Quinta do Paço da Ermida vai ser hotel de charme

 

A Quinta do Paço da Ermida, em Ílhavo, vai ser transformada num hotel de charme. Quem o confirma é Miguel Casal, da empresa Spring Ocean, atual proprietária do espaço.

 

Apesar de o projeto de arquitetura não estar ainda feito, o empresário tem já algumas ideias definidas para o empreendimento que se estende até ao canal do Bôco da ria de Aveiro, por uma área de 50 hectares. “Uma das ideias passa por recuperar a parte agrícola, se possível também a produção de arroz, criar um centro hípico, um espaço de eventos e avaliar o potencial imobiliário”, avançou.

 

Além do edifício apalaçado e dos vastos jardins, onde se destaca o pomar de laranjeiras e a uma imponente e bicentenária araucária classificada como árvore de interesse público, o complexo conta ainda com os antigos currais, vacaria, cavalariça, celeiros e várias azenhas abandonadas, entre outras estruturas.

 

 

Uma das certezas já definidas passa pela criação de um estúdio de cerâmica na quinta. Será uma forma de honrar os anteriores proprietários, ligados à fábrica da Vista Alegre, e também o novo dono. Miguel Casal é fundador e administrador executivo da reconhecida marca de cerâmica Costa Nova – e, consequentemente, da empresa Grestel, com sede em Vagos.

 

Será um investimento para “alguns milhões de euros”, reconhece o investidor, ainda sem números concretos. Para já, a prioridade tem passado por investir na manutenção da propriedade, de forma a travar a sua degradação. Também têm vindo a ser desenvolvidos trabalhos de pesquisa com vista a traçar toda a história da propriedade, cujas origens remontarão aos séculos XV e XVII, bem como daqueles que nela habitaram. Em cima da mesa está a possibilidade de criar um pequeno espaço museológico.

 

 

 

Uma ermida, um paço, uma quinta

 

Há documentos do século XI que já referem a existência, por aquelas paragens, de uma ermida dedicada a São Cristóvão, daí o nome do lugar. A capela da Ermida mudaria, mais tarde, a sua evocação para São Tiago – o templo ainda preserva uma imagem do apóstolo em calcário que data do século XV – e, hoje em dia, é também conhecida pela devoção a Nossa Senhora do Rosário.

 

A capela da Ermida possui uma pequena torre sineira, à esquerda, e, à direita, uma ponte em arco que a liga diretamente à Quinta do Paço, propriedade mandada construir por Rui de Moura Manuel, no século XVII.

 

Rui era irmão de D. Manuel de Moura Manuel, bispo de Miranda e reitor da Universidade de Coimbra, o prelado responsável pela construção, não muito longe dali, na vizinha Vista Alegre, da capela de Nossa Senhora da Penha de França.

 

 

Depois da morte de Rui, a Quinta do Paço da Ermida fica na família Moura Manuel por mais duas gerações, até que, em 1727, Jerónimo António de Castilho, neto de Rui de Moura Manuel, a vende a Zeferino Rodrigues Candello.

 

Oitenta e cinco anos volvidos, a propriedade volta a mudar de donos, passando a acolher outra ilustre família do reino: É adquirida pelo fidalgo José Ferreira Pinto Basto, o mesmo que, pouco tempo depois, compra, em hasta pública, a capela de Nossa Senhora da Penha de França e os terrenos envolventes e neles funda, em 1824, a fábrica de porcelana da Vista Alegre.

 

A Quinta do Paço da Ermida mantém-se na família Pinto Basto por mais de dois séculos. Foi residência de habitação, casa de férias e, mais recentemente, chegou a integrar vários roteiros de turismo de habitação.

 

Em 2013, a capela da Ermida é doada ao município de Ílhavo para uma urgente intervenção de restauro. O edifício, que, até à data, fazia parte da Quinta do Paço, encontrava-se em elevado estado de degradação. Cinco anos depois, os herdeiros dos Pinto Basto desfazem-se definitivamente da propriedade que passa a estar sob a alçada da Spring Ocean.

 

 

*Fotos: Afonso Ré Lau

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