Tem 25 anos – cumpridos no primeiro dia do ano -, é natural de Lousada, no Porto, terminou, em dezembro, o mestrado em Engenharia Biomédica e toma posse, amanhã, como presidente da AAUAv – Associação Académica da Universidade de Aveiro –, sucedendo, desta forma, a Wilson Carmo, de quem foi vice-presidente adjunta. Em entrevista à Aveiro Mag, Joana Regadas antecipa um mandato com foco na “inclusão”, “inovação pedagógica” e “saúde mental” dos estudantes, destacando a cultura como a “área-chave” do seu projeto.
Em 2019, depois de um ano algo atribulado, em que não só não conseguira entrar no curso que sempre idealizara, como acabaria por desistir daquele que, pensou Joana Regadas, lhe iria servir como trampolim para a sua primeira opção, o destino trouxe-a para Aveiro, onde ingressou na Licenciatura em Engenharia Biomédica. “Interessou-me a aposta no ensino mais prático. Não queria estar sempre fechada numa sala de aula. Queria um curso que estimulasse o meu pensamento crítico e a minha criatividade”, resume, dando nota da importância do GrETUA – Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro – nesta escolha. “O teatro sempre foi uma das minhas grandes paixões. Ter a possibilidade, caso surgisse a oportunidade, de poder fazer teatro em contexto universitário foi uma das coisas que me aliciou a escolher para Aveiro”, relata a jovem. “Infelizmente, acabei por seguir outro caminho e, com grande pena, nunca cheguei a integrar o grupo. Só acabei por descobrir um pouco do mundo do GrETUA quando entrei para a direção da Associação Académica”.
Hoje, Joana Regadas já é “aveirense de coração”. “Até se nota no sotaque”, brinca, deixando que se notem vários trejeitos aveirenses por entre os betacismos, vogais abertas e desnasalizações dos ditongos que marcam a pronúncia do Norte.
Nem tudo foi fácil quando se mudou para a cidade dos canais e, nessa fase, “a academia foi preponderante para me sentir acolhida”. “Em pouco tempo, já dava por mim a tentar convencer os meus amigos de Lousada a virem visitar Aveiro, a praia, os canais”. Cinco anos depois, Joana Regadas ainda sente que está “a descobrir Aveiro”, dando por si, não raras vezes, a aprender novos pormenores sobre a história e as tradições da cidade, a encontrar diferentes refúgios ideais para apreciar o pôr-do-sol nas pausas de estudo ou a desvendar mais um daqueles segredos que as gentes aveirenses teimam em guardar.
Uma liderança feminina com os olhos postos na cultura
Joana Regadas anunciou a sua candidatura à presidência da AAUAv no dia 25 de novembro, uma decisão “muito ponderada” e para a qual contribuíram vários fatores: “antes de mais, uma grande vontade de retribuir o que a associação fez por mim, a forma como me acolheu e tudo o que me ensinou e ajudou a crescer”; “em segundo lugar foi considerar que a associação tem muito para crescer, nomeadamente, num dos aspetos que espero venha a ser central no meu mandato, a cultura. É uma área que gosto de explorar e que espero poder desenvolver em contexto académico”, anseia a dirigente, manifestando a ambição de querer que, no que respeita à cultura, “haja um antes e um depois de 2025”; “o terceiro fator prendeu-se com a possibilidade de poder voltar a ser uma mulher a liderar esta casa” – ao ser eleita, Joana Regadas tornou-se a quinta mulher a assumir a presidência da associação, depois de Maria Arménia Fonseca (1984), Maria Margarida Ribeiro (1985), Maria Lopes (1986) e Rosa Nogueira (2004 e 2005). “No mundo do associativismo académico, os cargos de liderança são dominados por homens, mas é importante eliminarmos esse estigma e mostramos que as mulheres têm espaço e são igualmente capazes”, aponta.
Depois de um mandato como vice-presidente de apoio aos núcleos e, mais recentemente, como vice-presidente adjunta da direção comandada por Wilson Carmo, há quem cole ao projeto que desenhou para o próximo ano da AAUAv o rótulo de “plano de continuidade”, mas isso não parece aborrecê-la. “Acaba por ser um projeto de continuidade, sim, na medida em que os ideais da AAUAv se mantém e não há qualquer rutura ou reestruturação da forma de pensar e de conduzir os trabalhos. O que se alteram são os objetivos do projeto e a equipa responsável por concretizá-los, que surge renovada, cheia de vontade e comprometida com a preparação do futuro”.
