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Antigo apeadeiro ferroviário convertido em estação de arte e cultura

Artes

Há vários anos que o antigo apeadeiro ferroviário de Canelas, em Estarreja, já não recebe passageiros, naquela azáfama diária de quem utiliza o comboio como meio de transporte preferencial. Despejado da sua função primitiva, o edifício, contudo, por lá continua.

Por dentro, os bancos corridos recordam a impaciência daqueles que neles se sentaram à espera do comboio e os azulejos rústicos que preenchem as paredes parece que ainda guardam a memória dos horários que neles estiveram afixados. Por fora, o edifício é branco, como manda a tradição, e a palavra “Canelas” aparece repetida a cada fachada. Os pequenos candeeiros ainda estremecem de cada vez que passa um Alfa Pendular e o velhinho relógio parisiense, estalado pelo tempo que também lhe roubou os ponteiros, já não dá horas. Vai resistindo como pode.

Mário Afonso, apesar de ter vivido boa parte da sua vida ali ao lado, em Estarreja (havia de mudar-se para Canelas depois de casar), não tem memória daquele espaço na sua função original, a de apeadeiro ferroviário. Por outro lado, não há melhor pessoa para descrever as novas valências que o edifício, depois de renovado, passou a oferecer à comunidade.

Terminada a sua formação académica e artística, Mário Afonso terá contactado a União de Freguesias de Canelas e Fermelã para saber da possibilidade de vir a ocupar o espaço do antigo apeadeiro, instalando nele um atelier de produção artística onde pudesse desenvolver workshops e exposições. A ideia inicial – a de ali montar um atelier de trabalho – acabou por nunca se concretizar, mas com o aval da autarquia, rapidamente, o espaço passou a ter nova vida.

A função de galeria de arte é a que tem tido maior relevo no leque das novas valências que a Estação – nome pelo qual é conhecido aquele espaço, bem como o projeto que acolheu – ganhou. O objetivo passa pela divulgação do trabalho de artistas nacionais e internacionais de várias áreas (fotografia, pintura, música, videoarte, entre outras) através da realização de exposições a cada dois meses. Por ora, a maioria dos participantes nos eventos da Estação ainda são pessoas de fora da comunidade e mais ligadas ao meio artístico. Todavia, Mário está convicto que “aos poucos, a comunidade local vai conhecendo e abraçando o projeto”, dando nota do crescente número de pessoas de Canelas e Estarreja que tem participado nas iniciativas que ali acontecem.

Para quem vem de fora, e a Estação tem acolhido artistas de vários pontos do globo (Finlândia, Brasil, Paquistão, Grécia, Espanha, Inglaterra), há algo a que não é possível ficar-se indiferente: o facto de aquele ser um antigo apeadeiro e de, ainda hoje, estar a poucos metros de uma linha ferroviária bastante movimentada com comboios urbanos e de longo curso. Há uma identidade própria ligada ao imaginário dos comboios, das estações e da ferrovia. Segundo Mário Afonso, é comum os artistas que visitam a Estação tentarem adaptar o trabalho que ali desenvolvem àquilo que o espaço lhes sugere, aproveitando também a ligação à terra e às gentes de Canelas. Podíamos chamar-lhe inspiração, mas Mário não gosta de associar esse conceito à criação artística. Admite, porém, que o ambiente rural, a envolvente natural e a mística ferroviária daquele espaço são “bons pontos de partida, boas fontes para se desenvolver um trabalho , já que servem de referência e suscitam ideias aos artistas”.

Por estes dias, por exemplo, está patente na Estação a mostra “Alinhas”, uma exposição de um coletivo de oito artistas, alunos do mestrado em criação artística contemporânea. “A solução encontrada para juntar todos os trabalhos a expor foi pegar em linhas e construir uma espécie de mapa de metropolitano, em que cada linha tem uma cor e corresponde a um artista. Nos pontos de interceção, há sempre um dos trabalhos que fica em evidência”, explica Mário Afonso. “A imagem geral funciona muito bem e, convenhamos, não haverá galeria mais apropriada para expor arte em forma de mapa ferroviário do que a Estação”, acrescenta.

A Estação está a organizar o projeto Arte365, que consiste em deslocar trabalhos artísticos para outros meios, como espaços não convencionais, espaço público e espaços relacionados com a natureza. “Queremos levar a arte à comunidade”, afirma Mário.

Outras das atividades que ali se desenvolvem são sessões de cinema, embora ainda não tenha sido possível estabelecer um calendário fixo para estas acontecerem, muito por conta das contingências relacionadas com a pandemia. A Estação já funciona como extensão do festival MarMostra – Mostra de Curtas-Metragens da Praia da Tocha, em Cantanhede, que já se estendia a localidades como a Figueira da Foz ou a Praia de Mira e, desde o ano passado, passou também a acontecer em Canelas.

Na Estação, a componente formativa também não foi descurada. Mário orienta workshops para crianças, incentivando a produção e o pensamento artístico e crítico. Neste momento, a turma tem idades compreendidas entre os 8 aos 14 anos e junta-se uma vez por semana.

Finalmente, é importante notar que aquele antigo apeadeiro está inserido numa comunidade rural, pitoresca e com a qual a natureza foi particularmente generosa. Basta olhar para o céu: por todo o lado, há cegonhas a voar em círculos largos. São às dezenas, como, nesta altura do ano, são as crias que, do alto dos ninhos – e, por ali, é raro o poste ou chaminé que não esteja ocupado com uma destas construções –, gloteram endiabradas e sobranceiras.Do outro lado da linha de comboio, está o BioRia, um projeto de conservação ambiental e da biodiversidade, que conta com uma rede de percursos pedestres e cicláveis pelo meio da natureza e que Mário faz questão de dar a conhecer aos artistas que visitam a Estação. Não é, por isto, de estranhar que alguns dos projetos artísticos que ali surgem estejam direcionados para questões ambientais, da preservação e sustentabilidade.

Para o futuro, Mário pretende dar continuidade à vertente expositiva, melhorando as condições para o poder fazer. Outra das ambições da Estação passa pela realização de residências artísticas em Canelas, uma forma de incentivo ao trabalho de investigação, criando condições para que artistas possam explorar a freguesia e o concelho.

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