Sábado, 19 de junho de 1999: da bancada do Estádio Nacional do Jamor, em Lisboa, Nuno Quintaneiro vibrava com aquela que ainda hoje é tida como “a maior glória aurinegra”: a vitória do Beira-Mar sobre o Campomaiorense e a inédita conquista da Taça de Portugal.
Quase vinte e cinco anos depois do histórico triunfo, e já depois de ter exercido diferentes cargos – fundou e liderou os ‘Ultra Aurinegros’, foi diretor da secção de futsal e, mais tarde, da academia de futebol – e integrado outros executivos – entre 2014 e 2016, por exemplo, exerceu funções de presidente-adjunto naquele que terá sido, porventura, “o momento mais difícil da vida do clube” –, Nuno Quintaneiro tornou-se presidente do centenário clube aveirense, assumindo como principal desígnio do seu projeto “voltar a trazer os aveirenses para a vida do Beira-Mar”.
Ao fim dos primeiros três meses de mandato, o dirigente aurinegro diz ambicionar um clube que seja “reconhecido pelo seu ecletismo” – atualmente, o Beira-Mar conta com 13 modalidades (futebol, basquetebol, futsal, judo jiu jitsu, boxe, karaté, kickboxing, atletismo, squash, bilhar, paintball e xadrez) –, “pela qualidade da sua formação” – dá formação desportiva a cerca de um milhar de atletas –, e “pela identificação e envolvimento com a comunidade”.
Aos microfones da Aveiro Mag, Nuno Quintaneiro não esconde a “fragilidade financeira” em que o Beira-Mar se encontra. “Em bom rigor, todos os meses [o clube] perde dinheiro, mas estamos a tentar estancar essa hemorragia”, reconhece, admitindo uma certa desilusão pelo caminho que o clube tomou nos últimos anos. “Aquando da crise de 2015, fui daqueles que defendeu a extinção da SAD, o recomeço a partir da distrital, o regresso ao Mário Duarte e a recuperação dos direitos desportivos da formação. Apregoei o chavão ‘O Beira-Mar é Nosso’ com o intuito sincero de devolver o clube às pessoas (...)”, descreve, lamentando que esse “mote inspiracional” não tenha sido aproveitado para alavancar o clube”. No entender do dirigente, desde essa altura, o Beira-Mar voltou “ao paradigma que o havia conduzido à crise”, isto é, a insistir em fazer com que a equipa de futebol sénior subisse patamares desportivos à custa do endividamento do clube e do abandono do apoio às restantes estruturas e modalidades.
“Não condeno quem me antecedeu, mas acho que faltou rasgo, faltou visão, faltou perceber que tínhamos de mudar o paradigma”, entende o presidente beiramarense, para quem “a ideia de que temos de subir à pressa aos campeonatos profissionais porque a história e o prestígio do Beira-Mar assim obrigam é uma valente treta!”. A estrutura de receitas do clube está muito longe de poder suportar esse anseio e, para Quintaneiro, qualquer “aventura com investidores que só querem vir para aqui lavar dinheiro” está fora de questão. Subir de divisão com “dinheiro fácil” seria “condenar o clube a desaparecer”, afirma, sublinhando ainda que “o futebol não pode pôr em causa o desígnio social do clube”.
De acordo com a sua visão, o futuro passa por “construir um clube de relação que aproxime as pessoas e as traga para a vida do clube” e o presidente garante ter já “várias campanhas [de recrutamento de associados] previstas” – nomeadamente, junto de escolas, IPSS e empresas da cidade. No entanto, “primeiro é necessário comunicar projeto”. “As pessoas têm de perceber que o Beira-Mar desempenha um papel socialmente relevante” e que “o talento gerado na região tem no clube uma via profissionalizante de alto rendimento”. Há que “trabalhar bem a formação, de forma a conseguir chegar a um modelo que não só permita garantir a sustentabilidade financeira da instituição, mas também recuperar a nossa identidade”. “Se conseguirmos fazer isso, estou convicto que vamos trazer as pessoas de volta à vivência do clube”, suporta o dirigente.
* Texto produzido a partir da conversa conduzida por Rui Baptista e Francisco Silva aos microfones da Aveiro Mag.