Acredita que a dança sempre fez parte da sua vida. Todas as memórias que guarda estão, de alguma forma, associadas à dança. Começou pela dança jazz, muito popular na altura da sua infância, e acusou alguma resistência em aventurar-se no ballet clássico. Quando decidiu fazer da dança a sua carreira, teve que ceder e, hoje, é a primeira a reconhecer a importância da formação que recebeu de bailado clássico. Aos 44 anos, a aveirense Lara Pereira é um nome incontornável da dança na região e não só.
Além de bailarina, é coreógrafa e professora. Se lhe pedirmos para ordenar estas atividades por ordem de preferência, sente alguma dificuldade. Consegue falar de cada uma delas com tamanho amor e dedicação que não é difícil perceber a Lara Pereira é tudo isso: a intérprete, a criadora e a formadora.
Mas comecemos pelo início, na certeza de que o “era uma vez” desta história acontece em Aveiro “nas aulas de dança da Teresa Solá”. Seguiu-se uma passagem “pela professora Guida Pena, no Dancing Center, no Centro Comercial Oita” e uma outra “pela professora Anabela Domingues, da Academia de Bailado Clássico”. Estavam lançadas as bases para se dedicar, por inteiro, à dança. Depois de concluir o 12.º ano, rumou a Londres para estudar, formando-se na Rambert School of Ballet and Contemporary Dance. Honra seja feita à sua colega e ex-diretora artística do Teatro Aveirense Ana Figueira, que a incentivou a “ir para fora”.
Depois de concluir os estudos, ainda ficou, durante algum tempo, no Reino Unido. Chegou a ingressar numa companhia de dança da Escócia e a fazer outros trabalhos em terras de “sua majestade”. “Andei alguns anos em pingue-pongue entre a Escócia, Inglaterra e Portugal, pois também fui fazendo alguns projetos na Companhia Instável”, recorda.
Recorda cada uma dessas experiências com um misto de orgulho e saudade, mas não tem pejo em assumir que, a determinada altura, sentiu uma enorme vontade de regressar a Aveiro. “Sempre tive o meu lado de professora e tinha uma necessidade enorme de trazer toda a minha bagagem, a experiência que tinha adquirido”, testemunha.
Sentiu que “estava na hora” e regressou. Numa fase inicial, deu aulas em várias escolas e associações da cidade. Em 2007, ganhou coragem e concretizou um sonho: abriu o seu próprio estúdio de dança. “Em três anos, o espaço ficou esgotado e tive de procurar um espaço maior. Vim dar a este espaço magnífico, que adoro, e que tem salas grandes, cheias de luz e ventilação natural”, destaca, a propósito da atual casa do LPstudio – situada no n.º 78 da Rua Nova de Vilar -, que "alberga" cerca de 250 alunos.
Do seu currículo constam ainda várias colaborações como bailarina em programas televisivos (SIC e RTP) e a vitória no concurso “Uma Noite de Sonho”- SIC, onde dançou um dueto com Jean Paul Bucchieni de Aldára Bizarro. Mais tarde, viria também a vencer o 9.º Encontro de Novos Coreógrafos (Nós da Dança).
A arte de criar
Um dos últimos projetos com a assinatura de Lara Pereira - em coautoria com Ana Cláudia Capela – é o espetáculo Sal, que integra a edição deste ano do Festival dos Canais. Uma performance desenvolvida a partir do lugar: as salinas da Noeirinha. “É completamente diferente do que coreografar para palco e as salinas são um lugar maravilhoso, mas com um piso difícil para as bailarinas”, destaca.
Foi também no âmbito do Festival dos Canais 2020 que Lara Pereira teve a oportunidade, novamente na companhia de Ana Cláudia Capela, de dançar num palco muito especial: a água do Canal Central da ria. Integraram a performance Wave Shape, da Boo Coletive.
Para breve, está prometida a apresentação ao público de uma outra criação sua. Chama-se Gaia e, na prática, é o espetáculo anual do LP Studio. Era para ter subido ao palco no passado mês de março, mas a pandemia de Covid-19 acabou por trocar as voltas a Lara Pereira e às suas bailarinas. “O espetáculo está todo pronto, figurinos e tudo, resta agora ver para que data será reagendado”, conta.
É também a Lara Pereira criadora que tem vindo a desenvolver diversos trabalhos corporate, para companhias como a Hairtz, L’Oreal-Redken, Mistolin, Teka, Rota da Bairrada, Campolargo Vinhos, entre outros. Vertente à qual aplica, também, todo o seu empenho e dedicação. Projetos para o futuro? Continuar a criar, a dançar e a ensinar.
* Crédito da foto de capa: Graça Bilelo