se somos o que somos é porque todos os que aqui passaram, souberam sempre desempenhar a sua parte, e estamos agradecidos.

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