Nasceu, em 1999, a Associação Cultural e Recreativa de Vale Domingos. Hoje, comprometida com a mudança social e com a transformação do paradigma inerente à aldeia de Vale Domingos, é um apoio à construção daquele que se tornou o coração da aldeia, o Parque Botânico, capaz de unir pessoas e transformar vidas.
Numa terra em que a regra era o abandono escolar e a criminalidade, e que era famosa por ser um sítio que não se queria visitar, população e amigos uniram-se para propor ao Orçamento Participativo Nacional (OPP), um projeto inovador: transformar um terreno baldio num parque botânico.A proposta venceu na zona centro e unidos fizeram, muito além de um parque botânico, uma aldeia que é exemplo de união e aquela que está prestes a ser a maior coleção de magnólias do mundo.
Com a aprovação do projeto, receberam 1 085 342 euros para investir na requalificação da aldeia, e assim fizeram. Aproveitando sobras de materiais das obras de Águeda, com as iniciativas para angariação de fundos que lhes renderam 10 mil euros em três anos, e um acordo que estabelecia que a população dava a mão de obra e a autarquia as máquinas e materiais, o projeto começou a ganhar vida.
Desde 2015, as expectativas que tinham para o parque foram já largamente ultrapassadas. “O jardim ganhou mais cor, mais vida, já temos o nosso Centro Interpretativo que serve de quartel-general, para todos os projetos. Temos um parque de merendas, baloiços para crianças de várias idades, espaço para festas e eventos ao ar livre, tudo isto faz com que as pessoas venham e permaneçam no parque”, são declarações da direção da associação, que garante que nada é melhor do que ver a satisfação e alegria das pessoas que usufruem do projeto.
“No início, não foi um caminho fácil”, mas a estratégia para alcançar um objetivo comum, de todos e para todos, revelou-se uma aliada para acabar com as fronteiras que anteriormente existiam entre a comunidade cigana e não cigana da aldeia.
Antigo centro do abandono escolar e da criminalidade nas camadas mais jovens, o projeto “Aldeia da Inovação Social” em Vale Domingos, apresentado no final de 2020 e diretamente ligado ao parque, veio mostrar que era possível “quebrar o elo da corrente que ligava o passado e o futuro”, e isso tem vindo a verificar-se tanto na conduta da comunidade como nos dados da GNR que tem sido, também ela, um apoio.
“Onde nós sentimos mesmo esta redução de estigma, é nas pessoas”, constata a direção, que relata ainda a visita de novos rostos todas as semanas, que admiram a beleza do parque e parabenizam o trabalho ali realizado, mudando muitas vezes a sua opinião, já que a maioria da mão de obra é cedida pela comunidade cigana voluntária. “Para Águeda, Vale Domingos deixou de ser a terra dos ciganos e hoje é a terra do Parque Botânico.”
Muito próximo de alcançar o título de maior coleção de magnólias do mundo, e com uma também extensa coleção de várias espécies de aceres, “existe um sentimento de orgulho na comunidade por fazer parte de um projeto inovador e pioneiro que está a tornar a Aldeia de Vale Domingos numa potencial referência turística”. Este título traduz-se numa motivação extra e para muitos habitantes, “o parque e os seus projetos é que lhes dão sentido à vida”.
No passado dia 18 de maio, foi aprovada a aquisição de um segundo terreno que permitirá a extensão do parque para o dobro da dimensão que tem hoje, o aumento das coleções de magnólias e aceres, bem como a criação de espaços destinados à prática desportiva e recreativa.
A ACR de Vale Domingos e os seus projetos, contam com o apoio de vários parceiros fundamentais, sendo o principal a Câmara Municipal de Águeda que “de uma forma ou de outra, está sempre envolvida”.
Aos membros da comunidade externa, o apelo é para que ajudem no aumento do envolvimento em dinâmicas de voluntariado e atividades locais, no aumento da consciencialização e sensibilidade para com as necessidades da comunidade e, principalmente, da capacidade de (re)educar e (re)socializar as crianças e jovens, transmitindo-lhes a importância de iniciativas semelhantes, e aplaudindo as capacidades desta comunidade em que, outrora, ninguém confiava.“O facto de a comunidade externa ter outro olhar, é a melhor ajuda que nos podem dar.”
Em 2018, a "Feira das Lambarices", proposta por Ricardo Pereira em representação das gentes de Vale Domingos, venceu o OPP. Um evento que promete fazer as delícias da população local, regional, nacional e até internacional, com uma mostra de doçaria tradicional portuguesa, e que iria inicialmentte acontecer na aldeia.
Em conjunto com a Câmara Municipal de Águeda, chegou-se à conclusão que o evento poderia "ter outra dinâmica" caso fosse realizado no centro da cidade de Águeda. Assim, está previsto acontecer no Ginásio Clube de Águeda (GICA), entre os dias 3 e 11 de setembro, em simultâneo com a Festa do Leitão, podendo ainda ser alargada para mais um dia.