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O que afasta os jovens dos partidos políticos?

Política

Parte III

Ao analisar os resultados do estudo “A Participação Política da Juventude em Portugal” da Fundação Calouste Gulbenkian, é fácil perceber que os jovens que escolhem a militância partidária como forma de participarem politicamente e exercerem a sua cidadania, reconhecem a necessidade urgente de os partidos renovarem a imagem que passam para o exterior. Contudo, também a nível interno parece haver reformas impreteríveis. Os jovens partidários lamentam a visão instrumental com que os partidos olham para a juventude, dizem ser vítimas de preconceito de idade e queixam-se que as suas opiniões e anseios não são valorizados. Como se tudo isto não bastasse, garantem ainda ter de lidar com os danos de reputação inerentes à sua atividade partidária.

A desvalorização da participação jovem e os perigos de ter o passado a decidir o futuro

A investigação notou “um sentimento generalizado entre os jovens de que a sua atividade e opiniões políticas não recebem a atenção necessária por parte das gerações mais velhas”. Os jovens falam em “paternalismo” e “infantilização” por parte dos mais velhos, que tendem a desvalorizar a participação política das gerações mais novas com base em acusações de imaturidade, falta de autonomia económica e desconhecimento da realidade. No quadro dos jovens aveirenses que a Aveiro Mag ouviu para a presente reportagem também se verifica este ressentimento.

Quando, em 2021, fez parte da lista do Chega à câmara municipal de Vagos, Diana Pimenta tinha acabado de completar 22 anos. Ao longo da campanha, perdeu a conta às vezes em que comentários como “O que é que aquela miúda sabe da vida?” lhe terão sido dirigidos. “Muita gente fez questão de vincar que eu era muito nova para ser politicamente ativa e para estar envolvida na vida de um partido. É um preconceito instituído. Questionam-nos pela idade em vez de nos questionarem pelas ideias, pelas propostas, pela nossa ação”, recorda Diana. Consequência disso: os jovens crescem com “a perceção de que a política está feita para velhos”.

Tomás Pereira tinha apenas 18 anos quando encabeçou a lista da Iniciativa Liberal à assembleia municipal de Aveiro nas eleições autárquicas do ano passado. Independentemente de não ter conseguido assegurar a eleição, o jovem liberal avalia a campanha como “bastante enriquecedora” e “importante para cimentar o partido na cidade”. Garante nunca ter ouvido comentários pejorativos à sua idade, mas assente que “essa desvalorização generalizada é inegável”, convicção confirmada por Simão Santana, que assume já ter sentido esse desmerecimento na pele. Simão é, desde março passado, presidente da comissão política da secção de Aveiro do PSD. Uma das razões que motivou a sua candidatura foi o facto de considerar que “os partidos precisam de pessoas mais novas”. “Como é que uma sociedade pode projetar o seu futuro se não inclui aqueles que o vão herdar?”, interroga-se o social-democrata.

Tomás Pereira encabeçou a lista da Iniciativa Liberal à assembleia municipal de Aveiro nas eleições autárquicas de 2021

“Os partidos reagem mal a jovens porque sentem que eles são uma ameaça ao statu quo”, avança Marco Carvalho, recordando as dificuldades que o anterior líder do CDS terá tido para se afirmar na esfera política nacional – Francisco Rodrigues dos Santos foi presidente dos centristas de janeiro de 2020 a abril de 2022. Quando assumiu a liderança do partido, vindo da presidência da Juventude Popular, tinha 31 anos. “Foi alvo de escárnio e juízos de valor precipitados devido à idade”, considera Marco. “Quando diziam que ele era muito novo para estar na política e, principalmente, para liderar um partido, o Francisco costumava responder, em jeito de brincadeira: ‘a juventude é um problema que passa com o tempo’”. Marco, porém, não vê qualquer razão para se esperar esse tempo. “Todos os anos, Portugal exporta jovens talentos para o estrangeiro onde o seu valor é reconhecido e valorizado”, alude, afiançando que “temos perdido muitas oportunidades de ter políticos competentes na política nacional por puro preconceito de idade”.

