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Jackas, o Pai Natal de barbas feitas de valores

Gastronomia

O Pai Natal existe? É uma questão que se presenteia não raras vezes junto com outras prendas colocadas debaixo da árvore nesta altura do ano. A resposta pode parecer controversa, mas a verdade, diz-nos Jackas – o único Pai Natal certificado da Península Ibérica –, é que sim. Existe no imaginário de muitas crianças e até adultos. Um "imaginário de valores", como a partilha e a proximidade.

Nascido em Lourenço Marques 12 anos antes da Revolução dos Cravos, Joaquim Carlos Pereira da Rocha, que há muito se dá pelo nome de Jackas (um desvio do nome Jacques, em francês), é professor, ator e encenador da Arlequim – Teatro para a Infância e fundador e diretor do Museu do Brincar, em Vagos.

Aos 17 anos, vestiu, pela primeira vez, o fato de Pai Natal e, desde então, os seus Natais são feitos de afetos junto dos mais novos. Com as suas barbas brancas – e verdadeiras –, pertence a várias organizações de Pais Natais de diferentes pontos do globo e, este ano, fará, mais uma vez, a delícia dos mais novos na "Natal(i)a Terra do Pai Natal", evento que decorrerá em Vagos, de dia 14 a 22 de dezembro.

O bicho do Natal e do teatro

Em Lourenço Marques, agora Maputo, Jackas nasceu no interior do quartel militar onde o pai exercia funções. Antes ainda da revolução, quando tinha apenas dois anos, retornou (pela primeira vez, como muitos retornados) a Ílhavo, terra de origem da mãe.

Aí viveu as suas primeiras memórias de Natal. Lembra-se de ter quatro ou cinco anos e preparar, com os irmãos, a árvore e o presépio. Aí, era ainda o menino Jesus que colocava as prendas nos sapatos que deixavam em cima do fogão, junto à chaminé. Na manhã de dia 25, recorda, acordavam cedíssimo para as abrir, que passariam “por uma peça de roupa importante ou um jogo para os irmãos todos e muitos chocolates, que eram a parte mais saborosa do Natal nessa altura”, conta.

Com a mesma idade, estreou-se pela primeira vez em palco numa iniciativa da paróquia com o nome “Petinga da Casa” enquanto, na escola, ia fazendo magia e imitando Charlot. Por volta dos 13 anos, atuou, com dois amigos, num programa de televisão em Lisboa e não tardou a perceber que o teatro se revelaria mais do que um passatempo.

Em 1978, Ana Barros, que viria a ser sua esposa, lançou-lhe o desafio de fazer parte de uma peça que escrevera para ser apresentada em 1979, aquele que seria o Ano Internacional da Criança. Assim nasceu o Arlequim – Teatro para a Infância, associação cultural que percorreu nesse ano o país e que gere hoje o Museu do Brincar. “Foi assim que começou a vida do teatro”, conta Jackas, que, mais tarde, conseguiu a carteira profissional de ator.

O crescer das barbas

Foi a pedido de uma amiga que, com 17 anos, Jackas abraçou, pela primeira vez, a personagem de fato vermelho e barbas compridas, distribuindo prendas pelas crianças de uma casa na Vista Alegre. “A partir daí, comecei a ir aos jardins de infância em Ílhavo e isso levou a que me interessasse”, conta.

A vivência do teatro embrulhada nos mais pequenos ajudou Jackas a traçar um caminho formativo: depois de um bacharelato em Educação de Infância na Universidade de Aveiro e de uma licenciatura em Expressões Artísticas na Educação na Universidade do Minho, tornou-se o primeiro homem a licenciar-se em Educação de Infância em Portugal uma vez aberto o curso.

“Depois dei um salto da infância para a terceira idade”, recorda. Movido pelo entusiasmo de quem encontra rumo, fez uma especialização em Gerontoterapia em Barcelona, frequentou um Doutoramento em Ciências da Educação em Salamanca, um Doutoramento em Gerontologia Social em Santiago de Compostela e um Mestrado em Arte e Educação na Universidade do Porto, entre outras aventuras académicas que ia complementando com formações na área da expressão dramática.

Tornou-se também ele professor e, entre outros projetos, foi coordenador da Fundação Inatel, onde foi convidado a “desconstruir e dar uma nova roupagem ao folclore português para o congresso mundial de folclore organizado pelo CIOFF (International Council of Organizations of Folclore Festivals and Folk Arts)”. Com três grupos – de Águeda, Coimbra e Viseu –, construiu um ciclo que contava uma história, sob o título “A Sala da Brincadeira”, que retratava o dia, do despertar ao poisar do sol.

Pais Natais pelo mundo

Muito do conhecimento e experiências que foi colecionando foi colocando nas algibeiras do fato de Natal. “A determinada altura, não me bastava fazer de Pai Natal”. Durante alguns anos, "era uma personagem que enraizava numa determinada altura", mas, numa procura por um significado maior, foi encontrando respostas maiores em “organizações internacionais onde os Pais Natais se reúnem em associação, debatem vários temas e defendem posicionamentos na própria sociedade”. Foi então certificado pela escola Santa Claus Oath, depois um processo de reconhecimento de competências e a realização de um juramento que contou com 50 testemunhas, e nomeado representante da Santa Claus Peace Council em Portugal.

Juntou-se a várias outras organizações que se estendem pelo mundo e fundou, no ano passado, a primeira escola de Pais Natais na Península Ibérica, destinada a formar “pessoas com sensibilidade". Nem sempre “há uma linha de valores presente” nos Pais Natais que se encontram em Portugal, informa, e, como tal, a escola propõe abordar temáticas como “a psicologia da criança, a história de S. Nicolau, a comunicação e a risoterapia”, para que o Pai Natal seja uma figura responsável e não infantilizada.

De que é feito um Pai Natal?

Um Pai Natal “não é um comediante”, garante Jackas, mas sim um “bom ouvinte e um bom negociador”, que está atento ao que se passa em seu redor. “Eu tento ter um olhar periférico”, conta, “De repente, vou a caminhar na rua e tenho um idoso no quinto andar a olhar para mim, incrédulo, e eu digo-lhe adeus”.

É um Pai Natal irreverente, acrescenta, sabendo que, se chamado à ação, poderá ter de saltar de uma charrete para abraçar uma criança. “Não sou uma personagem afastada, ausente, sou uma personagem de proximidade. É essa proximidade que facilita o acreditar das crianças e até dos adultos”, reflete.

Das histórias que tem vindo a testemunhar, recorda aquelas que partem dos pequenos que menos têm. “São crianças muito realistas”, que pedem algo que possa trazer alguma normalidade, como um carro para o pai poder ir trabalhar ou a saída da mãe do hospital.

Num evento com crianças carenciadas, “caiu por terra” com uma questão colocada por uma menina de 13 anos – “Pai Natal, porque é que nunca vieste a minha casa?” –, que depressa acrescentou que aquele era o Natal mais bonito da sua existência.

A personagem que veste, de dezembro a dezembro, conta, é importante por isso mesmo: para além do sorriso que coloca de imediato no rosto dos mais novos, traz-lhes um imaginário de valores, como a humildade e a partilha. Um imaginário que deve ser alimentado e que é importante para o seu desenvolvimento.

É por ser feito destes valores que diz não haver diferença entre o seu ‘eu Jackas’ e o ‘eu Pai Natal’, conta. “Se me cruzar com uma criança em maio, sou o mesmo que em dezembro. O Pai Natal existe sempre, a qualquer minuto, em qualquer lugar”.

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