Pedro Pires da Rosa
Parece-me que a questão não será gastar o dinheiro, a questão é saber quanto dinheiro seria necessário gastar para que as Jornadas Mundiais de Juventude pudessem acontecer na mesma?
De facto, e fazendo jus à expressão “à boa maneira portuguesa”, o palco em causa, que teria sempre de ser dispendioso dada a dimensão que é exigida para aquele evento, devia e poderia ser muito menos caro se tivesse o processo da sua construção tivesse sido tratado com tempo, e não em cima da hora. Resulta claro que quem tem pressa na aquisição de algo, acaba por pagar sempre um preço mais caro. E este foi talvez o principal problema, uma vez que tivemos todo o tempo do mundo para o fazer, e só agora, a 6 meses do evento, é que estamos a decidir o processo da contratação da empresa que ainda o há de construir.
E o problema é que esta questão não se coloca apenas em relação ao palco, como também se coloca em relação a todas as outras infraestruturas necessárias.
Dito isto, e embora pareça absolutamente claro que seria possível fazer-se por bem menos, creio que também parece cristalino que o evento é positivo (e proveitoso) para o País.
Contudo, e em relação ao propalado retorno, convém sublinhar que não pode o Estado ser conivente com a ganância, especulação e usura (diga-se, já agora, nada cristã) dos preços exorbitantes que já se estão a praticar.
Deve a liberdade económica ser defendida, mas até mesmo para o maior dos liberais, penso resultar óbvio que um quarto em Sta Maria da Azóia não pode custar 900€ por dia, sem que esta prática viole de forma clara a Lei.
Dito isto, vamos a contas :
A ser verdade que nos visitarão cerca de um milhão e meio de pessoas numa semana, e se cada uma gastar em média cerca de 350€ numa semana (o que não parece ser nada de improvável), gastar-se-ão em Portugal cerca de 525 milhões de euros.
Assim sendo, em receita direta de Iva, receberá o estado cerca de 120 milhões de euros. Acrescerão a esta quantia os valores de IRC e IRS das empresas e cidadãos que irão lucrar direta e indiretamente com este evento em alojamento, viagens, refeições, souvenirs, espectáculos culturais, etc.
Por último, o País (e será bem mais que a região de Lisboa, porque até no norte e Algarve ficarão alojados alguns dos participantes) dar-se-á ainda a conhecer na sua qualidade turística a uma nova geração que há de crescer, e eventualmente voltar, no futuro, num outro cenário de estabilidade financeira e familiar.
Sinceramente, creio que a opinião pública está a centrar-se na questão do palco (que tem de facto um valor absolutamente desnecessário), rejeitando com isso todo o evento, dispensando ou desprezando algo que pode bem ser proveitoso para o País.
Acresce que, parte das opiniões são fundamentadas na ideia que o Estado é laico, como se a laicidade do Estado prevista na constituição fosse corrompida com o reconhecimento pelo próprio Estado de um evento de dimensão assinalável, ainda que de cariz religioso.
Sucede que, não poderá ser despiciendo o facto de a esmagadora maioria da população Portuguesa ter formação católica, e o Estado não pode, creio, ser alheio à matriz clara dos cidadãos que compõem o próprio Estado. Portugal deve ser um País laico, em que o Estado não deve confessar nenhuma religião, seja ela qual for, mas não pode ser um Estado anti religião, que negue por princípio qualquer ligação a instituições religiosas, mesmo que elas respeitem os princípios básicos do Estado de Direito plasmado na Constituição.
Quem entender o contrário, já agora, e para ser coerente com o que defende, deve pois passar a defender e assinar petições para que o Governo elimine o Natal, bem como os restantes feriados de cariz religioso em Portugal.
E não consta que seja esta a opinião dominante.