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Viagens na nossa terra: Um Portugal a cair aos bocados

Roteiro

João Parracho

 

 

Talvez seja uma surpresa para muitos, mas os clientes da Nutribalance existem mesmo. Juro. Estive a dois metros de um. Vou a Ílhavo com um duplo propósito: tomar um café com um amigo e recolher um livro na Xylocopa. No café, enquanto espero, dois homens na mesa ao lado da minha falam de dietas. Um assume-se como fiel devoto da Nutribalance. “Preciso pelo menos de um impulso inicial”, confidencia.

Dali sigo para o alfarrabista, onde compro “Cabelos Brancos - O que eu aprendi sobre beleza, sexualidade, trabalho, família, autenticidade e tudo o que realmente importa”. Consulto o índice e detenho-me nos nomes de alguns capítulos: “Será o grisalho o novo preto?”, “Como uma adepta do cabelo pintado decide ser natural”, “O grisalho pode ser sexy?” O livro de Anne Kreamer é descrito como uma “inspiradora crónica da meia-idade” e eu, que me sinto parte do público-alvo, fico curioso.

De carro a caminho de Ílhavo, um fugaz engarrafamento faz-me ficar parado por uns segundos na EN109, já junto ao centro da cidade. Ao olhar pela janela deparo-me com o Cinema Texas à minha esquerda. Este edifício inaugurado em 1927 foi a principal sala de espetáculos do concelho durante várias décadas. Encerrou em meados dos anos 1980 e está abandonado desde então.

O Cinema Texas é um exemplo entre muitos. Nas minhas deambulações pela região é comum cruzar-me com velhos edifícios abandonados e em ruína. Casas, escolas, teatros, fábricas, cooperativas. Muitos deles são exemplares icónicos. É tão penoso quanto fascinante observar a sua decadência.

A verdade é que a região da ria, dos moliceiros, do Farol da Barra, das casas da Costa Nova, da Ponte do Poço de Santiago ou das construções de Siza Vieira na Universidade de Aveiro é também a região dos estaleiros navais de São Jacinto, do Teatro Avenida do Luso, da EB 2/3 de Anadia, da fábrica de papel de Valmaior, do convento de Vale da Mó, do Cinema Texas. Foram outrora, estes e outros, edifícios emblemáticos hoje quase reduzidos a pó ou para lá caminhando, perante um desinteresse que parece generalizado.

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As casas de habitação abandonadas são outro flagelo. São centenas e centenas, muitas delas bonitas e robustas, muitas outras nem tanto. Sigo de bicicleta pelo Paço, Póvoa do Paço, Mataduços, Vilarinho, Sarrazola e Cacia e reparo numa quantidade imensa de casas antigas devolutas. Paro junto a uma magnífica habitação em Sarrazola, num pequeno lago perto do apeadeiro ferroviário de Cacia. É um edifício de dois pisos, no cruzamento da Rua da Marinha Baixa com a Rua Marquês de Pombal, completamente revestido a azulejos com um bonito varandim de pedra a toda a volta do telhado. Uma senhora, ao ver-me observar e fotografar a casa, mete conversa. “Uma casa tão bonita ao abandono”, soluço eu. “Há pelo menos 30 anos que está abandonada”, informa ela. Parecemos irmanados num gemido comum. Mas não. “Punha-se abaixo e dava para construir duas casas”, sugere. Na minha imaginação, fulmino-a com o olhar. Na realidade, engulo em seco e sigo viagem.

Portugal tem certamente muitas coisas boas. Mas é muito impressionante, para quem anda de olhos bem abertos, ver como este é também um país de abandono, decrepitude e ruína. Há alguns bons exemplos de preservação – a Fábrica Campos vem-me logo à cabeça. Para a antiga fábrica de papel de Valmaior, criada em 1872 e encerrada em 1999, parece existir a vontade de lá instalar o Museu Nacional e Arquivo Histórico dos Recursos Hídricos, recuperando uma parte do edificado. Tomara que sim. E que o exemplo seja replicado, porque não faltam locais onde o fazer. É também assim que se preserva a memória e a identidade.

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