
Sugestões de leitura para os dias de isolamento (parte II)
Os maus tempos, tal como os maus hábitos, costumam dar origem a bons livros. Isto não é um incentivo à irresponsabilidade. É uma constatação.
Por estes dias, têm sido muito procurados os livros de contágios e pestes. “A peste”, de Albert Camus, e “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago estão entre eles. Mas o mais conhecido será, provavelmente, “Decameron”, de Boccaccio – a nossa sugestão de hoje.
Não se trata de uma história, mas de cem histórias. Dez contadas por cada um dos três homens e sete mulheres (dos 18 aos 30 anos) que, ao largo de Florença, fazem uma quarentena de dez dias devido à Peste Negra. As histórias são trágicas, humorísticas, religiosas, eróticas. Fiquemos com o resumo da segunda: um cristão quer que um judeu se converta. O judeu, Abraão, após tanta insistência do cristão, decide ir a Roma ver como é a vida do Papa e dos cardeais. Giannotto, o cristão, não consegue impedi-lo de fazer a viagem e teme o pior. A vida depravada da corte papal é mau exemplo para todos. Acontece que a conclusão de Abraão é contrária aos receios de Giannotto. Se a religião cristã progride apesar dos vícios dos seus ministros – pensa Abraão –, então é porque é “mais santa e verdadeira do que qualquer outra”. Acaba por ser batizado na igreja de Nossa Senhora de Paris e passa a chamar-se Giovanni.
Contar histórias, ouvi-las, lê-las… ainda é das melhores formas de ocupar o tempo. Podem salvar uma quarentena. Ou a vida, como nas 1001 noites.
Em 1348, a peste atinge Florença e nesse mesmo ano chega a Portugal. 1348 é o destino dos adolescentes Ana e João, na máquina do tempo do cientista Orlando (da AIVET – Associação de Investigação de Viagens no Espaço e no Tempo) em “O Ano da Peste Negra”, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Os jovens lisboetas viajam até aos tempos de D. Afonso IV e testemunham a Peste Negra e as pilhagens que a pandemia proporcionou. O livro termina com uma série de notas de caracter histórico e médico sobre a epidemia que veio da China e se deteve um pouco em Itália antes de se espalhar pela Europa. A diferença é que o hoje demora semanas, na Idade Média demorou anos.
* Na Ror de Livros, “Decameron” está disponível em várias edições (a 6 e 8 euros) e numa edição de luxo (quatro volumes, 39 euros). “O Ano da Peste Negra”, tal como os outros volumes da coleção “Viagens no tempo”, custa 2 euros. A Ror de Livros fica na Rua Senhor dos Aflitos, n.º 9, em Aveiro. Atende pelo facebook.com/rordelivros, por mail (rordelivros@gmail.com) ou pelo telefone 234049257 (de segunda a sábado, das 14h00 às 19h00).
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