“Uma das principais estratégias que usam para tentar desacreditar-me é dizerem que, por ainda ser jovem, não percebo o que está a acontecer”, partilha Gonçalo Abreu. Também Patrícia Silva verifica essa tendência de a sociedade “olhar para um jovem e pensar logo que ele, por não ter ainda passado pelas etapas duras da vida – começar a trabalhar, pagar as suas contas, constituir família – não tem a mesma legitimidade para participar politicamente, como se fossem essas etapas a fazer com que alguém percebesse de política”. Todavia, além destas acusações de imaturidade e inexperiência, “há ainda aquela ideia de que o jovem é apático, que a vida coletiva não lhe interessa, que só está preocupado em ser feliz individualmente”, adianta Patrícia Silva. Para a investigadora da UA, contudo, nenhuma destas ideias é verdadeira: “Os jovens têm a maturidade própria da sua idade e as preocupações próprias da sua idade – o sistema de ensino, a entrada no mercado de trabalho, o início da vida adulta, a questão da habitação –, já para não falar de outras que, em geral, não conseguem cativar o interesse do público mais envelhecido – a conservação do ambiente e a crise climática ou questões relacionadas com privacidade ou com a expressão da sua identidade”. Eis uma das razões que leva Diana Pimenta a encarar a participação política da juventude como “uma questão de representatividade”. “Eu, enquanto jovem, além de ter uma visão global da comunidade, estou a viver a juventude. Conheço muitos jovens, passo pelos mesmos problemas que eles, consigo ter uma perspetiva mais próxima daqueles que são os seus anseios”, argumenta a militante do Chega. “A minha visão do mundo só eu é que a tenho”, cuida Gonçalo Dias, do PAN. “Os jovens podem ter outras vivências que acrescentam muito às organizações nas quais estão envolvidos”. “Não é coincidência que, tal como na natureza, num sistema político, a verdadeira riqueza esteja na diversidade”, esclarece o ambientalista Gonçalo Abreu.

Inocência, rebeldia, sonho e vontade de mudar o mundo são outros dos traços normalmente associados à juventude. Mas haverá espaço para gente com estes atributos na rotina dos partidos políticos? Para Joana Sá Pereira, as características intrínsecas à juventude devem ser celebradas e não mascaradas. “Os jovens têm outra legitimidade, outro atrevimento para saltar o muro. É-nos permitido atingir outros limites e devemos aproveitar isso”. Até porque, assegura a deputada, “os ‘graúdos’ lidam bem com isso porque eles próprios já saltaram os muros deles. Por vezes, até ficam frustrados quando têm de ligar com algum conformismo da nossa geração. Porque se espera que sejam os jovens a desafiar, a chegar-se à frente”.

Por sua vez, e a propósito da acusação de inocência, Henrique Sousa propõe uma leitura alternativa: “Aquilo que, para uns, é ser inocente, para outros, é não estar contaminado com os vícios do sistema e das instituições. Muitas vezes, são os jovens ‘inocentes’ que trazem criatividade, inovação e força aos movimentos de progresso e desenvolvimento”, acredita o jovem da APA.

Na visão de Simão Santana, Portugal tem vindo a transformar-se num “país de pessoas com sonhos amarrados”, que vivem reféns de uma “política miserabilista” que não lhes dá a possibilidade de “pensar acima daquilo que são as necessidades básicas”. Neste cenário, é da opinião que é urgente “voltar a ter um Portugal de sonhos” e que isso pode muito bem passar pelas camadas mais jovens da população. “Sonhadores precisam-se”, reforça Gonçalo Abreu. “Os sonhadores rebentam limites, estendem perspetivas e desafiam aqueles pragmáticos que cultivam a ideia do ‘isto foi sempre assim e será sempre assim’”, diz o jovem da BioLiving. Uma ideia corroborada por Carla Sousa: “Cada vez mais, essas pessoas devem ocupar lugares dentro dos partidos porque, efetivamente, são elas que trazem a mudança e não aquelas que ficam sossegadinhas a fazer o mesmo de sempre”, reitera a jovem comunista.

