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Samuel Correia: “A música é uma espécie de melhor amigo”

Artes

Aos 16 anos, Samuel Correia acaba de editar o seu primeiro EP – “Reticências” –, seis canções recheadas de experiências pessoais, que o feirense escreveu, compôs, gravou e produziu sozinho, no seu quarto, em plena pandemia.

Desde o início do mês de dezembro, a plataforma de streaming Spotify tem apresentado aos seus utilizadores as músicas e os artistas que estes mais ouviram ao longo do ano que agora termina.

Se pudéssemos espreitar a revisão musical de Samuel Correia, veríamos nomes como o da jovem norte-americana Billie Eilish – é, aliás, com um waiting ring de “Bury a Friend” que o feirense saúda todos quantos lhe telefonam –, mas também do português Rui Veloso, ou de bandas incontornáveis como os Beatles ou os Queen. Há, contudo, uma artista que, independentemente do ano, tem sempre lugar reservado no top das mais ouvidas, mais cantadas, mais queridas de Samuel: Aurea.

Samuel nunca vivera num ambiente em que se ouvisse muita música quando, por volta dos 7 anos, ouve pela primeira vez “Okay, Alright” – o single de estreia da cantora Aurea. Aqueles acordes quentes e a voz da cantora algarvia ficam-lhe, desde logo, no ouvido, mas Samuel ainda estava longe de imaginar o papel que a artista viria a desempenhar no seu percurso e a forma como a música viria a mudar a sua vida.

“Okay, Alright” é a primeira canção que Samuel se lembra de ter imitado, bem como aquela que ousou levar a palco pela primeira vez, numa festa da escola, no 5.º ano. Quanto a Aurea, a artista que o fez apaixonar-se por música, que o jovem acompanha desde sempre e cujo poder vocal e capacidade de interpretação emocionada ele tanto elogia, viria, com os anos, a tornar-se numa amiga. Hoje, Samuel não deixa margem para dúvidas: “ é a artista da minha vida”.

Mas voltemos àquele período entre o fim da infância e o início da adolescência: Samuel tinha 12 anos e a ideia de que o seu futuro poderia passar pela música começava a impor-se como uma hipótese cada vez mais real. Ainda antes de completar 14 anos, começa a ter aulas de canto e piano, na Escola de Música Oliveira Muge, em Ovar, e, cerca de um ano depois, escolhe ingressar no ensino secundário na Escola de Artes Jobra, na Branca, concelho de Albergaria.

“A partir daí, passei a viver para a música”, admite, em conversa com a Aveiro Mag.

Antes de optar pelo ensino artístico, Samuel passou por uma situação de depressão motivada por várias experiências dolorosas e episódios de maus tratos em contexto escolar.

Parafraseando o título de uma crónica do comediante Ricardo Couto para a Comunidade Cultura e Arte, “A depressão é medo e o medo combate-se, tem de se combater”. E nesta batalha premente contra o medo, a música tem sido, para Samuel, a espada que se lhe adianta, o escudo que o protege e a armadura que o envolve.

Tem-se afirmado como resposta para os anseios de um jovem que ora precisa de estímulos que o despertem, ora tem necessidade de um bálsamo que o acalme. E a música consegue ser tudo isso e mais. É um escape fundamental para a partilha de emoções e afetos. “A música ajuda-me a libertar os sentimentos negativos, mas também a celebrar os momentos positivos. É uma espécie de melhor amiga”, partilha o jovem músico.

Samuel nasceu e cresceu em Santa Maria da Feira. Aquele município acabaria por se tornar berço de algumas relações que lhe deixaram cicatrizes mais profundas, bem como cenário das experiências inacabadas que viria a transformar em canções. Talvez por isso, o jovem tenha escolhido São Miguel de Souto – de onde é natural – para dar seu primeiro concerto. A “jogar em casa”, Samuel apresentou um showcase acústico no coreto da freguesia, dando início àquela que – assim permita a evolução da pandemia – será a tour de apresentação do seu EP “Reticências”.

