O país acordou hoje com a notícia da morte de Julião Sarmento, o mais internacional dos artistas portugueses e que esteve na origem daquela que hoje é conhecida por “Coleção SEC”. Julião Sarmento partiu aos 72 anos mas deixa obra em Aveiro: a pintura “Sic Ut Dolores Meus”, que foi concebida para a Capela Real do Palácio de Sintra, está à guarda do Museu de Aveiro – Santa Joana.
Maria da Luz Nolasco, antiga vereadora da Cultura, que teve a seu cargo o acordo com a tutela para trazer para Aveiro algumas obras da Coleção Nacional, recorda a exposição que ainda recentemente passou pela cidade. Julião Sarmento expôs no Museu de Aveiro – Santa Joana, numa mostra intitulada “No Brilho da Pele”, entre julho e setembro de 2020. “Terá sido nesta mostra que, uma vez mais, pudemos rever obras que mudaram o sentido da arte portuguesa pela mão e pelo pensamento deste grande artista”, destacou.
A par com o percurso criativo de Julião Sarmento que marcou os últimos 30 anos do século XX, na transição do período ditatorial para a democracia pela revolução de abril de 1974, Maria da Luz Nolasco destaca ainda “a sua ativa participação no processo construtivo da política cultural de apoio à arte em Portugal. Atento à difusão e à valorização da produção artística em geral, dentro e fora do país, Julião Sarmento participou na origem de uma coleção de arte contemporânea portuguesa que em 1976 foi intitulada de ‘Coleção Nacional’ e que hoje e? genericamente conhecida por ‘Coleção SEC’”.
Esta coleção, segundo recorda, viria a ser criada a? margem do universo dos museus e na estreita dependência da Secretaria de Estado da Cultura, coordenada pelo Prof. David Mourão-Ferreira, e por Eduardo Prado Coelho, coordenador da Direção Geral da Atividade Cultural (criada em 1973). Cooperavam neste projeto os artistas Fernando Calhau, João Vieira e o Julião Sarmento.
Uma obra com dez painéis
A pintura que Julião Sarmento “deixa” em Aveiro, “Sic Ut Dolores Meus” foi concebida para a Capela Real do Palácio de Sintra e o local foi o da Capela mor ficando esta obra colocada na retaguarda do altar funcionando como Retábulo. Foi uma encomenda da Secretaria de Estado da Cultura no ano de 1995.
Em 2005, por força de um acordo estabelecido entre o Ministério da Cultura, a Direção Geral das Artes, a Universidade de Aveiro e o Município de Aveiro, “Sic Ut Dolores Meus” foi transferida para Aveiro.
A obra pictórica tem 10 painéis, cinco sobre cinco, sendo os dois painéis centrais quadrangulares e de maior dimensão do que os laterais. Estes estão colocados a par, sobrepostos e representam figuras femininas vestidas de preto, colocadas num circuito narrativo que cumpre ao observador interpretar e descobrir os significados.