Para Carla Sousa, do PCP, a militância partidária é “uma experiência recente”

Em “O portugal futuro”, de 1970, Ruy Belo imaginava um país novo, em tudo diferente do território onde nascera, uma nação construída sobre as bases da esperança e da liberdade, e na qual – estava certo – seria feliz. Note-se, todavia, como o poema termina: “Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz / mas isso era o passado e podia ser duro / edificar sobre ele o portugal futuro” – O poeta reflete sobre o risco de alicerçar o futuro nas convicções, métodos e expectativas do passado o que, no presente enquadramento, pode ser entendido como um alerta para a urgência de uma renovação geracional.

O que é certo é que, no que concerne à política e aos políticos, a renovação geracional tem sido francamente lenta. Em novembro do ano passado, numa conversa com jovens na Livraria Barata, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa sustentava que “os políticos falam pouco para os jovens” sobretudo porque “o sistema envelheceu muito” não só em Portugal, mas um pouco por toda a Europa. “Os partidos foram pensados para outra sociedade, onde os meios de comunicação não eram os que são hoje, onde não havia redes sociais (...) E não estão preparados para isso”, esclarecia o Presidente da República, deixando um desafio aos jovens presentes: “Não gostam do que está? Só há uma maneira de mudar: começar a fazer diferente”. “O importante é perceber onde é que eu posso agir para melhorar a vida das pessoas, dos mais próximos aos mais longínquos”, alegava Marcelo, assegurando que, ele próprio, depois de sair de Belém, voltará a fazer voluntariado em unidades de cuidados intensivos e a dedicar-se à integração de pessoas em situação de sem-abrigo, ao acolhimento de migrantes e a projetos concretos na CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

A instrumentalização das juventudes partidárias

Entre os principais factos e tendências detetadas pelo estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, está também a “frequente perceção” por parte dos jovens com militância partidária de que os partidos “têm uma visão predominantemente instrumental das estruturas juvenis”. Aparentemente, para as forças partidárias, as jotas “assumem um papel significativo considerando os ciclos eleitorais”, mas não são “encaradas como uma esfera de influência relevante nas estruturas e prioridades do partido”. Trocado por miúdos, isto significa que, em tempo de eleições, os partidos aproveitam-se dos jovens para “fazer número”, “agitar bandeiras” ou “colar cartazes”, mas depois “olham para as juventudes partidárias como veículos para lhes impor ideias”, explica Patrícia Silva. Acontece que os jovens, na sua maioria, “não estão dispostos a serem simples porta-estandartes, não aceitam servir unicamente para a transmissão de mensagens feitas. Querem, isso sim, o oposto: debater ideias e apresentá-las aos partidos para que estes as adotem como temas a tratar e problemas a resolver”, compreende a coautora daquela investigação.

Questionados sobre o grau de autonomia e visibilidade que os partidos dão às suas organizações juvenis – ou, nos casos em que não existe uma estrutura de juventude formal, aos militantes mais novos – os jovens aveirenses que falaram com a Aveiro Mag deram garantias de “total liberdade”. Marco Carvalho, do CDS, admite a possibilidade de existirem tentativas de instrumentalização, com diligências concretas para que haja um alinhamento entre a atividade das jotas e as orientações dos partidos, mas assegura que isso “dependerá sempre de quem está à frente das estruturas”. Quanto a Carla Sousa, do PCP, está certa de que “basta olhar para os motes dos partidos e para as propostas que apresentam para perceber quando é que os jovens realmente lhes interessam e quando servem só para fazer número”. Para Gonçalo Dias, a noção de que, no PAN, as suas ideias seriam tidas em conta foi um dos “fatores essenciais” para a sua filiação. “As preocupações do PAN são as preocupações dos jovens”, reforça Gonçalo, lembrando que, na anterior legislatura, o seu partido foi o que apresentou mais medidas para a juventude. Garantindo que na Iniciativa Liberal não existem condicionalismos ou tentativas de imposição de uma agenda aos mais novos, Tomás Pereira salienta “o orgulho em pertencer a um partido em que os jovens têm voz”. Também Diana Pimenta se congratula por estar num partido – o Chega – “em que as preocupações dos jovens não só são ouvidas como têm representação parlamentar ”.

