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“Olá, linda”, um manual para todos os pais

Opinião

 

 

Mais do que um romance, “Olá, linda” é um manual para os pais que nos revela e demonstra a importância do amor e das demonstrações de afeto pelos nossos filhos, para a construção da sua personalidade. Falo em construção de personalidade e não – naquilo que hoje mais se valoriza – na educação para o sucesso profissional.

Já aqui me fui expondo pelos comentários que vou fazendo e, por isso, não é surpresa dizer que sou mais uma pessoa de afetos do que de bens materiais, valorizo muitíssimo mais as qualidades das pessoas enquanto seres humanos do que o sucesso que estas eventualmente possam ter, ou não, no domínio social, profissional e financeiro.

Foi este o espírito que encontrei neste livro, naturalmente muitíssimo mais bem escrito do que alguma vez seria capaz, este livro conta-nos através da vida desta família como aquilo que verdadeiramente marca os filhos e deixa marcas para o futuro, mais do que o estrato sócio-económico-cultural em que estão inseridos e o acesso aos bens materiais que isso lhes proporciona, é o amor ou a ausência do amor dos pais.

De uma forma mais simples e acessível do que qualquer estudo ou tratado de psicologia, Ann Napolitano revela-nos , através do relato da vida de um jovem que se cruza com a história e a vida das irmãs Napolitano, o poder que o amor dos pais tem para a sua vida e para a sua autoestima.

A leitura deste livro transportou-me à minha infância e juventude, em que me sentia – e ainda hoje sinto, em alguns dias – como uma das filhas Padavano, a quem o pai faz sentir diariamente especiais, transmitindo-lhes a confiança de que nada lhes será impossível ou que, sendo difícil de atingir, o colo das pessoas certas está garantido!

Ann Napolitano, autora de “Querido Edward”, um livro considerado um bestseller imediato pelo New York Times e considerado como um dos melhores romances de 2020 pelo Washington Post, i, Amazon, Real Simple, Fast Company, Parade e Woman’s World, presenteia-nos com esta doçura de livro sobre o amor, o amor mais genuíno, verdadeiro e desinteressado que é o amor dos pais pelos filhos e, por vezes também, com sorte, o amor que existe entre alguns casais que amam o outro não pela pessoa que é, mas precisamente por aquilo que a vida fez dele e pela forma como conseguiu ultrapassar todos os obstáculos que a vida lhe colocou e.... sobreviveu e teve capacidade de arriscar o amor!

Este livro conta-nos a história de William Waters, um menino que cresce numa família marcada por uma tragédia e dor enormes e que marcam a sua infância pela ausência de pais presentes e incapazes de amar. A vida de William adquire um novo sentido quando, na Universidade, conhece Julia Padavano, uma jovem ambiciosa e destemida que é exatamente o seu oposto e parece capaz de completar as suas lacunas e ausências.

Ao conhecer Júlia, William entra para a família Padavano, pois Julia, as irmãs e os pais são inseparáveis e unidos pela cola invisível do amor e da cumplicidade que existe nas famílias onde o amor supera tudo. É delicioso ler a forma como as quatro irmãs são apresentadas, cada uma com caraterísticas muito singulares embora essas caraterísticas escondam, muitas vezes, outra personalidade distinta. Julia é-nos apresentada como a irmã líder, determinada e com um projeto para a sua vida (e do seu futuro marido) e das irmãs. A sua irmã mais próxima, Sylvie é uma bibliotecária sonhadora que encontra a felicidade nos livros (como me identifico!) e vive a fantasiar com o amor verdadeiro – que encontra... mas vai trazer-lhe muito sofrimento interior para assumir. Além de Julia e Sylvie, a família Padavano tem mais duas filhas gémeas, Cecelia, um espírito livre, apaixonado pelas artes, e Emeline, a filha que cuida pacientemente de todos eles. Quando se apaixona por Julia, William além de ganhar uma namorada, entra para uma família onde o caos e o amor convivem alegremente com a confusão e cumplicidade. “William sempre soubera que casara não só com a sua mulher mas também com a sua família.”

