Entre 25 e 27 de setembro, Aveiro celebra o centenário do nascimento de Vasco Branco (1919-2014), um dos seus mais queridos e multifacetados artistas. A sua existência partilhada e vibrante permanecerá para sempre enraizada no Bairro da Beira-Mar, na vida dura dos marnotos, nos artefactos, na faina e na laguna, que viriam a ser o grande tema da sua obra, quer no domínio da Literatura, quer do Cinema, da Cerâmica e da Pintura.
Organizada pela câmara municipal de Aveiro e produzida pela VIC Aveiro Arts House, e integrada nas Jornadas Européias do Património, esta celebração tentará fazer jus ao espírito irrequieto e plural do artista, pelo que integra uma exposição de pintura e cerâmica de Vasco Branco, bem como uma instalação desenvolvida a partir dos seus moldes cerâmicos; um itinerário pela sua obra pública; uma mesa redonda; duas sessões de cinema ao ar livre, com filmes do autor sonorizados ao vivo; uma leitura partilhada dos seus textos dramáticos; e o lançamento do livro intitulado Legendas da Cidade Salgada, que dá voz e imagem à intimidade do homem e da obra com a cidade de Aveiro.
Destaque para a exposição de pintura e cerâmica que já foi inaugurada, no passado sábado, no Museu da Cidade, e que irá ficar patente até 4 de outubro. No próximo fim de semana, o programa atinge, então, o seu ponto alto. Sexta-feira é noite de cinema ao ar livre; sábado, há itinerário pela obra pública de Vasco Branco (11h00) e Conversas do Trianon (16h00); domingo, acontece o lançamento do livro (16h00) e um À Boca de Cena dedicado aos textos de Vasco Branco (21h30).
Vasco Branco quis uma vida para lá da mediocridade e da ditadura de Salazar, e fê-lo de muitos modos e muitas artes. Tal como na Literatura, no Cinema de curta-metragem obteve numerosos prémios nacionais e internacionais, como a Menção Especial no Festival Internacional du filme Amateur de Cannes, festival cujo júri integrou no ano seguinte.
Com painéis cerâmicos semeados por Aveiro e por lugares mais longínquos, como o Almeida Memorial Hospital, no Japão, só o estilo une a diversidade dos processos e recursos de um artista que foi experimental em toda a extensão da sua obra vertiginosa, passando de uma arte a outra no colapso de um instante.
Repleta de troféus e de encontros, a sala de cinema de sua casa, que voltou recentemente a acolher uma programação cultural de vanguarda pelas mãos do projecto VIC // Aveiro Arts House, era sede cultural da resistência ao regime, onde se reuniam as figuras de proa da cultura oponente, vindas também de outras terras como Porto e Coimbra.
O entusiasmo de Vasco Branco estende-se à divulgação da cultura, através da co-fundação do Cineclube de Aveiro, da AveiroArte, do Clube dos Galitos ou da Fundação João Jacinto de Magalhães, da colaboração em revistas e jornais como O Mundo literário, Bandarra, Litoral, Libertação, ou do ensino do Cinema e da Cerâmica.