“Quem não gosta de contar as suas memórias?”: a pergunta, com um sorriso bem espelhado no rosto, é feita à Aveiro Mag pela aveirense Maria da Luz Ramos, participante orgulhosa na exposição “Memória – Aveiro: pessoas, imagens e objetos”, que está disponível e de visita livre no ATLAS – Edifício Fernando Távora, em Aveiro, até ao próximo dia 8 de agosto.
Na apresentação da exposição marcaram presença o escritor aveirense Gonçalo M. Tavares e a curadora Larissa Lewandoski que, numa cerimónia informal e simples – simples no trato, mas elevada na partilha e educação –, explicaram os motivos que os levaram a criar um testemunho que une o passado ao futuro, mas que respeita, sobretudo, a memória de todos os quantos nela participaram.
A ria, como fio condutor
O desafio lançado a Larissa foi abraçado com vontade, pese o desconhecimento da cidade e das suas gentes. Ao longo de mês e meio, a responsável pela curadoria da exposição, entrou no universo intrínseco e peculiar de Aveiro, partilhou e palmilhou muitos quilómetros, tirou muitas fotografias e gravou muitas horas de vídeo. De toda essa experiência, também ela guarda muitas memórias e histórias para contar.
“Foi um privilégio ter acesso a tantas pessoas, a tantos objetos, relíquias, de tantos. Os documentários mostram mesmo que cada pessoa aqui retratada - e que mostra muito de si – é singular, com um universo vasto. E os vídeos imortalizam o projeto, vão sobreviver a todos nós. Esperamos ter criado com este projeto, um arquivo de memórias com vista a novos futuros. E saio daqui com uma ideia bem definida de Aveiro, que é uma cidade distinta, com uma ria que a rasga, mas que, no fundo, para mim, é um fio condutor, que a une numa só”.
A memória, como o chão da cidade
Ser um escritor premiado e de sucesso, não fez Gonçalo M. Tavares esquecer as suas raízes e, tal como neste, tem-se envolvido em alguns projetos sempre que a sua cidade o chama. Tendo a primazia da palavra, no início da sessão, o aveirense exalta a exposição como importante para a candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura 2027, esperando e desejando que “a consiga materializar” pois tal, certamente, será fundamental “para a mudança e crescimento da cidade”.
Depois, explica que o que o levou a aceitar liderar a exposição foi a oportunidade de contrariar a ideia de que “a memória trata apenas do passado”, algo que discorda profundamente. “Se não fosse a memória não haveria futuro. A memória é o chão da cidade, é o que a sustenta, é o que ajuda a que haja amanhã”.
Nascido a quatro metros da Ria
Aos 83 anos, quase 84, João José Barbosa não escondeu o orgulho de fazer parte da Memória. Das deles. De outros como ele. E das que quer que os seus netos tenham dele e da cidade que o viu nascer e crescer. “Nasci a quatro metros da Ria, cresci perto do canal, vivi e vivenciei o crescimento da cidade e sou um aveirense orgulhoso e convicto. Foi por isso que quis participar nesta iniciativa, porque quero que os meus netos e as novas gerações percebam de onde vêm, porque só assim podem ter um futuro melhor. Precisam, muito, de perceber os valores, os nossos valores”.
Unidos, até nas palavras
Maria da Luz Ramos e Orlando Ramos são um casal. De sempre. E dançam, na sala de casa, num dos documentários do projeto. Assim como estão numa foto, com fotos de quando eram mais novos, cheios de sonhos. Namoraram. Casaram. Cresceram. Tiveram filhos. E ficaram sempre em Aveiro. E é toda essa história, de vida, e de vida conjunta, que os fez querer partilhar. “O que nos levou a aceitar o projeto foi acreditar que é a melhor forma de passarmos a mensagem, de mostrarmos as memórias, porque elas é que sustentam o futuro. É também a nossa obrigação, porque nós somos as raízes destas novas gerações. E sem raízes fortes, as árvores apodrecem, não é?”.