Ao entrar para a família Padavano, William conhece, finalmente, o que é uma família a sério e o que é o amor dos pais, aquele amor que nunca teve e que deixou em si uma marca impossível de apagar. A sua tristeza parece desvanecer quando está com os Padavano e se deixa contagiar pela sua felicidade “(...) este rapaz merecia pais que lhe beijassem a bochecha como os seus pais beijavam a sua.” “William tinha sido criado por pais infelizes, e tinha sido infeliz desde as suas memórias mais antigas. Sabia que um pai podia ser presente e não-violento na vida de um filho e ainda assim destruir esse filho. A dor dos pais de William tinha-lhe dado forma, como um glaciar movendo-se silenciosamente através de um vale.”

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Os pais Padavano são muito diferentes dos pais de William, financeiramente enfrentam muito mais dificuldades, mas estas não se refletem na sua relação com as filhas que sentem, todos os dias, o quanto os pais as amam, apesar de o fazerem de forma diferente: “Rose nunca pronunciara a palavra ‘amor’ diante das raparigas; estas simplesmente sabiam que ela as amava devido à atenção furiosa que lhes dedicava”. Já o pai Padavano era, tal como Sylvie, um apaixonado pela arte e tratava as suas filhas com um amor muito especial, valorizando aquilo que eram as suas singularidades, conhecendo-as e valorizando-as mais do que elas próprias. “Sylvie e as irmãs tinham-se conhecido a elas próprias sob o olhar do pai. E, sem esse olhar, os fios que uniam tao estreitamente a família tinham-se quebrado. O que era natural exigiria agora esforço.” A mãe, mais ambiciosa do que o pai, lamentava a falta de ambição deste, mas o pai não se deixava afetar por essa crítica e dedicava-se às suas quatro mulheres, as três filhas e mulher, com uma devoção única. “(...) Mas porque culpava a poesia dentro de Charlie pela falta de sucesso na vida. A razão para o seu salário se manter pequeno, a razão para ele não se chatear quando a caldeira avariava e preferir levá-la a admirar uma lua cheia, a razão para não se preocupar com o que as pessoas pensavam dele e, apesar disso, ter centenas de pessoas no seu funeral.”

Mais do que irmãs, as Padavano eram as melhores amigas umas das outras e viviam numa cumplicidade que parecia indestrutível, “(...) as quatro raparigas Padavano partilhavam as suas vidas, celebrando e utilizando as forças umas das outras, cobrindo as fraquezas umas das outras. Júlia era a organizadora e líder, Sylvie, a leitora e voz sensata, Emeline, a cuidadora, e Cecilia, a artista.”

Julia, determinada e obstinada traçou um projeto para a sua vida, no qual todos os passos já estavam definidos e temporalizados e William, que era uma peça neste projeto de vida, só teria que os seguir “Julia acreditava em vários passos diretos: a educação levava a um casamento melhor, que, por sua vez, levava a um número razoável de filhos, à segurança financeira e, depois, à propriedade imobiliária.” William, perdido na vida e recém chegado ao mundo dos afetos em que é introduzido pela ãao de Julia, segue o seu plano sem questionar e casa-se com Julia como planeado: “William teve certa vez a sensação de que a sua noiva andava pelo mundo com a batuta de maestro, enquanto Sylvie empunhava um livro, e Cecilia, um pincel; Emeline, contudo, mantinha as mãos livres para poder ser útil ou pegar ao colo e confortar uma criança da vizinhança.”

