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Liga das Democracias

Opinião

Qual a ligação entre as capitais do Zimbabué e da Federação Russa? A julgar pelos mais de 10 mil km de distância entre elas, existe pouco em comum entre Harare e Moscovo.

Mas na realidade há uma ligação fortíssima entre os dois governos autocráticos.

Só para dar um exemplo recente, em 2023 o presidente Emmerson Mnangagwa, seguindo a linha de apoio à anexação da Crimeia, declarou a solidariedade da nação africana perante a intitulada “operação militar especial russa na Ucrânia”. Por sua vez, a Rússia garantiu investimento avultado na indústria de exploração de diamantes e vendeu jatos MIG 35 ao ditador.

Sentado num helicóptero oferecido pelo amigo Putin, o octogenário Mnangagwa publicou uma fotografia que, não valendo mais que mil palavras, acentua a narrativa da propaganda atual. Declarou o ditador “as vítimas das sanções devem cooperar”.

As alegadas “vítimas”, como facilmente se percebe, são na verdade predadores que colaboram entre si no atual xadrez político.

Esta ligação entre as ditaduras encontra-se amplamente descrita no recente livro “Autocracy inc” da célebre jornalista Anne Applebaum.

O subtítulo da obra resume bem um dos aspectos cruciais desta investigação jornalística: "The dictators who want to run the world".

Applebaum esclarece que não estamos perante o regresso da guerra fria, em que dois blocos monolíticos dominavam a agenda.

Nem existe uma qualquer organização obscura que tudo decide.

Na verdade as alianças são por vezes circunstanciais, feitas e desfeitas pelo vento do oportunismo. Mas tal não significa que tenham menor impacto.

As cleptocracias fazem mais do que criar uma plataforma alternativa de trocas comerciais, como se viu com o estreitar de ligações entre a Venezuela e a Rússia. Elas investem ativamente nas democracias liberais lavando dinheiro, investindo em grupos extremistas e fomentando a desinformação.

De facto, ideias como transparência, liberdade de expressão e direitos das mulheres são considerados perigosos pelos ditadores. Assim, os cidadãos da China, por exemplo, não estão apenas impedidos de fazer algumas pesquisas nos motores de busca com as palavras Tianamen, eles são inundados com propaganda que defende a "decadência moral do ocidente".

O livro da jornalista vencedora de um Pulitzer retrata ao detalhe a atual teia mundial.

Mas faz mais do que isso: aponta - particularmente no seu epílogo “Democrats United” - para algumas soluções.

Destaco duas ideias fundamentais: temos de repensar as relações comerciais com os países que fomentam a desordem. Demasiadas vezes os oligarcas aumentam a sua fortuna com a conivência das democracias. Em segundo lugar, é importante regularmos as redes sociais e ativamente desarmadilhar a avalanche de informações falsas.

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Sabemos que as nossas sociedades estão longe de ser perfeitas e temos um longo historial de erros e cinismo. Mas tal apenas reforça a importância de defendermos valores universais como o livre escrutínio de quem governa, a separação entre o poder político e judicial e a liberdade para a inovação e ciência.

Concluindo, os cidadãos de Londres, Paris e Lisboa têm muito mais em comum do que pensam.

O plano acivo das ditaduras é convencer-nos do contrário.

Felizmente jornalistas como Anne Applebaum contribuem para o fortalecimento das nossas democracias apresentando investigações jornalísticas rigorosas. Obras como este "Autocracy inc" serão certamente proibidas pelos ditadores. Como sempre, eles temem mais os livros do que mísseis.

Sinal da sua fragilidade e da nossa grandeza.

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