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Inês Filipe: “Sou melhor recebida lá fora do que em Portugal”

Artes

Inês Filipe cresceu na Gafanha da Nazaré e, durante vários anos, encarou a música como um mero passatempo. Dá-se que os seus pais, que consideraram a educação musical como vantajosa para o desenvolvimento dos filhos, da mesma forma que já tinham feito com o irmão mais velho, incentivaram Inês a ter aulas de música e a aprender a dominar um instrumento. Ainda assim, ao recordar estes anos fundadores – a infância e os primeiros tempos de adolescência – Inês reconhece ainda ser “um bocadinho desligada do mundo da música” naquela altura. “Tinha colegas que colecionavam todos os CDs do seu artista ou banda favoritos, que sabiam músicas inteiras de cor e salteado. Eu não tinha esse fascínio”. Só mais tarde - “bastante tarde, para o que é habitual” – é que a jovem entraria para o Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Aveiro.

Tanto que, ao chegar o derradeiro momento de decidir que caminho tomar no ensino superior, a música não foi sequer opção a considerar. Nascida numa “família de engenheiros”, Inês optaria por engenharia civil, na Universidade de Aveiro, ao mesmo tempo que prosseguia estudos em piano no Conservatório, na classe da professora Isabel Patrícia Sousa.

Inês completa o curso universitário, mas não chega a lançar-se na profissão já que a música, entretanto, sobrepusera-se a tudo o resto: “Olhando para trás, acho que o clique se deu quando participei na Semana Internacional de Piano de Óbidos e venci essa competição”, aponta.

No mesmo ano em que termina engenharia civil, Inês envereda pela licenciatura em Música, também na Universidade de Aveiro, sob orientação do professor Fausto Neves. É importante notar que a jovem pianista viria ainda a garantir uma pós-graduação em performance de piano em Barcelona (Espanha), a concluir um primeiro mestrado em Cosença (Itália) e a lançar-se num segundo, desta vez, em ensino de música, na Universidade do Minho, em Braga, formação que frequenta atualmente.

Ao conversar com Inês Filipe, percebe-se que arrecadar aquele “Prémio Antena 2” na 17.ª edição da SIPO – Semana Internacional de Piano de Óbidos –, em 2012, perante um painel de jurados do qual faziam parte nomes prestigiados como Boris Berman, Luiz de Moura Castro, Josep Colom ou Paul Badura Skoda, “foi, sem dúvida, um ponto de viragem” no seu percurso. “Ter vencido esse concurso ajudou a abrir muitas portas e fez com que eu percebesse que seguir uma carreira ao piano era não só possível como algo que valia a pena”. O galardão valeu-lhe um recital a solo, na edição seguinte do festival, que seria transmitido, em direto, pela rádio patrocinadora. Apesar de, na opinião de Inês, ter sido “o mais importante”, este está longe de ser o único certame onde a jovem pianista se destacou. Do seu palmarés destacam-se, por exemplo, o Prémio Nacional Elisa Pedroso e o Prémio Interpretação Frederico de Freitas, prémios no VII Concurso Internacional de MúsicaPaços Premium e no XV Concurso Internacional Cidade do Fundão, bem como diversas distinções em competições nacionais e internacionais nas quais participara, ainda estudante, em representação do Conservatório de Música de Aveiro.

Como intérprete solista, Inês já se apresentou “no Museu do Oriente, no Museu Nacional de Música, no Museu Nogueira da Silva, no Ciclo de Concertos de Coimbra, no Festival Internacional de Música de Marvão”, tal como em países como Espanha, Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Bélgica ou Tailândia. Alguns dos seus recitais mais recentes tiveram lugar do outro lado do Atlântico, no Panamá e na Costa Rica. “Foi a minha primeira experiência na América Latina. Comecei no Panamá e logo com um concerto a solo no Teatro Nacional, a sala mais emblemática e imponente em que já toquei. É um daqueles teatros neoclássicos, com 800 lugares, que corresponde ao nosso imaginário. Uma sala muito bonita. Além disso, o concerto estava lotado”, conta, satisfeita. “Dei algumas masterclasses e parti para a Costa Rica onde fiz três recitais e mais algumas masterclasses”. Esta oportunidade de visitar a América Latina terá surgido – conta a jovem – por via de um professor costarriquenho que acompanhou a participação de Inês numa competição internacional em Granada (Espanha), em 2017.

