
Sugestões de leitura: Irredutíveis como nós
O pai do Astérix morreu no dia 24 de março de 2020, quase a fazer 93 anos. Segundo a família, Albert Urdezo morreu de ataque cardíaco, como o seu colega e amigo René Goscinny, que morreu da mesma causa, mas em 1977, com 51 anos. Os dois criaram os “irredutíveis gauleses”, Goscinny nos argumentos e nas ideias e Urdezo nos desenhos.
A série “Astérix, o gaulês” continua a ser publicada e vai agora no 38.º álbum – saiu há poucos meses “A filha de Vercingétorix”. Felizmente, a morte do segundo autor não significou o fim de Astérix, Obélix, Panomarix (o druida da poção mágica) e companhia. Há 15 anos, em entrevista ao jornal Público, Urdezo disse que quando morresse, também Astérix morreria, uma vez que não tinha intenção de vender os direitos da série. Mas voltou atrás, vendeu-os e entretanto saíram mais quatro álbuns em que os nomes Goscinny e Urdezo já não aparecem como autores de “texto” e “desenhos” (depois de Goscinny morrer, Urdezo fez questão que o nome do colega continuasse na capa dos livros como autor do texto), mas somente como criadores.
Esta banda desenhada passada no ano 50 a.C. tem um fundo histórico, porque de facto os gauleses deram resistência aos romanos, ainda que não tanto como a que Viriato dera umas décadas antes. Só que o chefe dos lusitanos não teve a sorte de encontrar desenhadores e argumentistas de talento.
Os livros do Astérix leem-se hoje como há 20 ou 30 anos porque, nas suas variantes, seguem um tema universal: a força superior dos pequenos contra a aparente invencibilidade dos poderosos. Os poderosos, no ano 50 a.C., eram os romanos. Hoje, serão “os americanos”, a globalização, as super-empresas… ou um vírus?
Não podemos estar a olhar tudo na perspetiva do vírus e da pandemia, mas há algumas qualidades na série que dão jeito no período que estamos a viver: o sentimento de união face a um inimigo comum, a identidade de grupo, a solidariedade, o auxílio mútuo. No final da crise pandémica, talvez nos espere uma jantarada, como no final de cada aventura gaulesa. Para já, é melhor manter a distância social. Que Astérix nos ajude a passar o tempo.
* Na Ror de Livros, os livros da série “Astérix” estão disponíveis por 5 euros cada. A livraria de livros usados fica na Rua Senhor dos Aflitos, n.º 9, em Aveiro. Atende pelo facebook.com/rordelivros, por mail (rordelivros@gmail.com) ou pelo telefone 96 843 72 37. Durante o estado de emergência, com as devidas regras de segurança, a Ror de Livros está aberta aos sábados, das 14h às 19h.