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Jogos do Helder: Diversão, educação e criatividade

Sociedade

Num mundo cada vez mais digital, onde o lazer é frequentemente solitário e mediado por ecrãs, Helder Sucena encontrou uma forma única de unir pessoas através do jogo.

 

Helder Sucena nunca imaginou que a sua vida mudaria de forma tão radical. Licenciado em Gestão, este aguedense trabalhou durante cerca de cinco anos numa empresa de importação de madeiras, até que decidiu criar a sua própria empresa no mesmo ramo. Em 2008, vivia um período de grande crescimento, mas a crise financeira internacional abalou profundamente o negócio. Em pouco tempo, Helder viu-se forçado não só a pedir a insolvência da empresa, mas também a sua insolvência pessoal. O impacto foi devastador. Perdeu a casa, desfez-se de bens para poder continuar a sustentar a família e teve de enfrentar a angústia da incerteza de que conseguiria suportar os custos do ingresso da filha mais velha no ensino superior. “Foi das coisas mais dramáticas por que já passei”, reconhece, em entrevista à Aveiro Mag.

Incentivado pela esposa, Helder começou a vender licores e compotas artesanais num mercadinho mensal, em Águeda. Afinal, qualquer oportunidade, por mais improvável que fosse, podia bem tornar-se tábua de salvação. Mas Helder sabia que precisava de algo mais para atrair o público. Resolveu, então, construir um “jogo do burro” – inspirado num jogo tradicional jogado nas tascas do Norte do país, é composto por um tabuleiro dividido em casas com diferentes pontuações para o qual os jogadores lançam umas moedas de madeira na tentativa de acumular pontos – com uma variação estratégica inusitada: quem acertasse em determinada casa ganhava uma prova do licor. A experiência foi um sucesso. O jogo atraiu a curiosidade dos visitantes e o entusiasmo de Helder, a espontaneidade e o discurso empolgado contagiavam todos à sua volta. “Depois daqueles momentos de competição e alegria, quase todos acabavam por comprar alguma coisa”, conta.

Aquele “jogo do burro” foi o primeiro que Helder Sucena construiu – e, curiosamente, o único que vendeu: “não tinha intenção de vender, mas um senhor insistiu tanto e eu estava tão aflito de dinheiro que lá lhe vendi o jogo”, recorda –, mas rapidamente percebeu que, para manter o interesse do público, precisava de novidades constantes. “Comecei a pesquisar jogos tradicionais e encontrei um antigo desafio medieval. Recriei-o e chamei-lhe ‘Esburacado’” – neste jogo de perícia, os jogadores precisam de guiar uma bola até ao topo de uma prancha de madeira esburacada usando apenas duas cordas e evitando que ela caia nos buracos. Helder lembra que “este novo desafio atraiu ainda mais gente”, consolidando a convicção que havia ali um caminho a percorrer. 

Assim nasceram os Jogos do Helder. Instalado na antiga oficina do pai, começou a construir jogos de madeira que resgatam a tradição de interação entre as pessoas. Todos os jogos – Helder estima já ter construído mais de 150 – têm um elemento comum: são tecnicamente simples, mas engenhosos. Há jogos que testam a pontaria, jogos que exigem delicadeza, jogos que pedem vigor, jogos que não dispensam o trabalho em equipa e outros que ajudam a desenvolver a motricidade, o pensamento lógico e a paciência. Num mundo em que as crianças estão habituadas a passatempos digitais instantâneos, Helder acredita que estes desafios ensinem perseverança. “Ao depararem-se com um desafio, muitas crianças desistem na primeira tentativa, mas ao explorar outros jogos, encontram um em que conseguem ter sucesso e isso faz com que ganhem confiança para tentar novamente”, observa. É, aliás, por isso que Helder nunca leva menos de doze jogos para um evento. “Essa diversidade ajuda a garantir que há um jogo para cada tipo de habilidade”, justifica.

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Há jogos inspirados tradições de diversas regiões, antigos brinquedos e até mesmo em experiências científicas. Alguns surgiram na sequência de reptos específicos, como os “jogos sobre as tradições ligadas ao arroz” que Helder desenvolveu para o festival “Dou-te o Arroz”, em Ulme, Chamusca, ou aqueles que criou para o festival Rádio Faneca, em Ílhavo, na altura da pandemia – desafiado a criar jogos que pudessem ser jogados apenas com os pés, desenvolveu um circuito inteiro adaptado às restrições da época. Noutra ocasião, instigado a criar jogos sobre o tema da sustentabilidade, elaborou uma “Ponde das Gerações”, uma estrutura inspirada na ponte de Da Vinci, que permitia que as famílias construíssem uma estrutura mais alta do que elas próprias, reforçando a ideia de que o que fazemos hoje impacta o futuro.

Para Helder, os jogos não são apenas uma forma de entreter, de passar o tempo, mas podem servir como meio para educar e unir pessoas. Em 2013, num evento dinamizado pela Santa Casa da Misericórdia de Águeda, Helder deparou-se com “uma senhora de idade, com problemas de locomoção, a quem havia caído uma bola durante um jogo”. Para espanto de todos, ao ritmo e com a agilidade que a idade e a saúde lhe ofereciam, a ansiã baixou-se e apanhou a bola, continuando a jogar. “Se fosse uma sessão de fisioterapia, mandava o terapeuta passear, mas o contexto do jogo faz toda a diferença”, comenta Helder, bem-disposto. A experiência inspirou o "Ganhar Sorrisos", um projeto voltado para o público sénior que tem feito com que Helder leve jogos para lares, incentivando o exercício físico e cognitivo.

 

Com o passar dos anos, a demanda pelos Jogos do Helder cresceu. No verão, é comum encontrá-los em festivais culturais, mostras tradicionais e eventos de rua de Norte a Sul de Portugal – em 2024, por altura do Dia Mundial da Criança, mais de uma centena de jogos estiveram espalhados pelo território nacional, de Ponte de Lima até Lagoa. No inverno, quando a agenda de eventos acalma, é tempo de se dedicar à criação de novos jogos. Entre as suas invenções mais curiosas estão três bicicletas insólitas: “uma bicicleta em que as rodas têm eixos independentes, uma em que o quadro gira e, a mais alucinante de todas, uma que avança quando se pedala para trás e vira para o lado oposto ao da direção do guiador”, descreve.

O sucesso do projeto poderia tê-lo levado a transformá-lo em um simples negócio de construção e aluguer de jogos, mas Helder continua fiel à sua essência: um projeto social, educativo e intergeracional. É difícil, ainda assim, explicar os Jogos do Helder em palavras. Mais do que simples brinquedos de madeira, cordas e tubos pintados de cores berrantes, são experiências que reúnem pessoas, criam memórias e provam que, muitas vezes, é no meio das maiores dificuldades que se encontram os caminhos mais gratificantes.

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