Antes de chegar à direção, a jovem dirigente já havia sido vogal do Núcleo de Estudantes em Engenharia Física, em 2021, e vice-coordenadora do núcleo, no ano seguinte. Para Joana Regadas, o associativismo académico já tem poucos segredos. “Tem sido um percurso de crescimento pessoal exponencial. A princípio, não fazia ideia do que era ser dirigente associativa, mas o bichinho foi crescendo de forma desmesurada dentro de mim, começando a ocupar cada vez mais espaço e a ter um papel cada vez mais determinante no desenvolvimento da minha personalidade e visão do mundo”, conta, listando a “coordenação de projetos” e a “capacidade de liderança” como duas das mais relevantes aprendizagens que esta experiência já lhe proporcionou. Outra foi a “gestão de tempo”: “Não fazia a menor ideia do que era ter uma agenda preenchida e, ainda assim, arranjar tempo para estudar. Por conta da AAUAv, aprendi que é possível conciliar equilibradamente a vida de estudante, de dirigente associativa e a nossa vida pessoal”, afirma, esforçando-se por desmistificar aquela narrativa de os jovens que se dedicam ao associativismo académico terem de deixar os estudos de parte. “Requer muito de nós, mas é possível”, sublinha.
Saúde mental, inclusão e inovação pedagógica
Quem passou pelo Campus de Santiago nas semanas que antecederam o ato eleitoral, é provável que tenha visto alguns estudantes com camisolas onde se podia ler “Unidos pela Voz”, lema da candidatura de Joana Regadas. “Na primeira reunião com as pessoas que constituíam a lista, pedi que cada um dissesse que contributo estava disposto a trazer para a AAUAv e quais achava que deviam ser as prioridades do nosso projeto. Acabou por culminar nesta ideia de ‘dar voz’, ‘ser um megafone de união para os anseios dos estudantes”.
Entre eles está, seguramente, a questão da saúde mental, um dos vetores mais relevantes do programa de Joana Regadas. “Uma das nossas prioridades é fazer um estudo estatístico para perceber quais são, efetivamente, as necessidades vividas pelos estudantes da Universidade de Aveiro. Todos os dias nos chegam testemunhos individuais, mas não há um estudo concreto e abrangente que permita avaliar esta questão de forma mais fria, identificando os problemas e propondo soluções exequíveis e com prazos para serem postas em prática”. A dirigente prefere “um plano a longo prazo e nunca uma medida tampão”, porém, até lá, compromete-se a “continuar com os cheque-psicólogo” e com os “descontos nas clínicas de psicologia”.
Outra das bandeiras do programa de candidatura de Joana Regadas foi a “inclusão” de estudantes internacionais – assumindo uma voz ativa na contestação das propinas exorbitantes que lhes são impostas, arranjando formas de os auxiliar, e contribuindo para a sua integração, sabendo que, por virem de um país estrangeiro e chegarem a Aveiro numa altura em que os principais momentos do programa de integração de novos alunos já passaram, precisam ainda mais dessa ajuda –, mas também dos estudantes da ESTGA – Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda – e da ESAN – Escola Superior Aveiro Norte –, em Oliveira de Azeméis, que “tantas vezes se sentem deslocados da vida académica e dos principais centros de decisão”. “Se, para quem estuda no Campus de Santiago, por vezes, o Campus do Crasto parece tão longe – e é mesmo aqui ao fundo [a Aveiro Mag entrevistou Joana Regadas na Casa do Estudante, sede da AAUAv, que se localiza na zona do Crasto] –, a aproximação aos Campus de Águeda e Oliveira de Azeméis é um desafio muito maior, que vai exigir muito mais de nós”, confessa a jovem dirigente. “Queremos ter uma presença mais ativa nessas escolas, promover atividades com maior impacto, que estejam bem enquadradas com a sua realidade própria e vão ao encontro das necessidades dos seus estudantes”, reitera.
Já no que concerne ao tema da inovação pedagógica, o objetivo passa por “criar uma plataforma de debate sobre a atualização de métodos de ensino” e “a necessidade de rever unidades curriculares” de forma a adequar o ensino às exigências e expectativas das gerações do futuro.