Na expressão escrita, as reticências usam-se para indicar um pensamento ou ideia que ficou por terminar e, neste EP, as canções seguem precisamente essa orientação. Há paixões não-correspondidas e desilusões amorosas; há a tormenta da perda, a sensação de não se ser suficiente e a sôfrega ânsia da omnipresença. Todos os temas são “histórias que ficaram sem um fim, experiências que eu vivi e que foram interrompidas sem nunca chegarem a ter um desfecho”, esclarece Samuel.

O músico conta que este EP esteve, na verdade, para ser um longa-duração, mas a pandemia – como em tantos outros casos – fez das suas e não permitiu que se realizassem os encontros necessários para concretizar um projeto nesses moldes. Todavia, Samuel estava dedicado a criar e apresentar trabalho em 2020. Decidiu, por isso, avançar com uma versão reduzida: seis canções que, com a exceção de um tema que o jovem escrevera com Martinha Coelho, na Jobra, dias antes do grande confinamento da primavera passada, foram escritas, compostas, gravadas e produzidas por Samuel, na intimidade do seu quarto.

O jovem relata que “as músicas iam surgindo naturalmente”. “Sentia aquilo, sentava-me ao piano e escrevia. A grande maioria das músicas sairam-me de uma assentada”, conta Samuel. Quando compõe para outros artistas – atividade que também já pratica com alguma regularidade – Samuel é mais organizado. Porém, quando está a compor para si próprio, o foco está todo na “preservação da verdade”, consciente que, na posterior produção da música, pode reorganizar os registos em bruto.

Exprimir verdade naquilo que compõe é mesmo regra de ouro para Samuel Correia e o seu método de trabalho é quase sempre o mesmo: senta-se ao piano, procura a tonalidade que melhor expressa o que está a sentir e, a partir daí, “é começar a experimentar acordes e a escrever a letra”. Assim mesmo: palavras e música ao mesmo tempo, porque “é a forma mais verdadeira e sincera” de dizer o sente.

Ainda é muito cedo para avaliar os efeitos que a pandemia vai ter nas nossas vidas a longo prazo, mas há realidades em que já começa a fazer sentido falar-se de um mundo pré-Covid e um mundo (ainda em perspetiva) pós-Covid.

No que diz respeito a Samuel, por exemplo, desde que a pandemia rompeu, está “mais calmo”, “menos impulsivo” e “mais focado no que é possível fazer no presente do que a fazer planos a longo prazo”. O jovem músico orgulha-se da autonomia que tem vindo a conquistar e considera-se mais apto do que no início do ano para lutar por aquilo em que acredita.

A crise pandémica não foi suficiente para o impedir de compor, produzir e editar o seu trabalho, mas está a ser um osso duro de roer no que concerne à possibilidade de apresentação pública do seu trabalho.

Samuel Correia está “ansioso por voltar a pisar um palco”. Assim que for possível retomar a tour de apresentação de “Reticências”, o jovem quererá fazer-se acompanhar de uma banda que lhe permita apresentar as canções do EP com uma roupagem diferente, bem como explorar temas inéditos e versões de outros artistas. Samuel promete “apresentações ao vivo que misturem um registo mais calmo, com voz e piano, com momentos para as pessoas se mexerem e sentirem o vibrar dos instrumentos”. O músico reconhece a importância do trabalho de composição e produção em estúdio, mas a sua “paixão é mesmo o palco”.

“Quando estou em palco sinto a responsabilidade de fazer com que aquela hora seja a melhor hora possível na vida daquelas pessoas”, afirma. Além disso, “não há nada melhor que ouvir as pessoas a cantar as nossas letras”, relata o jovem músico, recordando com especial carinho o seu primeiro concerto em auditório, no início de novembro, no Avenida Café-Concerto, em Aveiro. “Foi na noite da véspera do meu aniversário e foi fantástico. Não podiam ter-me dado melhor prenda”, conta. Este amor ao palco e esta dádiva pessoal ao público são cunhos de verdadeiro artista e bons indícios para uma eventual carreira na área da música.

Aos 16 anos, há ainda muita margem para mudar de ideias, mas, pelo menos por ora, o objetivo é só um: “Música”, afirma, convicto. “É a única coisa que eu sei fazer – escrever, cantar, tocar, produzir –, e aquilo que me faz mais feliz. Acho que está destinado. De alguma forma, será música”.

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