“Se queremos que os jovens sejam ‘os líderes do amanhã’, temos de lhes dar oportunidades para exercerem e treinarem essa liderança em liberdade e compromisso”, entende Simão Santana, rejeitando a tese de que os partidos têm uma visão instrumental das juventudes partidárias. Ainda assim, depois de vários anos na JSD, entende que “quem integra uma juventude partidária tem de perceber que aquela organização só existe porque existe o partido”. “Mesmo que, em termos mediáticos, possa parecer interessante, uma juventude partidária virar-se contra o seu próprio partido é anti natura”, pensa o social-democrata. Joana Sá Pereira reflete sobre a mesma questão: “O facto de, por vezes, uma juventude e o seu partido não convergirem, não significa que estejam de costas voltadas”, julga a deputada, acautelando um exemplo prontamente: “A JS defende a ‘propina zero’ há muitos anos e o PS não tem assumido essa bandeira, mas nunca o partido tentou impedir a jota de lutar por essa medida”. “No dia em que os jovens abdicarem da sua autonomia para serem simples instrumentos, perdem o seu esqueleto”, assegura a socialista para quem um partido, ao demonstrar viver bem com a liberdade de pensamento e ação daqueles que o integram – neste caso, dos jovens – “dá provas de credibilidade” e “garante a continuidade geracional”.

Joana Sá Pereira é deputada à Assembleia da República e presidente da Distrital de Aveiro da Juventude Socialista

Pode a participação partidária trazer danos para a reputação dos jovens?

Invariavelmente, qualquer atividade pública mexe com a reputação de quem a exerce. Posto isto, pode ou não ser prejudicial para um jovem assumir que faz parte de um partido ou de uma juventude partidária? Para ajudar à reflexão, a Aveiro Mag propôs o exercício seguinte: imagine-se que um jovem, membro ativo de uma estrutura partidária, cuja participação e envolvimento nesse contexto fez com que desenvolvesse competências relevantes para a sua atividade profissional, está à procura de emprego. Deve ou não este jovem colocar no currículo a informação de que integra uma estrutura partidária?

Simão Santana acredita que sim. Ele próprio sempre fez referência ao facto de pertencer ao PSD e nunca se sentiu prejudicado por isso. “Antes de assumir funções como adjunto do presidente da câmara de Aveiro, trabalhei em duas empresas multinacionais e as pessoas sempre souberam da minha ligação ao partido. Estou em crer, aliás, que foi pelo facto de nunca ter escondido essa ligação que consegui ter algumas conversas sobre política no meu local de trabalho que me enriqueceram bastante”. O social-democrata vê no envolvimento político-partidário um “ato de altruísmo” e acredita que um jovem integrado na esfera política será “mais interessado e mais informado”.

Diana Pimenta, por seu turno, não tem dúvidas quanto às repercussões negativas que a participação partidária pode trazer para a vida de um jovem, seja no âmbito profissional ou mesmo ao nível das suas relações pessoais. Sem esconder alguma mágoa, a coordenadora da distrital de Aveiro da Juventude Chega confessa já ter vivido o fim de algumas amizades pelo facto de se ter associado ao partido. Além disso, está convicta que esse prejulgamento “é um dos maiores entraves à integração partidária dos mais novos”. “Muitos jovens gostariam de se juntar ao Chega e não o fazem por medo de represálias”, sugere Diana, esclarecendo que “não aconselharia nenhum jovem a colocar no CV qualquer informação relativa à sua participação partidária”.

