Garantir o bem-estar das crianças e famílias
Foi a partir da sua própria experiência, enquanto mãe de um jovem com cancro, que Anabela Figueiredo percebeu que faltavam respostas para as crianças, jovens e respetivas famílias, afetados por esta doença. “A associação serve para responder às necessidades prementes de todas as crianças e jovens que passam por uma crueldade destas, bem como para as suas famílias”, numa “vertente não clínica, isto é, na qualidade de vida, no bem-estar e na saúde mental”, aponta. “A nossa ideia original passa por um centro de bem-estar, mas rapidamente percebemos que não seria fácil de executar porque é um projeto ambicioso. Mas as necessidades destas famílias são tantas que não podíamos descansar enquanto não arranjássemos respostas que aliviassem este sofrimento”, prossegue.
Em 2021, os dirigentes da Calioásis tiveram a ideia de começar a “prestar apoio ao domicílio através de atividades lúdicas – como a dança, treino personalizado, música, pintura. Atividades relacionadas com as artes, o corpo e o descanso do cuidador”. Apresentaram uma candidatura à Portugal Inovação Social, a “entidade pública por excelência desta área”, e o projeto foi aprovado – e cofinanciado pelo Fundo Social Europeu, pelo Orçamento de Estado e por investidores sociais públicos e privados. “Apoiámos 33 famílias e contratámos quase outros tantos prestadores de serviço em toda a região Centro para prestarem esse apoio ao domicílio em diversas áreas, as que fossem da preferência das crianças. Tudo personalizado e totalmente gratuito”, enquadra, lembrando que, se para crianças saudáveis não faltam atividades, para estas crianças não é assim. “Desenvolvemos uma metodologia segura, que exige pessoas com formação específica, o uso de EPIs e uma enorme flexibilidade dada a condição clínica da criança. Não como um ATL convencional em que se tem aquela atividade três vezes por semana e está feito”, explica Anabela. Em 18 meses, no âmbito do projeto que recebeu a designação de “Calisense”, foram desenvolvidas 1.500 horas de atividades nas casas das crianças.
A ideia passa, agora, por pegar nessa experiência e fazê-la chegar a ainda mais pessoas. “No final de 2023, ganhámos o prémio BPI Fundação ‘La Caixa’ Infância, com o projeto ‘Calisense Sobre Rodas’, para podermos levar alegria e cuidado a casa das crianças com cancro, numa ‘carrinha de encantar’. O valor do prémio permitiu-nos comprar a viatura. Resta agora investir na sua adaptação para as atividades que vai ajudar a promover”, introduz a fundadora da associação. “A carrinha vai ser revestida com material próprio, fácil de desinfetar, vai ter móveis, acesso para cadeira de rodas, ar condicionado, tomadas, wi-fi, monitor, uma parte envidraçada com um toldo exterior…”, exemplifica. Todos são chamados a apoiar a campanha de crowdfunding que está em curso para assegurar os 30 mil euros necessários à transformação da carrinha. Quem quiser (e puder) ir mais além pode tornar-se associado (25 euros por ano), inscrever-se na bolsa de voluntários - para desenvolver atividades pontuais, participando da vida lúdica do hospital - ou adquirindo os artigos da associação. “O ideal era ter mais associados e poder contar com a responsabilidade social das empresas, através de donativos. Já temos muitas empresas amigas e parceiras, mas era bom podermos contar com mais apoios”, desafia Anabela Figueiredo.
“As pessoas são sensíveis a esta causa [cancro pediátrico], ainda que não seja uma realidade muito conhecida. Precisamos de chegar às pessoas e de lhes explicar que estas realidades existem, que são problemáticas muito densas. Como se já não bastasse termos a vida de uma criança ameaçada - algo completamente contranatura na Europa do século XXI -, é um problema que afeta as famílias - a mãe, o pai, os irmãos… -, as finanças, a vida profissional… A vida normal das famílias pára, deixa de existir. Muitas vezes, um dos progenitores tem de deixar de trabalhar durante muito tempo, mas há muitas famílias monoparentais. Quem é que sustenta a casa?”, repara, asseverando que “há muitas necessidades e as respostas não são suficientes”.