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joãozero: “A minha fotografia é decididamente para os outros”

Artes

A próxima exposição individual de joãozero é inaugurada no dia 17 de fevereiro (sábado), às 17h30, na galeria Nuno Sacramento, em Ílhavo.

DR

“A junção ideal entre um local distinto e o ser humano que o habita” – é assim que o fotógrafo João Carlos Fernandes resume aquela que, para si, é a receita fundamental para uma boa fotografia. João nasceu em Lisboa, em 1970. Viveu de perto as turbulências da Revolução, mas, pouco depois, mudou-se com a família para Eixo, em Aveiro, e foi na região que acabou por crescer e estabelecer-se como homem, profissional e artista.

É, “desde sempre, um estudante de Artes”. Começou a fotografar com apenas 10 anos, quando o pai, um ávido colecionador de livros, recebeu uma publicação das edições Reader’s Digest que trazia como brinde uma misteriosa caixinha negra, oca, com um botão laranja e a palavra “Kodak” inscrita na frente. “Era uma máquina de visor direto com uma objetiva muito simples, mas impressionou-me bastante. Como é que uma caixa preta conseguia reproduzir a realidade? A partir daí comecei a ganhar o gosto pela fotografia e a explorar as máquinas do meu pai. O passo seguinte foi passar a ter as minhas próprias máquinas e a disparar contra tudo. Aos 17 anos já fotografava à séria”, recorda.

Tamanha era a paixão pela arte de fotografar que João conseguiu convencer a família a deixá-lo fotografar o funeral do avô materno, um momento de luto e despedida, pouco habitual de ser registado. “A minha paixão pela fotografia está muito relacionada com esse valor documental, mas também com a tentativa de criar espaços visuais de pensamento e poesia. Foi isso que sempre me agradou. Fotografar de uma forma que mais ninguém fotografava, com perspetivas menos óbvias. Fotografias que não mostram tudo, mas dão pistas sobre a realidade, deixando ao observador a tarefa de a ler e interpretar”. João costuma dizer que as suas fotografias “precisam de destilação para serem lidas”. “Tal como a destilação, [observar as fotografias] é um processo demorado, gota a gota. Pretendo que, num primeiro impacto, o todo seja agradável, mas são os pormenores que fazem a diferença no meu tipo de fotografia”.

joãozero cresceu a fotografar com película, mas hoje opta pelas facilidades da fotografia digital; prefere a luz natural ao clarão incidente de um flash e a estética do preto e branco à composição a cores – “O preto e branco deixa o observador sonhar”, afirma, curiosamente, a poucos dias de inaugurar uma nova exposição individual, na qual todas as fotografias têm cor.

À conversa com a Aveiro Mag, revelou-se um “nikonista” [adepto da histórica marca japonesa de equipamento fotográfico Nikon] convicto, que fotografa, sobretudo, com prioridade à abertura – “interessa-me muito a profundidade de campo” – e cuja objetiva de eleição é uma ultragrande-angular de 14 milímetros – “oferece-me uma amplitude notável, sem distorcer excessivamente a realidade”, justifica.

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No universo da fotografia, João é conhecido pela marca joãozero, em que associa o seu nome ao numeral cardinal que representa o vazio, o princípio, como símbolo do “sonho de conseguir criar a partir do nada”. “É impossível pensar na possibilidade de uma to 100 por cento criativo. Há sempre que ir beber a algum lado. A criação entendida como algo nascido do zero, do nada, é algo que só os primeiros seres humanos puderam experimentar. A arte – e, concretamente, a fotografia que eu pratico – não existe desligada do mundo. Mas eu persigo essa impossibilidade”, explica o fotógrafo.

A sua fotografia é “uma mistura entra a fotografia de viagem, a fotografia documental e a fotografia de rua”, na qual o ser humano é quase sempre o grande protagonista. Gosta de o isolar em locais que o massacram e apequenam, que o tornam refém da sua própria megalomania, mas fá-lo com uma criatividade e sensibilidade artística capaz de surpreende a cada enquadramento. Para isso, vê-se obrigado a praticar uma “fotografia de espera”. “De certo modo, é como fotografar vida selvagem. O ser humano na selva urbana está no seu habitat natural.” Na mesma paisagem urbana, João é capaz de engrandecer até o que, ao olhar menos exercitado, pode parecer insignificante, bem como de concentrar um mundo inteiro de opulência e glória numa vil poça de água. É tudo uma questão de encontrar o ponto de vista certo, configurar o aparelho para os efeitos desejados e disparar. Mas, antes de mais, é preciso ir. Há que visitar novos locais, percorrer-lhes as ruas e desvendar-lhe os segredos escondidos nos reflexos, nas perspetivas mais inusitadas e nas rotinas daqueles que os ocupam.  

joãozero percorreu Portugal de lés a lés, mas também já fotografou em Espanha – prefere Barcelona ou Sevilha a Madrid, nas capitais de França, Bélgica, Inglaterra e Alemanha – Berlim é a mais completa e impressionante de todas -, já subiu à Escócia e atravessou o Atlântico para registar a incontornável Nova Iorque, nos Estados Unidos. Das viagens mais recentes, destacam-se Casablanca e Marraquexe, em Marrocos, e, para este ano, já tem agendadas visitas a Milão e Veneza, bem como Budapeste, Bratislava e Viena. João também gostava de experimentar o Perú, o Chile e a Argentina, mas estes são destinos mais delicados para um viajante cauteloso. Se há país, contudo, que, um dia, não pode mesmo deixar de fotografar, é o Japão.

Ao longo dos anos, já foi galardoado com variadíssimos prémios, já integrou o painel de jurados de diferentes concursos de fotografia, já expôs o seu trabalho em diversas mostras e exposições e, em 2020, lançou o livro de fotografia "T(w)o zero, t(w)o zero". Afinal, “há quem fotografe só para si, mas, quanto a mim, a fotografia é para ser observada. A minha fotografia é decididamente para os outros”. A próxima exposição individual de joãozero é inaugurada no dia 17 de fevereiro (sábado), às 17h30, na galeria Nuno Sacramento, em Ílhavo.

 

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