Desde que se recorda, Maria Alcina, nascida em Vale de Ílhavo há 76 anos, nunca deixou de ter as mãos na massa, produzindo padas e folares. Nasceu no seio de uma família de padeiras, herdando o saber fazer e o negócio fundado pela bisavó, Filomena Caneira, e que a sua mãe, Maria Celeste Sacramento, se encarregou de liderar durante muitos anos.
Depois do falecimento da mãe, Maria Alcina fez questão de honrar a tradição da família. Já reformada, e depois de ter estado 40 anos nos Estados Unidos da América, decidiu dar continuidade à confecção do tradicional pão de Vale de Ílhavo, seguindo sempre os passos que a falecida mãe lhe ensinou.
‘’Eu estava reformada e gosto de conviver. Assim, estou entretida ao sábado. É a casa da minha mãe, nasci aqui, sempre me deu gosto e custou-me ter a porta fechada’’, conta. “A minha mãe era uma das padeiras mais antigas, está registada na Câmara de Ílhavo desde 1950,’’ acrescenta.
Atualmente, é Maria Alcina quem está à frente deste comércio, continuando esta tradição de família, com o apoio de mais dois funcionários. Produzem apenas ao sábado, focados em dar resposta aos costumes da região: padas, folares, pães de cornos e bolos doces.
A partir das instalações situadas na Rua Nossa Sra. do Alívio, esta equipa continua a vender as suas iguarias no espaço, dão resposta a encomendas e efetuam vendas no Mercado Municipal de Ílhavo. “Vendemos cerca de 200 a 300 por dia, depende das encomendas que tenha.’’
Selecionam farinha de qualidade para o fabrico dos alimentos, optando por um fornecedor da região que faz a moagem. Maria Alcina assegura que não existe nenhum ingrediente secreto. Fermento, farinha, ovos, açúcar, sal, água, canela, manteiga são os únicos ingredientes que utilizam, optando pelo uso do forno a lenha para a cozedura dos pães e bolos.
Na altura da Páscoa, produzem em grandes quantidades, pois são muitas as pessoas que recorrem a este espaço para a recolha dos famosos folares nesta época festiva, nomeadamente os padrinhos e os afilhados.
‘’Na Páscoa é uma loucura, é noite e dia, três e quatro dias para prepararmos os pedidos das pessoas,’’ confirma Maria Alcina. Afirmam-se como um comércio local antigo, repleto de história e paixão no que é produzido.
*Texto editado por Maria José Santana