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José Nuno Amaro: O desígnio da bicicleta, da Gafanha ao Médio Oriente

Sociedade

Falar com o José Nuno Amaro é sempre uma aventura. Até podemos pensar em encaminhar a conversa para um qualquer lado, mas depois somos sempre ultrapassados – dentro das regras de trânsito – pela intensa e surpreendente pedalada daquele que, um dia, foi mais conhecido por ser guarda-redes de futebol.

Empreendedor e, muitas vezes, visionário, defende hoje a causa das bicicletas como muito poucos, num reconhecimento que, diz, lhe é dado mais por quem é de fora do que em Portugal, subjugado muito pelo “estigma” de “não deixar nada por dizer” a quem quer que seja. É o preço a pagar pela frontalidade.

Da Gafanha da Nazaré a Águeda

Há coisas que têm sempre uma razão de ser. A ligação às bicicletas é uma delas. Parte da infância foi passada na Gafanha da Nazaré, onde é quase tão normal andar de bicicleta como respirar. As ligações a Águeda também justificam outro tanto. O avô esteve envolvido, entre outras frentes, na fundação de uma das marcas mais conhecidas em Portugal, a Órbita.

“Para trabalhar na lógica da promoção da bicicleta vou sempre ao passado buscar a inspiração. Saber de onde vim, o que foi a minha família, as minhas raízes. É dessa forma que se constrói um futuro com mais estrutura, com projetos. A minha paciência de chinês e esta vontade em fazer coisas só tem uma razão: o meu passado, a minha história”.

Desilusão com a tribo do futebol

Os muitos anos passados como profissional de futebol ajudaram a moldar-lhe o caráter. Principalmente, na adversidade: “No dia em que me lesionei gravemente e fui forçado a abandonar, senti que tive uma doença contagiosa. Não recebi, dessa tribo que é o futebol, a solidariedade que esperava. O que eu aprendi foi que nunca farei isso com os outros. Não viro as costas a ninguém. Devolvo sempre a chamada que não atendo, respondo ao email, o que quer que seja, porque o que falta hoje é comunicação, as pessoas serem ouvidas. Mas essa indiferença fez-me mais forte. E mostrou-me, para a vida, que estamos sempre sozinhos quando temos uma boa ideia, até que alguém estranho e desconhecido nos dá o valor. E surpreende-nos nesse ato de altruísmo”.

 

A visita e a inspiração

Já se sabe: as boas ideias surgem quando menos se espera. Do nada. Ou de um vislumbre. Numa visita a uma empresa do distrito – a Polisport – surgiu a pergunta: “Conseguem colocar uma cadeira de transporte de crianças no lugar do selim?”. A resposta foi positiva e o teste efetuado com crianças com necessidades especiais.

Tudo porque, no périplo por todo o país, na defesa e divulgação do seu POP (Programa Operacional de Pedalar) e Pré-POP – destinado ao pré-escolar, percebeu que a principal dificuldade das crianças autistas era estarem confortáveis e, sobretudo, confiar. Na bicicleta. No mundo. Daí que depois de experimentar “segurá-las” com uma espécie de cinto à volta da cintura, e de direcionar o olhar delas sempre para a frente, elas, mais “seguras”, reagiam bem às bicicletas. “As balance bike, sem pedais, uma das melhores invenções de sempre”, assegura José Nuno Amaro.

O lançamento e a internacionalização do projeto

O convite para integrar uma comitiva de jornalistas e especialistas, sobretudo alemães e suíços, surgiu de forma surpreendente. Fruto de todos os projetos efetuados ao longo da última década, desde a bicicleta ANGEL ao BUTE (Bicicleta de Utilização Estudantil), passando pelo POP e Pré-POP, no qual realizou um estudo abrangente, ancorado na visita a 290 municípios, num projeto piloto escolar com 80 alunos e numa investigação num universo de mais de 7 mil alunos do pré-escolar ao 1º e 2º ano do ensino básico, José Nuno Amaro granjeou elogios e simpatias, sobretudo fora de Portugal.

Nessa visita – na qual passaram pela mesma fábrica – apresentou-lhes o projeto O.NE e a reação foi de tal forma positiva que a ideia vai passar as fronteiras e chegar aos dois países. “O objetivo é dar condições a todas as crianças com necessidades especiais para que se sintam seguras a andar de bicicleta. Tenho naturalmente de encontrar mecenas para me ajudar, mas as bicicletas serão oferecidas. Da mesma maneira que as primeiras vinte que mandei fazer, já as entreguei um pouco por todo o país. Agora o importante é que sejam utilizadas e quando já não forem precisas, que mudem de mãos, de instituição”.

O embaixador da bicicleta

No entanto, tal como a entrega de cada uma dessas bicicletas, de forma gratuita, o melhor dessa visita veio de um jornalista alemão, da Velobiz.de, que o considerou o perfeito “embaixador da bicicleta em Portugal”. José Nuno Amaro diz que tais palavras o deixaram “emocionado”, principalmente porque no país, que é o dele, sente que não é “bem visto” e que tem “um rol incompreensível de anticorpos”, mas que sabe viver com isso.

“O que faço, faço-o por respeito às minhas origens. Naturalmente que preciso de ganhar dinheiro, mas o que já investi para divulgar a bicicleta e todo o modo de vida que a rodeia, os prémios que já ganhei de desenvolvimento de projetos para autarquias, e agora o Mozambikes, mostram-me que trilho o caminho certo, e que mesmo que haja obstáculos, o que importa é dotar todos das mesmas oportunidades”.

Mozambikes, PALOPs e Médio Oriente

A pandemia parou muitos projetos. O mundo parou, mas não deixou de girar. Assim como a cabeça de Zé Nuno. E as ideias foram surgindo e sendo preparadas no silêncio. No recanto. Mal foi possível, a chamada chegou. As vontades juntaram-se e o bilhete para Moçambique foi comprado.

“O Rui Mesquita, fundador da Mozambikes, uma organização moçambicana, mas desenvolvida por ele e pela esposa americana, foi-se adiando. No início deste ano lançou-me o repto para ir apoiar e ajudar a desenvolver o Mozi, o primeiro projeto do género em toda a África. Mozi Pedalar nas Escolas, um ‘primo’ do POP obviamente ajustado à realidade. Começou na Casa do Gaiato de Massaca e também teve uma ação de promoção numa escola de Maputo”.

As 20 bicicletas entregues à Casa do Gaiato destinadas a crianças dos 3 aos 12 anos, sensivelmente, já estão em funcionamento. Também foi dada formação “a 40 elementos, de desenvolvimento de atividades no meio escolar, equipa essa que vai formar os professores em todo o território”, explica.

Mas o projeto tem tudo para crescer para fora das fronteiras de Moçambique. “Mantenho-me como consultor e coordenador do projeto em todo o mundo, e ele já está a fazer eco. Já temos contactos para outro PALOP e no mês que vem sigo para o Médio Oriente. Sempre em nome de um desígnio: a bicicleta”.

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