
Sugestões de leitura: Um filósofo coreano-germânico
Até há dias nunca tinha ouvido falar de Byung-Chul Han. O nome remete, obviamente, para o Extremo-Oriente. Por acasos que só podem estar escritos no livro do destino, embora não acredite nele, vieram parar-me às mãos três livros de Byung-Chul Han: “No enxame”, “Psicopolítica” e “A expulsão do outro”.
Uma consulta online informa que desde 2014 publicou em Portugal 13 livros (todos na editora Relógio d’Água), que abordam assuntos como o poder, a beleza e o digital, ou, aludindo às respetivas áreas filosóficas, a política, a estética e a comunicação. E outros aparentemente menos filosóficos como o cansaço (é política) e o erotismo (é comunicação e estética).
Byung-Chul Han é um filósofo e, como filósofo moderno que é, filosofa sobre tudo. Na senda de outros mais conhecidos, como Roland Barthes, nos anos 60 e 70, ou Alain de Botton e Zizek, na atualidade, filosofa sobre o quotidiano com uma constante preocupação de ser acessível, daí as presenças frequentes na comunicação social e os livros sempre com menos 100 páginas e capítulos curtos.
Mas o mais curioso em Byung-Chul Han é que, sendo coreano (nasceu em Seul, em 1959), cresceu e estudou metalurgia sem conhecer a filosofia ocidental, a que vai dos gregos antigos até Habermas, Rorty ou Kristeva. Tinha 29 anos quando no final dos anos 80 emigrou para Alemanha, desconhecendo a língua do país – como referem sempre as notas biográficas. E só então estudou Literatura, Teologia e Filosofia, doutorando-se com uma tese sobre Heidegger em 1994.
O olhar do oriental ocidentalizado proporciona leituras muito interessantes das questões. Em “Psicopolítica”, o coreano-germânico defende que o psicopoder, usando a Big Data, faz com que o indivíduo se pense livre, quando na realidade o sistema explora a sua liberdade. Em “No enxame” (“enxame” é o outro tome para “a rede” ou “a teia” – e logo no nome ouvimos os zumbidos da incomunicação de estarmos sempre ligados), salienta a hipercomunicação digital que “destrói o silêncio de que a alma necessita para refletir e para ser ela própria”. Em “A expulsão do outro” defende que “a expulsão do diferente e o inferno do igual [quanto mais iguais, mais velozes, mais maquinalmente produtivos, mais consumistas] traduzem-se em fenómenos como o medo, os movimentos identitários e nacionalistas, a globalização e o terrorismo”.
Espero que Byung-Chul Han não seja como alguns pensadores-comentadores que têm explicação para tudo e o seu contrário depois de as coisas acontecerem. Para já, estou entusiasmado com a leitura, ainda um pouco saltitante e superficial, destes três livros.