Para muitos já dispensam apresentações. Os Siricaia, duo aveirense constituído por Susie Filipe (percussão e voz) e Vítor Hugo (voz e guitarra), surgiram em 2019 e acabam de brindar o público com o seu primeiro álbum, “Família Fandango”. Um disco que retrata - através da música, pintura, literatura e vídeo - a vida de um seio familiar tipicamente português, ao longo de quatro gerações, numa viagem de volta às raízes, a bordo de sonoridades contemporâneas e eletrónicas.
Dos ritmos tradicionais portugueses até ao jungle swing, com percussões portuguesas e guitarras elétricas travestidas de cavaquinho, Siricaia exploram diversas influências artísticas, parando de porto em porto, à procura de novas respostas para questões antigas. Com recurso a uma forte componente imagética, “Família Fandango” envolve 18 artistas portugueses de vários quadrantes artísticos e propõe novas formas de olharmos para a identidade das famílias portuguesas do passado, do presente e do futuro.
A pretexto do lançamento deste primeiro disco com a assinatura dos Siricaia, a Aveiro Mag esteve à conversa com Susie Filipe, prestes a fazer 33 anos, e Vítor Hugo, 30 anos, uma bairradina e um aveirense de gema, que conhecemos também da banda Moonshiners. Desejosos de ir para a estrada, subir aos palcos e sentir a vibração do público, falaram sobre os seus projetos musicais e a ligação à cidade que pode vir a ser Capital Europeia da Cultura em 2027 (eles estão a torcer muito).
Quando começaram o vosso percurso musical?
Vítor Hugo: Comecei a aprender guitarra quando tinha dez anos, um pouco por brincadeira, mas começou a tornar-se mais sério. A paixão pela música começou a crescer.
Susie Filipe: Desde muito pequena que estou ligada às artes de palco. O meu avó – precisamente o patriarca desta “Família Fandango”- fundou um rancho, do qual eu fiz parte desde os meus seis anos. Depois fiz ginástica artística, ballet e teatro. Quando comecei a namorar com o Vítor, surgiu a música. Já tinha uma bateria em casa e acabei por aprender rápido. O Vítor já tinha uma noção musical muito mais limada e ensinou-me.
Depois surgem os Moonshiners…
Susie Filipe: Começámos a nossa relação, o Vítor já tinha um projeto mas muito rapidamente começamos a tocar e surge o Samuel, que é o terceiro membro dos Moonshiners. Surgiu assim este projeto que faz para o ano, em fevereiro, dez anos, celebração que terá direito a um disco e a uma digressão. Portanto, foi um turbilhão de coisas. Os Moonshiners surgem em fevereiro de 2012 e, em 2019, iniciámos, então, o projeto dos Siricaia.
Como surgiu essa vontade de fazer um projeto musical a dois?
Susie Filipe: Embora Moonshiners tenha uma base muito tradicional também – mais muito ligada ao folk e ao blues -, sentimos vontade de recorrer a instrumentos tipicamente portugueses.
Vítor Hugo: Era um mundo que já queríamos explorar há muito tempo. Até pelas ligações da Susie à música tradicional portuguesa.
“Família Fandango” chegou a ter lançamento previsto para 2020. O adiamento ficou a dever-se à pandemia?
Susie Filipe: Tínhamos previsto lançar no final do ano mas rapidamente percebemos que seria uma má opção.
Vítor Hugo: E também porque também tivemos que nos adaptar a novas formas de trabalhar, por conta da pandemia, e o processo acabou por atrasar um pouco.
Este álbum já estava a ser trabalhado antes do confinamento?
Susie Filipe: Foi pensado antes. Em 2019, já tínhamos o desenho do projeto artístico, mas começámos a gravar em janeiro de 2020, precisamente dois meses antes do primeiro confinamento. Quando iniciou o confinamento, já estávamos em estúdio e só tivemos que reorganizar as equipas para não estarmos muito em simultâneo. Como o disco tem 18 convidados, tivemos que ir faseando essas pessoas para não juntar muita gente.
Porque decidiram chamar a este disco todos esses convidados?
Susie Filipe: Muitas delas porque tocam os instrumentos tipicamente portugueses que nós não tocamos e queríamos incluir. Concertina, cavaquinho, saxofone… e depois porque são amigos nossos e excelentes profissionais do mundo da música.
Vítor Hugo: Família Fandango é uma família de amigos também.
Tencionam fazer uma digressão para apresentar o “Família Fandango” ao público?
Susie Filipe: Sim. Esperamos iniciá-la em maio, com a perspetiva de passarmos por dez salas de espetáculos. A ideia passa por encerrar, depois, a digressão no Teatro Aveirense, na nossa cidade, a nossa sala de espetáculos.
A vossa ligação à cidade é muito especial…
Susie Filipe: Sim. O Vítor é de cá, eu sou de Anadia mas vivo cá há dez anos. Criámos muito laços e a cidade também nos abraçou.
Acreditam que Aveiro vai ser Capital Europeia da Cultura em 2027?
Vítor Hugo: Gostávamos muito que assim fosse. Seria muito bom para todos nós, artistas e não só.
Susie Filipe: Toda a cidade, e também as cidades aqui à volta, teria muito a ganhar com isso. Esperemos que aconteça.
Os planos para o futuro passam por continuar a conciliar Siricaia e Moonshiners?
Vítor Hugo: Sim. São projetos que se complementam, são atividades paralelas.
Susie Filipe: E já estamos a preparar o disco dos dez anos de Moonshiners, para ser lançado no próximo ano.
Sentem saudades dos palcos?
Susie Filipe: Muito. O concerto é o momento de comunhão. Todo o trabalho que temos em gravar, filmar, fotografar, só faz sentido quando há um concerto.
Vítor Hugo: O concerto é um pouco a celebração do nosso esforço, do nosso trabalho.
* Créditos das fotos: João Roldão