Seja no majestoso palco de um Teatro Nacional do Panamá repleto de gente ou num modesto auditório onde só caibam algumas dezenas de pessoas, há algo que não muda: “Aquele nervosismo desafiante que se sente antes da atuação nunca se perde. Não há nenhum concerto que eu faça em que não haja nervos associados, é um stress antes de subir a palco. Mas é bom, é sinal de responsabilidade e da vontade de superação pessoal”, afirma.

“Versatilidade” é, provavelmente, a mais evidente característica dos repertórios de Inês Filipe. Confessa apaixonada pela composição francesa – “ Ravel, Debussy e Poulenc” – e pela “obra de Prokoviev”, Inês nunca hesita em exercer um papel ativo na divulgação da música contemporânea portuguesa. “Dentro da música erudita, tento sempre incluir peças de compositores portugueses como Armando José Fernandes, Lopes Graça, António Fragoso ou Frederico de Freitas”, enumera a jovem pianista. “Esforço-me por criar recitais com contrastes de diferentes sonoridades, sem nunca esquecer as composições de autores portugueses”. A apreciação do público parece não ser unânime: “ Lopes Graça, por exemplo, são complexas e muitas vezes, aqui em Portugal, as pessoas estranham-nas, acham-nas difíceis e acabam por não gostar. É curioso que nestes concertos na América Latina foi exatamente o compositor que o público mais gostou. Talvez, precisamente, por ser tão diferente”, supõe Inês Filipe, assegurando que continuará a levar a palco o melhor que se cria em Portugal no contexto da música erudita.

“E ainda estou envolvida num novo projeto, que virá a público nos próximos meses, em que maioritariamente tocamos obras de compositores portugueses”, acrescenta. “Se eu já achava importante , este projeto ainda veio realçar mais essa dimensão. É fundamental darmos relevo à cultura portuguesa”. Inês refere-se ao projeto Trio de Damas: três pianistas de referência em Portugal – Olga Prats, Helena Sá e Costa e Nella Maíssa – são interpretadas por três pianistas da nova geração, – Inês Filipe, Jill Lawson e Taíssa Cunha, respetivamente. Trata-se de uma iniciativa de “homenagem a três grandes pianistas que se salientaram por inúmeras estreias de obras portuguesas, por trabalharem com compositores portugueses e que deram a conhecer muitas obras portuguesas no estrangeiro”, desvenda Inês.

Não é fácil fazer vida da música erudita em Portugal. “É mais fácil tocar lá fora. Por cá, ainda há preconceito quanto a este tipo de música, um estigma difícil de contrariar. Sou melhor recebida lá fora do que em Portugal, ainda que, provavelmente, isso seja um mal geral. Já ouvi outros pianistas comentar que sentem o mesmo relativamente aos países deles. Só depois de tocares ou estudares lá fora é que começas a ter algum reconhecimento no teu país, independentemente de teres evoluído ou não a tua técnica”, lamenta. Inês reconhece que o universo da música erudita ainda é muito elitista, mas ressalva que “esse elitismo advém do facto de não educarmos as pessoas para ouvir vários estilos de música”. Apesar de acreditar que, nos últimos anos, “o cenário tem vindo a mudar para melhor”, é da opinião que os agentes culturais, salas de espetáculos e autarquias locais continuam a programar pouca música erudita. “Deve haver lugar para todos ”, defende a pianista, habituada a ouvir que “a música clássica não vende” ou que “as pessoas não gostam de música clássica”. “Ora, se não se programa música clássica, as pessoas, mesmo que queiram, não podem experimentar e cria-se um círculo vicioso. Se as pessoas não tiverem forma de se expor a determinado produto cultural, nunca vão gostar dele, seja ele qual for”, argumenta.

Para o futuro, Inês pretende “continuar a dar aulas, algo que já faço há muitos anos e que gosto muito” e ambiciona “poder tocar em diferentes salas de espetáculo, espaços arrebatadores e que me fascinem, e para o mais variado público”. “Se puder tocar mais vezes em Portugal, melhor ainda”, admite.

*Fotos: Daniel Ribeiro

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