AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

Fernando Batista: “Foi a partir da brincadeira que me tornei mais sério”

Sociedade

Curioso como uma entrevista sobre riso e felicidade também nos consegue deixar, num ou noutro momento, com a voz embargada. Sem perder o sorriso, mesmo quando se fala da morte, Fernando Batista, de 50 anos, reconhece que chorar também faz parte desse grande jogo que é a vida. A tristeza também. A melhor forma de as fintar? Rir e sorrir. Por mais forçada que seja a gargalhada, o seu poder é enorme. “Através da gargalhada conseguimos ter efeitos psicobiológicos no corpo e isto gera coisas positivas”, garante-nos o homem que diz ter conseguido “crescer, enquanto pessoa, com o riso”. “Foi a partir da brincadeira que me tornei mais sério. Não o sério de sisudo. Sério de equilibrado, de levar alegria aos outros”, conta o risoterapeuta natural da Ponte de Vagos, uma aldeia do sul do município vaguense. Pensou ser missionário, depois padre, mas o destino tinha-lhe reservado uma outra forma de ajudar as pessoas: ser criador de sorrisos.

Deixou a sua aldeia aos 11 anos para ir estudar no seminário, nesse tempo em que “Viseu era tão longe que só dava para vir a casa nas férias”, recorda. Por essa altura, conta, “sonhava ser missionário”, embalado “pelo espírito da aventura” que o acompanhava desde “pequenito”. Esteve quatros anos em Viseu, regressou a Vagos e depois de concluído o 12º ano rumou ao Porto para estudar Teologia na Universidade Católica. “Fui estudar para a Católica sem dinheiro nenhum. Os primeiros 15 dias vivi a pão e água”, relata, sem perder o sorriso. Graças a uma freira salesiana, foi viver com uma senhora, de 84 anos, que ainda hoje lhe deixa saudades. “Era fantástica. Era pintora, escultora - conheci, por intermédio dela, o Júlio Resende - e aos 84 anos vinha trazer-me a Vagos, no seu Opel Corsa”, relata.

Deixou o curso de teologia temporariamente de lado - só viria a licenciar-se mais tarde - e quando voltou à sua terra natal fez de tudo um pouco. “Quando saí dos salesianos fui trabalhar para as obras, com o meu irmão, e também fui vendedor. Até que comecei, depois, outra vez a estudar. Ia todos os dias para o Porto, estudar à noite, Ciências Religiosas. Isso permitia-me trabalhar durante o dia”, testemunha. “Trabalhava na Irbal, em Nariz, levantava-me à 6 da manhã e deitava-me à 1h00. Durante um ano foi a minha vida. E estudava no meu Renault 5, à hora de almoço, em frente à fábrica. Enquanto comia da minha marmita, estudava. Foi um ano fantástico”, recorda, mais uma vez, a sorrir.

Um esforço que o conduziu à profissão que ainda hoje abraça. E com orgulho. Fernando Batista é professor de Religião e Moral no agrupamento de escolas de Águeda Sul. Por essa altura, já tinha encontrado as certezas que procurava. Chegou a equacionar ser padre, mas depois de casar, e consecutivamente constituir família, percebeu que não era essa a missão que lhe estava destinada.

A paternidade e a risoterapia

O despertar para a risoterapia (terapia do riso) coincide com o nascimento do seu primeiro filho - tem dois, um de 15 e outro de 9 anos. “Pensei: como é que vou ser pai? Não sei ser pai. Então, decidi procurar ferramentas que me ajudassem a ser pai e ao mesmo tempo melhor professor”, introduz. Começou por fazer formação na área do coaching, publicou o livro “Sucesso da escola, êxito da vida” e acabou por entrar na área da risoterapia através da ioga do riso. “Fiz a formação em ioga do riso e foi um fim de semana que alterou completamente a minha vida”, declara. Estava dado o primeiro passo para uma aventura que o tem levado a percorrer o país, de lés a lés, sempre a arrancar sorrisos.

Em 2016, Fernando Batista fundou a Mais Feliz, a associação que lhe tem permitido materializar e organizar esta missão para a qual parecia estar destinado. A pedalar a Bicicleta dos Sorrisos - projeto distinguido com uma menção honrosa nos prémios de Boas Práticas de Envelhecimento Ativo e Saudável na região Centro - ou ao volante da Carrinha dos Sorrisos, Fernando e a sua equipa não poupam esforços para arrancar gargalhadas e contribuir para a felicidade dos que vão encontrando pelo caminho.

Fazer a magia acontecer

Em lares, fábricas ou domicílios, a ideia é fazer a magia acontecer. “Pessoas a quem realizámos os sonhos, pessoas que não foi fácil que começassem a rir”, exemplifica o terapeuta que gosta de trabalhar com as pessoas mais velhas. “São de riso fácil, não têm aquele medo do ridículo tão vincado, que nos aparece ali na adolescência. Eles já estão a marimbar-se e têm riso fácil em 98 % das vezes. Também gosto de trabalhar com os adultos. Os que estão em chão de fábrica, na linha de produção, são menos fáceis de rir do que os que estão em escritórios. E também trabalhamos em escolas e nas paróquias, neste caso com grupos de rezar a rir”, especifica.

Não lhe faltam histórias para contar. Memórias que o tempo jamais conseguirá apagar. Como a do Gonçalo, o menino que viria a participar numa das suas sessões de risoterapia numa escola de Vieira de Leiria, aos 9 anos. “Passados dois anos, recebi um telefonema de uma senhora a dizer que o filho tinha feito uma sessão de risoterapia comigo, guardava ainda o nariz vermelho na mesa de cabeceira, e agora, aos 11 anos, descobriu que tem cancro na boca e gostava que eu fosse fazer risoterapia no dia do batizado dele. Caiu-me tudo. Deixou-me atordoado”, recorda. Fernando não só foi fazer risoterapia no dia do batizado dele, como até voltou à sua casa por variadas vezes. “Chorámos, rimos. O Gonçalo reaprendeu a sorrir durante a doença dele”, nota. Viria a falecer na passagem de ano de 2021/2022, mas nem essa lembrança é capaz de roubar o sorriso a Fernando Batista. “A tristeza faz parte da vida, mas não podemos ficar presos a ela”, repara. “Consegui fazer com o Gonçalo tudo o que me era possível fazer. E isso deixa-me feliz. Rimos muitas vezes juntos. Recordá-lo com um sorriso no rosto, mesmo estando cheio de dores, foi uma grande lição de vida”, remata.

Para o homem que sonhou ser missionário e padre, o mais importante de tudo é melhorar a vida das pessoas. “É aí que eu me sinto como peixe na água. Sinto que faço a diferença na vida das pessoas, ajudando-as a reequilibrarem-se e dando-lhes ferramentas para elas usarem no dia-a-dia para se reequilibrarem”, vinca.

Automobilia Publicidade

Apelo a contribuição dos leitores

O artigo que está a ler resulta de um trabalho desenvolvido pela redação da Aveiro Mag. Se puder, contribua para esta aposta no jornalismo regional (a Aveiro Mag mantém os seus conteúdos abertos a todos os leitores). A partir de 1 euro pode fazer toda a diferença.

IBAN: PT50 0033 0000 4555 2395 4290 5

MB Way: 913 851 503

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.