
Sugestões de leitura: Concentre-se na concentração
Quem nunca adiou algo que tinha mesmo de fazer para dar uma espreitadela nas redes sociais, que atire a primeira pedra. Ou faça um “like”. Quem nunca se perdeu na internet de clique em clique, que dê um clique em frente. As situações são comuns. O tempo que passamos online, principalmente nas redes sociais, mas também em trabalho, lendo, respondendo ou só mesmo apagando emails sem fim, que, como a tecnologia possibilita, são enviados indiscriminadamente a múltiplos destinatários, é cada vez maior. Mas é apenas um dos exemplos da cultura de superficialidade em que vivemos. Cultura da superficialidade no sentido em que “o toca e foge” em todos os assuntos nos impede a concentração profunda. Como que somos obrigados a estar sempre ligados, permanentemente disponíveis e, por isso, assolados por milhentas intromissões. Sempre à superfície, sem possibilidades de mergulhar a fundo num assunto.
Sem concentração profunda, defende Cal Newport, não há execução de tarefas cognitivamente exigentes, não há “melhores resultados em menos tempo”, não há a produtividade. Mas só esforço e a produtividade, como última e boa consequência, nos dão a “sensação de realização genuína”. E pelo meio, como diz o autor, geram riqueza. E o irónico, no meio disto tudo, é que os que criaram as tecnologias que nos distraem (as redes sociais e mais uma série de funcionalidades que estão sempre a dar alertas que captam a nossa atenção e tempo), são em geral adeptos e praticantes da concentração profunda. Alguns deles cortam absolutamente com as tecnologias que criaram para se focarem sem distrações… em novas tecnologias sugadoras de atenção.
Em “Deep work”, o autor, professor de Ciências Informáticas da Universidade de Georgetown (Washington, EUA), mostra nos três primeiros capítulos como a concentração máxima é “valiosa”, “rara” e “significativa”. Serve-se de exemplos históricos, como as práticas de Carl Jung ou de Michel Montaigne, e de outros da atualidade. Alguns dos criadores de redes sociais cultivam tudo menos a superficialidade que as suas redes promovem.
Na segunda parte do livro, Cal Newport apresenta ao longo de quatro capítulos quatro regras para obter a concentração máxima. Trata-se de um “plano de ação rigoroso” que, deixem-me confessar, é preciso pôr em prática cá pelos meus lados. Mas antes acho que vou escrever um post no Facebook sobre isso.
“Deep work”, de Cal Newport, ed. Actual, 238 páginas