Na opinião de Gonçalo Dias, há que fazer uma separação: “uma coisa é o contexto de trabalho, outra é a ação política”. “Se um recrutador discrimina um candidato com base ideológica, o erro está no recrutador e não no candidato”, concede o jovem do PAN que, ainda assim, declara ser “mais inteligente ocultar a informação” aquando de uma candidatura. Na opinião de Tomás Pereira, qualquer apreciação negativa à participação partidária “é, à partida, injusta”, embora seja igualmente “uma consequência inevitável do estigma existente”. Marco Carvalho gostava que esse estigma se extinguisse. Para o jovem centrista, “o currículo político não devia ser cadastro”. Marco acredita que ainda “há entidades que valorizam a participação partidária como uma dádiva à comunidade”, mas admite a existência de um “receio natural” de se ser julgado pelas opções políticas. “Não tenho nenhum dos meus cargos políticos no meu currículo profissional e não faço intenções de vir a ter”, assume. De igual forma, Carla Sousa considera “arriscado” afirmar que se pertence a um partido ou juventude partidária. “Nunca sabes se essa ‘etiqueta’ te vai beneficiar ou prejudicar”, diz a jovem comunista. “Se assumires que estás ao serviço dos outros enquanto bombeiro, ninguém pensa mal de ti, pelo contrário. Mas se assumires que estás ao serviço dos outros enquanto político, já não é bem assim”, compara Carla, recordando um episódio em que, à conversa com colegas de trabalho, um pin com uma foice e um martelo que trazia na carteira foi motivo para comentários de espanto e repúdio.

No entender de Gonçalo Abreu, esta é uma “questão sensível” e é justo distinguir entre as pessoas que fazem essa segregação de forma propositada e ignóbil e aqueles que agem inconscientemente, mais como instinto de defesa do que com intenções de prejudicar o outro. “Eu próprio, se tivesse um amigo que fizesse parte de um determinado partido, não sei até que ponto é que conseguiria manter a nossa amizade, tendo em conta que isso ia chocar diretamente com os meus valores”, admite o membro da BioLiving.

Também Bruno Pereira admite a existência de um forte estigma ligado às estruturas partidárias e, pela sua experiência, muitas vezes “o impacto pode ser bem maior do que aquele que se pensa”. “Conheço casos em que, pelo facto de uma pessoa ter ligação partidária, toda a família é associada ao partido, concorde ou não”, descreve o ativista da Agora Aveiro. Uma espécie de herança perversa e malquerida que, sem qualquer hipótese de reflexão, logo trata de impor limitações e embaraços. “Tendo consciência disso, é claro que os jovens fogem a sete pés”, constata Bruno Pereira. “Encontrarmos o nosso lugar no mundo já é o cabo dos trabalhos quando não temos rótulos associados. Se os tivermos, então, a tarefa torna-se ainda mais complicada”, manifesta.

Bruno Pereira concretiza a suaparticipação cívica e política através da Agora Aveiro

Do ponto de vista de Henrique Sousa, “se a ação partidária for realmente relevante para demonstrar as suas competências, o jovem não deve escondê-la”. “Não podemos queixar-nos da falta de transparência dos partidos e depois incentivarmos os jovens a procederem do mesmo modo”, apoia o membro da Academia de Política Apartidária, recusando a tese de que a atividade partidária faz de alguém uma má pessoa ou um mau trabalhador.

