Bastam uns minutos de conversa para percebermos que Michelle Cascais Rita não se verga perante a expressão “não consegues”. Muito pelo contrário. De cada vez que a ouve, transforma-a num catalisador, empenhando todas as forças para provar que é capaz. A culpa, confessa-nos, é das mulheres da sua família - tanto do lado da mãe como do pai -, que são a sua maior fonte de inspiração. Blogger, escritora, líder de viagens, podcaster, está prestes a lançar-se em duas novas aventuras: esta sexta-feira, estreia um espetáculo de Stand Up Comedy; e a 1 de julho, lança uma linha de biquínis com a sua assinatura. É, acima de tudo, “uma criadora”, conta-nos, durante uma conversa junto ao mar, essa força da natureza que tanto admira e que vai funcionando como “uma espécie de terapia”. Aos 33 anos, Michelle Cascais Rita diz que ainda lhe falta fazer tudo.
Nasceu em Connecticut, nos Estados Unidos da América (EUA), mas é à Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, que chama de “casa”. “Vim para cá com 1 ano, as minhas memórias são todas daqui”, testemunha. Entre os sonhos de infância estava o de ser jornalista. “Desde muito cedo. Lembro-me de ter escrito uma história sobre uma gota de água que cai no mar, tinha 7 anos, e essa história foi publicada no jornal da escola”, recorda.
Foi, assim, com toda a naturalidade que decidiu tirar o curso superior em ciências da comunicação, no ISCIA, longe de imaginar que, como tantos jovens da sua geração, iria ter dificuldades em encontrar trabalho em Portugal. “Foi muito triste e desmotivante”, admite, sem qualquer tipo de pudor. Decidiu pegar no passaporte americano e tentar a sorte do outro lado do Atlântico.
Rumou a New Jersey e começou por trabalhar num bar. “Depois fui crescendo, conhecendo pessoas - a América é o país das oportunidades - e alguém me deu uma oportunidade que aqui nunca me deram. Fui Social Media Manager de uma empresa imobiliária”, testemunha. Foi durante essa estadia nos EUA, que acabou por ser prolongar por cinco anos, que Michelle Cascais Rita lançou as sementes para uma carreira auspiciosa no mundo digital. Para matar as saudades de Portugal, e da família, criou o blogue “Life With Alice”, que viria a ser duas vezes premiado pela Momondo, plataforma internacional de pesquisa de voos e de hotéis.
Pouco tempo depois, surgia o seu primeiro livro, Mel, abrindo a porta a um segundo, As Miúdas, lançado em 2021 (ambos editados pela Sana Editora). Já tem história e ideias para o terceiro, mas não irá escrevê-lo de imediato. “Tenho muitos projetos neste momento em mãos”, repara a também líder de viagens. O que é isso? “É alguém que faz um percurso, um itinerário, onde espelha a sua vivência. É um tour à sua imagem. Por exemplo: quem vai comigo a Nova Iorque obviamente que também vai aos sítios turísticos, mas também tem experiências e outros sítios que eu conheci por viver lá”, especifica.
Passa muito tempo fora de casa, de malas feitas, a cumprir rituais que muitos, erradamente, entendem como se fossem férias. “Mas não são. Tenho um grupo à minha responsabilidade, há horários para cumprir, há pessoas e moods para gerir. Somos pessoas, temos fome, sede, e é preciso gerir isso tudo”, refere.
Se é para influenciar que seja pela positiva
Pelo meio de tantas atividades, Michelle Cascais Rita ainda arranja tempo para um outro projeto através do qual ajudar a combater a fast fashion. “Quero influenciar as pessoas a reutilizar, a comprar em segunda mão”, introduz, a propósito da razão de ser da Cascais Closet. “Na América surgiu um conceito novo, o thrift, que são lojas que vendem artigos em que só há um tamanho, só aquela cor, e muito baratos. Então, eu comecei a comprar imenso quando estava lá. Enviei tudo para Portugal e, quando regressei, comecei a vender aqui, no instagram, em pop ups”, explica. “Quando esgotarmos a roupa que trouxe dos EUA, o objetivo é que as pessoas venham vender-nos as suas roupas para nós vendermos. A ideia é haver mesmo uma reciclagem”, acrescenta.
A proposta da Cascais Closet (projeto ao qual vai associar, a partir de 1 de julho, a sua própria marca de biquínis) acaba por exemplificar aquilo que Michelle Cascais Rita tenta levar por diante enquanto “influencer” - termo que merece, muitas vezes, reações depreciativas. “O que tento fazer é ser uma ‘influencer’ pela positiva. Mais do que o número de ‘likes’ ou de comentários, é ter uma mensagem e tentar ajudar o outro ou fazer algo pelo planeta”, afiança.
Prestes a subir ao palco com o seu espetáculo de Stand Up Comedy, Dicas da Xeli - a estreia, na Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré, há muito que se encontra esgotada - Michelle Cascais Rita não escondia, naquele dia em que conversava com a Aveiro Mag, sentir uma pitada de nervosismo. Apenas na dose certa, pois o espetáculo, acredita, tem tudo para dar certo e, quem sabe, chegar a outros auditórios.