Tudo parecia correr conforme planeado, até a vida de William e a cumplicidade das irmãs Padavano sofrem uma prova de força quando William se apaixona pela irmã da mulher e depois de muito resistirem ambos, acabam por ceder ao amor. “Foi-me difícil aceitar o facto de que não escolhemos quem amamos, porque quem amamos muda tudo.” Este amor, que tem mais de genuíno do que o amor de William e Julia que se inseria num projeto de vida. Na verdade, William e Sylvie tinham em comum a ausência de certezas, ao contrário de Julia, a procura da parte que lhes faltava para se sentirem completos. “Quando o nosso amor por uma pessoa é tão profundo que é parte de quem somos, então, a ausência da pessoa torna-se parte do nosso ADN, dos nossos ossos, da nossa pele.” “Eu e tu somos farinha do mesmo saco, querida. Nenhum de nós espera que a escola ou o trabalho nos preencha. Olhamos pela janela, ou para dentro de nós mesmos, em busca de algo mais. (...) Sabes que és mais do que uma auxiliar de biblioteca e uma estudante universitária, não sabes? És Sylvie Padavano. (...) É por saberes que é possível conseguir algo mais que vês sempre quão inútil é seguir uma regra estúpida ou estar presente numa aula chata. A maioria das pessoas não percebe esta distinção, por isso faz apenas o que lhe mandam.”

E se as “quatro irmãs tinham batido a um só coração a maior parte das suas vidas”, quando Sylvie e William se apaixonam, a personalidade determinada e previsível de Julia vacila, ao compreender que nem tudo pode ser antecipado e previsto e a vida tem surpresas, às vezes muito amargas e difíceis de resolver. Julia “passara toda a vida a tentar resolver os problemas das outras pessoas – dos pais, das irmãs, de William -, mas esse fora um empreendimento infrutífero, via-o agora. Não conseguira manter o pai vivo, nem a mãe em Chicago, nem Cecília celibatária, nem tornar William ambicioso. Tinha estado apenas a aperfeiçoar as suas capacidades para agora, para o que importava, a maternidade.”

Ao sentir que o seu plano enfrentava uma reviravolta, Julia vai, com a sua filha, viver para longe das irmãs e testa aquilo que era, até então, certo e inabalável: a amizade e cumplicidade indestrutível entre as quatro irmãs. “O facto de ter falhado significava que tinha de começar a avançar com a sua história de vida – os seus erros -, pendurada ao ombro como uma mochila pesada. Este facto exauria-o, mas ele exauria-o, mas ele estava demasiado cansado para o rejeitar.” Julia afasta-se das irmãs porque não consegue viver diariamente com a realidade do seu marido se ter apaixonado pela irmã e espera, ao afastar-se, viver o seu projeto de vida mas, a verdade, é que mesmo separadas por centenas de quilómetros, a ausência da irmãs a deixa triste e incompleta. “Seria possível que ela estivesse a desmoronar em Nova Iorque porque a irmã estava a morrer em Chicago? Que houvesse fios invisíveis que as conectassem, que elas não pudessem ver e, portanto, não pudessem cortar?”

Além desta bonita história e elogio ao amor dos pais e à busca pelo amor verdadeiro, este livro revela-nos também o olhar atento da autora ao mundo de hoje em que o que mais importa é parecer alegre e estupidamente feliz, ocultando qualquer momento de tristeza ou depressão pelo qual possamos estar a passar. “Estás deprimido, não louco. Não é insanidade estar deprimido neste mundo. É mais são do que estar feliz. Nunca confiei naqueles indivíduos sempre animados que sorriem aconteça o que acontecer. Esses é que têm um parafuso a menos, se queres saber.” “Não suporto fingir felicidade.”

Retive ainda deste livro, a forma como a sociedade olha para os homens e as mulheres num caso de divórcio, em que as mulheres acabam por sofrer muito mais com os estigmas da sociedade e as consequências do divórcio. “É uma coisa horrível, ser uma mulher divorciada. Os homens podem recuperar do fim de um casamento, mas as mulheres não. Queres mesmo deitar a tua vida para o lixo? Só tens 23 anos.”

Com a leitura de “Olá linda!” vão valorizar mais ainda o amor pelos filhos e pela pessoa que vos completa, pois é esse amor que nos preenche e nos traz a força e felicidade para vivermos com a certeza de que a vida é um presente que merece ser desembrulhado e partilhado com aqueles que nos amam. E todas as leituras que nos ajudam a amar mais e a não temer o amor, valem a pena!

Boas leituras e até às próximas páginas.

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