Joana Sá Pereira vai ainda mais longe: a deputada socialista está convencida de que “o facto de se ser político pode até ser um bom contributo para se ser um bom profissional”. “A participação político-partidária torna as pessoas mais bem-preparadas e dá-lhes ferramentas importantes – capacidade argumentativa, de reflexão, de trabalho em equipa – para lidar com o dia-a-dia profissional”, sublinha a jovem, que assume já se ter habituado “ao facto de a política não ter a dose de reconhecimento que merecia”. “Os políticos dão muito do seu tempo de forma desinteressada. Há muitas coisas próprias da rotina de uma jovem da minha idade das quais eu prescindo. E reconheço isso sem nenhum lamento. Abdico, conscientemente, do meu tempo para o pôr ao serviço das preocupações dos outros, assim como tantas pessoas o fazem em vários domínios da sociedade. Faço-o porque me faz sentir bem, porque contribui decisivamente para a minha felicidade e a minha realização pessoal”, diz Joana Sá Pereira.

Aos olhos de Patrícia Silva, esta é uma questão interessante que lamenta não ter incluído nos questionários aos jovens partidários feitos aquando da recolha de dados para o referido estudo. Na opinião da investigadora, “o facto de os jovens partidários demonstrarem este receio diz muito sobre a forma como eles próprios olham para os partidos políticos”. “É curioso que os meus alunos facilmente assumem que fazem parte de partidos ou juventudes partidárias, mas nenhum diz de que partido ou juventude é. Se lhes perguntar de que clube são, todos mo dirão. Não querem ser conotados por receio de imprevistos”, reflete a docente. “Haverá, de facto, danos de reputação imediatos. Em Portugal, integrar uma juventude partidária é um rótulo mal visto”, conclui.

Uma juventude com vontade de futuro

Do painel de jovens que a Aveiro Mag consultou, todos têm participação política ativa nas comunidades onde se inserem. Uns optaram por militar num partido político ou numa juventude partidária, outros, encontraram a sua vocação no seio de associações relacionadas com a promoção de uma cidadania consciente e ativa ou com a conservação do ambiente e do património natural. A uni-los têm a necessidade de se fazerem ouvir, a ânsia de contribuírem para a melhoria das suas comunidades e a esperança num futuro melhor.

Nem quando se trata de desejos para o futuro Henrique Sousa perde o pragmatismo. No que concerne à APA, “o grande objetivo é atingir um patamar em que os jovens indiferentes à política passam a ser minoria”. “Que haja união e força de vontade para conseguirmos ser representados pelos indivíduos mais capazes e para que as pessoas possam acompanhar a ação dos políticos com conhecimento de causa e espírito crítico”, é o que ambiciona o jovem apartidário. “É uma missão difícil e contínua porque, se conseguirmos transformar esta geração, logo outra se seguirá”.

O foco de Gonçalo Dias está em “ajudar o PAN a crescer” e a “promover a maior cooperação entre partidos, principalmente, no que às questões estruturantes diz respeito”. Quanto a Carla Sousa, “o mais urgente” é a luta pela garantia da dignidade humana. “O que mais me custa é saber que há pessoas quem não têm o mínimo dos mínimos, direitos básicos como uma casa ou o que comer”, sente a jovem comunista, acrescentando que, no seu entender, este é “um problema de todos”.Bruno Pereira diz procurar “o que todos os jovens procuram: felicidade, estabilidade, realização pessoal e uma comunidade à qual para pertencer”, discorrendo que, para tal ser possível, é fundamental que o objetivo primordial de qualquer pessoa seja “contribuir para a felicidade dos outros”.O jovem ambientalista Gonçalo Abreu aproveita para recordar a importância de assegurar “a responsabilização da corrupção”, “a proteção dos valores naturais”, a aprovação de “leis que protejam as espécies mais ameaçadas”, “um ordenamento do território que faça sentido” e a consciencialização das indústrias mais poluentes para o “impacto nefasto” que estão a ter.

