Ricardo Ferreira de Mascarenhas
Vivo em Aveiro há vinte anos mas não sou de cá. Sou um migrante que como tal almeja sempre regressar a casa. Uma casa perto do mar.
Apesar de a água que a penetra ser doce e salgada a cidade não é de mar. Isso sente-se, respira-se e vive-se aqui. Assim é Aveiro.
Estando cá desde 1999, por opção académica, senti o Verão de 2000 chegar à cidade e como o calor apertava adaptei-me. Vesti calções de pano (também conhecidos como bermudas) e calcei uns mocassins. Um nativo perguntou-me se ia para a praia ao que respondi que não, era roupa normal de Verão. Respondeu-me que calções era roupa de praia e não para usar na cidade. Eu que venho de uma cidade com praia fiquei admirado com a afirmação. Retorqui que Aveiro estava perto da água mas longe do mar. Assim era.
Tem um plano cultural, empresarial, académico e de biodiversidade que a torna ímpar e um vento que aprecio por me recordar os bons ventos da minha terra e sem os quais Aveiro não existiria. Aveiro é uma cidade agradável para viver e com uma boa proximidade geográfica a várias cidades e regiões o que a torna central.
Posso dizer que é uma opção interessante para viver, mas onde não é fácil entrar. Há, uma regra, implícita, que só o que é de Aveiro é bom ou, na dúvida, exclui-se o de fora. Não sei se é bairrismo radical ou temor ao exterior, mas os nativos são pouco abertos aos ‘estrangeiros’. Esta é, na minha opinião, o calcanhar de Aquiles de cagaréus e ceboleiros. Com o mesmo investimento é muito mais fácil concretizar fora que dentro de Aveiro. Vicissitudes dos daqui…
Acredito que a cidade e a região poderão vir a ser, se houver uma efectiva e nobre liderança com capacidade para tal, uma referência ainda mais forte onde a qualidade de vida nos seus vários ângulos, onde se tem que englobar a edificação existente e a erigir no burgo, seja o desígnio que todos queiram seguir.
A cidade tem particularidades únicas que será uma pena perder só para ter o mesmo que qualquer outra cidade. Aveiro será melhor pela sua diferença e é essa que a vai, progressivamente, engrandecer.
Vejamos como são os próximos vinte pois agora, vinte anos volvidos, já há mais calções de pano e mocassinsna cidade. Talvez o mar esteja mais presente no canal central.