Aveiro é uma cidade chata. Conservadora vá, para não ferir suscetibilidades.
Talvez um historiador ou sociólogo possa arriscar uma explicação para este nosso estado - eu não tenho esse engenho. O que sei é que, nesta cidade, a vida se leva de forma tranquila, sem grandes agitações ou mudanças.
Votamos à direita, salvo raras ocasiões, e o jornal que lemos é o Diário de Aveiro (e agora a Aveiro Mag, claro). Temos um cinema e quando vamos ao teatro, uma vez por ano, é ao Teatro Aveirense. A vida e oferta noturna sempre foi escassa e, por isso, muitas vezes temos que fugir para paragens mais animadas.
Comemoramos de forma regrada o carnaval, não nos encanta o São João e é apenas e só no São Gonçalinho que nos esquecemos de conter emoções e falamos alto, abraçamo-nos e cantamos e dançamos como se não houvesse amanhã.
Diria então que (cavacas à parte) gostamos de uma certa ordem nas coisas. Somos equilibrados, dirão alguns, uma cidade aborrecida, dirão outros.
Felizmente, com o crescimento do turismo, da universidade e a chegada de novas pessoas, as coisas têm mudado um pouco. Mas só um pouco (que, como sabem, não somos gentes de grandes mudanças).
Ora, numa cidade assim rareiam projetos e pessoas que ousam ser e pensar de forma diferente. Temos por isso uma atividade cultural escassa e uma comunidade artística praticamente inexistente.
Mas eis que surge ao longe uma pequena aldeia de irredutíveis que resiste à invasão da monotonia! Falo do GrETUA - Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro.
Com um espaço para espetáculos só comparável com a dimensão do seu orçamento - pequenino - o GrETUA tem uma programação que vai da música, ao teatro e às artes performativas. É dos poucos sítios onde vou, sem saber para o que vou, porque sei que a qualidade do que vou ver e ouvir é sempre acima das minhas expectativas. Mesmo quando não gosto, gosto.
O mérito vai todo para o Bruno dos Reis e a sua equipa. O Bruno não só é um dos mais talentosos atores que já tive oportunidade de ver, como se tornou num extraordinário programador cultural e formador de novos artistas. É fantástico ver como uma pequena equipa de pessoas é capaz de construir palcos e cenários, criar uma programação cultural rica e diversa e ainda fazer os cartazes que eles próprios colam pela cidade. Não o fazem como um grupo de universitários esforçados, fazem-no com a mesma qualidade que se exige a uma (boa) companhia profissional de teatro.
Numa cidade onde os poucos Brunos que existem ou foram para outros locais ou tornaram-se iguais a nós para melhor subsistirem, temos obrigação de os acarinhar.