Gonçalo Abreu está à frente do Centro Interpretativo da Pateira de Frossos, em Albergaria-a-Velha

Por sua vez, Marco Carvalho lembra um mítico diálogo, atribuído a tantos políticos ao longo do século XX, que nem se sabe ao certo se realmente existiu ou quem foram os interlocutores que o protagonizaram. Na sua versão mais célebre, pelo menos entre os portugueses, Otelo Saraiva de Carvalho, pouco tempo depois da Revolução de abril, teria comentado com Olof Palme que, em Portugal, queriam “acabar com os ricos”, ao que o então primeiro-ministro sueco teria respondido: “Na Suécia, queremos é acabar com os pobres”. Lendas à parte, serve isto para o jovem centrista afirmar que é a possibilidade de “contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, melhor emprego, acesso mais facilitado a habitação, descida dos impostos e melhores serviços” que o move. Tudo para que “um jovem em Portugal tenha condições para construir o seu projeto de vida”. Trata-se, por outras palavras, de assegurar a “emancipação jovem”, questão que, destaca Joana Sá Pereira, deve estar na ordem do dia. “Um jovem só atingirá a felicidade quando conseguir ter um salário digno, puder constituir família e ter uma casa onde morar. E, se possível, com qualificações que o Estado lhe proporcionou durante a sua formação”. “E aqui entra a escola pública, a habitação e os salários dignos como pilares essenciais para garantir futuro e esperança”, refere a deputada socialista, deixando claro que, “enquanto país, é nossa obrigação dar a oportunidade aos jovens de serem felizes cá”. De acordo com Tomás Pereira, também a Iniciativa Liberal está empenhada em “fazer de Portugal um país onde emigrar não é a melhor solução”. “Porque, hoje, infelizmente, ainda é”, lamenta o jovem liberal. “Um futuro em Portugal” é, igualmente, o que Diana Pimenta, da Juventude Chega, reivindica. “Orgulhamo-nos do nosso país e não o queremos abandonar. Entristece-me ver muitos jovens a terem de ir para fora para conseguirem trabalho com salários dignos”. Na opinião de Simão Santana, é preciso coragem para avançar com uma “reforma do Estado” que, entre outras coisas, “concerte finalmente o elevador social”. “O que mais dói a um jovem é o facto de a sociedade lhe vender durante 15 anos que, se ele estudar e conseguir um diploma, será alguém na vida e, chegados ao fim do percurso, todos os sonhos que lhe venderam estão errados”. “Isto não pode acontecer”, alerta o social-democrata. “Temos de reformar o Estado no sentido de proporcionarmos mais e melhores oportunidades”, termina.

Nas últimas páginas da investigação promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian pode ler-se o seguinte: “Qualquer que seja o futuro, teremos sempre política. O desafio é que essa política funcione bem sob a casca e o corpo da democracia”. Diz-se amiúde que a democracia em Portugal ainda não atingiu a maturidade desejada, que sofre ainda com dores de crescimento e que é demasiado cedo para esperar este ou aquele resultado. O que é certo, porém, é que “andamos nisto há quase 50 anos”.

Patrícia Silva é da opinião que “já não podemos dizer que somos uma democracia jovem”, ainda que reconheça que “temos muito espaço para melhorar” e que “a democracia de hoje vive desafios que muitos nunca anteciparam ainda vir a enfrentar”. “Achávamos que as nossas democracias (do mundo ocidental) estavam tão bem oleadas que a hipótese de retrocessos do ponto de vista das liberdades individuais nem sequer se punha. E depois aparecem figuras e forças partidárias a desafiar aquilo que considerávamos conquistas inabaláveis”, explica a politóloga aveirense, assegurando que, para combater a retórica populista e os extremismos são necessárias “instituições maduras”, “partidos no poder que prestem contas a quem os elegeu” e “oposições fortes” que escrutinem a atividade executiva. No fundo, é preciso “que a democracia funcione”. E, para isso, é essencial a consciente participação de todos, sem exceção, com os jovens, herdeiros dos valores da liberdade e da democracia, na linha da frente.

* Contactadas pela Aveiro Mag, as estruturas distritais de Aveiro do Bloco de Esquerda e do LIVRE não demonstraram disponibilidade para participar nesta reportagem.
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