Nota prévia: Foi difícil decidir que nome devia anteceder o título desta notícia. Se, por um lado, foi com o cidadão que conversámos, também é verdade que a entrevista só aconteceu porque o escritor trouxe à estampa um livro. Qual dos dois destacar? Aproveitámos a referência, no final da conversa, a Fernando Pessoa, para tomar uma decisão. Era (e é) sempre Fernando Pessoa, ainda que ao sabor da pena de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Portanto, eis José Manuel Silva, professor de Português no Agrupamento de Escolas da Murtosa e um aficionado da poesia. É aqui que entra Rui Líbano, o nome que escolheu para se assumir como autor. Lançou o seu primeiro livro, “Gramática dos Espaços Vazios”, em maio, mas tem outros na calha. De poesia, claro está, esse género literário que permite “uma multiplicidade de leituras” e convida “à reflexão”.
Nascido em Matosinhos, há 54 anos, sente-se, cada vez mais, um cidadão de Ovar. É aqui que vive, “há uns bons anos”, e, desde 2005, dá aulas de Português na Torreira, no município vizinho da Murtosa. Confessa-se um leitor ávido e, bem vistas as coisas, acha que é daí que vem o gosto pela escrita. “O gosto pela escrita, sobretudo pela poesia, já é antigo. Comecei a escrever naquela fase da adolescência. Tenho perfeita noção que aquilo que escrevi era muito mau, mas tinha essa vontade”, conta-nos. Começou a levar a escrita mais a sério na altura do confinamento. “Aquele período de tempo em que tivemos de estar todos recolhidos, à força, tive tempo para parar, refletir e a escrita intensificou-se mais”, testemunha.
Por esta altura, ainda lhe faltava um bocadinho de autoconfiança. “Tinha noção que era bem melhor do que o que escrevia na adolescência. Mas há sempre aquela voz: será que isto que estou a escrever tem interesse para alguém?”, declara. Um dia deparou-se com a informação, no Facebook, de que “a editora Oficina da Escrita estava a promover um concurso de poesia.” “Resolvi concorrer, nunca pensando que daí fosse resultar a publicação do livro, nem nada do género. Não ganhei o prémio, mas a editora gostou do livro e propôs-me a publicação do livro. Portanto, foi uma coisa que não foi programada, mas foi uma espécie de validação do meu trabalho”, diz.
“Gramática dos Espaços Vazios” viria, assim, a ser lançado em maio, na Oficina das Artes da Murtosa – tendo já merecido também uma sessão de apresentação na Feira do Livro, em Lisboa -, trazendo, de uma vez por todas, a escrita de José Manuel Silva para a esfera pública. “Antes disso, partilhava os meus poemas com muito poucas pessoas. Só amigos de longa data e que iam dizendo que gostavam, mas nós ficamos sempre com aquela dúvida: até que ponto não é só boa educação”, desvenda. Consciente de que o seu nome é muito vulgar, apostou num heterónimo. Rui Líbano, é como se apresenta enquanto autor. “Foi uma escolha completamente aleatória. Não tem nenhum significado. Já houve quem me perguntasse se a escolha tinha alguma conotação política. Ocorreu-me Rui Líbano e foi só a questão de verificar se não havia já algum escritor com este nome. Acabei por o adotar”, desvenda.