Mário Lúcio, reconhecido autor da cultura cabo-verdiana, já tem uma relação especial com a cidade de Aveiro. Um dos concertos que deu em terras aveirenses, depois de lançar o seu primeiro disco a solo (Mar e Luz, 2004), acabou por dar origem a um segundo álbum, gravado ao vivo. “Casualmente, o engenheiro de som gravou o concerto e a qualidade sonora ficou tão perfeita que deu um novo disco a solo”, recorda a propósito do surgimento do álbum Ao Vivo e Outros (2006). Este sábado, regressa a Aveiro, num formato especial, que ainda não apresentado noutros palcos. Vai estar acompanhado de quatro músicos portugueses e o resultado promete ser único.
“São quatro excelentes instrumentistas”, destaca em conversa com a Aveiro Mag. Em causa estão Sofia Portugal, das Maria Monda, Rui Ferreira (Caps), Telmo Sousa e Ricardo Coelho. “Faremos um apanhado por todos os meus álbuns e o concerto promete ser muito vivo”, desvenda, a propósito do concerto deste sábado nas escadarias do Atlas, no âmbito do ciclo Aqui Verão – entrada livre mediante levantamento de bilhete no próprio dia e local a partir das 20h30. “Aveiro tem este dom de me levar pela mão”, repara.
Cantor, compositor, escritor e pensador, Mário Lúcio é uma das figuras mais reconhecidas da cena cultural e musical cabo-verdiana. Nascido no Tarrafal, Ilha de Santiago, Cabo Verde, a 21 de Outubro de 1964, é o escritor mais premiado do país internacionalmente, um dos mais conceituados pensadores da sua geração, antigo ministro da Cultura do país que vai cantando por esse mundo fora, fundador e líder do grupo musical Simentera, ex-líbris da música cabo-verdiana.
À pergunta “qual a arte que mais o realiza”, Mário Lúcio responde sem vacilar: “Eu gosto de me expressar”. “Quando estou num lugar muito belo, quando vivo momentos de amor de todas as dimensões, penso imediatamente que tenho que fazer alguma coisa. Se eu sentir que a expressão capaz de levar aquela sensação às outras pessoas é a escrita, então escrevo. Às vezes, sinto que devo pintar, outras que devo tocar”, concretiza. “Diria que são tudo partes de um todo, que é a transmissão das nossas perceções”, acrescenta.
Novidades a caminho
Apesar de não gostar de dedicar muito tempo a falar “do amanhã” – prefere concentrar-se agora - deixa antever a possibilidade de, no próximo ano, lançar um novo disco. Antes disso, promete lançar um tema que espera “que toque o coração de todos”. Chama-se “Hino à Gratitão” e conta com a participação de um coro de gospel.
Um verdadeiro hino que Mário Lúcio diz sentir de uma forma muito especial. “Estava no jardim da minha casa a tocar e, de repente, começo a sentir essa música. Eu costumo dizer que não componho, nem escrevo, eu escuto músicas que já vêm com melodia e letra e faço o download cósmico. Essa música começou a descer e, à medida que a ia cantando, eu chorava, surpreso pela combinação das letras”, conta.
Também no que toca à escrita, Mário Lúcio pode vir a brindar o público, a curto prazo, com novidades. Por ora, ainda quer deixar o seu último livro, “O Diabo Foi Meu Padeiro” – romance sobre o Campo de Concentração do Tarrafal – continuar “a ecoar”.
* Créditos das fotos: Omar Camilo