Tem duas terras com sabor a casa – Aveiro e Ílhavo. Ela Vaz é licenciada em Economia, mas é a música, enquanto linguagem universal, que a faz mover-se. Hoje, é cantora e mãe de dois rebentos que escolheu ver crescer de perto. São muitos os projetos de artistas portugueses em que tem vindo a participar e os concertos que já coleciona em palcos do mundo. Em 2017, lançou o seu primeiro disco a solo, “Eu”, que, partindo da música tradicional, é dono de “uma linguagem musical própria”.
Raízes e palcos
Nasceu em Aveiro em 76 e cresceu a ver fazer música. O seu irmão, Rui Vaz, era músico e produtor e, muito cedo, fez despertar nela o bichinho de notas e acordes. Em 1997, porém, a morte de Rui criou em Ela um vazio, que, durante dez anos, a fez distanciar-se da música, numa procura por normalidade.
Foi com Rui Oliveira, com quem tem participado em vários projetos, que regressou à sua voz – em pleno e com fado – e começou a assumir os palcos.
Uma vez entregue à música, participou em vários projetos e discos de artistas portugueses, como “Cancionário”, de Ricardo Parreira, “Fados & Canções do Alvim”, de Fernando Alvim, “Tardio”, de Ricardo Fino, “Andarilho 2.0”, de Rui Oliveira, e, mais recentemente, O Sótão da Velha, de Quiné Teles.
O Universo escreve em círculos
Já na segunda década do novo século, Ela recebeu o convite de uma banda que a levaria a pertencer aos palcos do mundo. O Stockholm Lisboa Project, com quem gravou o álbum “Aurora”, distinguido em 2013 com o German Records Critics Award, une músicos e músicas de Portugal e da Suécia, usando a música como veículo para adormecer os quilómetros entre os dois países. Nesse período, conta Ela, foram mais os palcos em que atuou fora – na Bélgica e até na Coreia, entre tantos lugares – do que dentro, em casa.
E, como o Universo escreve em círculos, a cantora, que entrara no grupo para substituir uma música prestes a ser mãe, apartou-se dele quando se avizinhava o brotar da sua primeira filha.
Eu – passado e futuro lado a lado
Com o primeiro rebento com mãos, pés e coração, começou a brotar um outro, feito de música. “Achei que estava na altura de fazer alguma coisa em nome próprio”, conta, e, por isso, após um processo longo de reunir músicas originais e contactar autores, entre várias outras coisas, germinou, em 2017, “Eu”, o primeiro disco a solo de Ela Vaz. Com a produção de Quiné Teles, músico ilhavense com raízes na música portuguesa, e a colaboração de autores e compositores como Amélia Muge e Filipe Raposo, Nuno Camarneiro e Miguel Calhaz, Ricardo Fino e Sérgio Tannus, Uxía Senlle e Viriato Teles, é um álbum que brota das influências de Ela, poisadas na música tradicional portuguesa e no Fado. “Foi um juntar de sonoridades com que me identifico”, reflete, que, “apontando para o futuro”, não volta as costas ao passado.
Uma pausa para ver crescer
Com o nascer da segunda filha, Ela decidiu ausentar-se dos concertos para acompanhar de perto todos os seus primeiros pequenos grandes passos. A música nunca cessa, porém. Em casa, que partilha com outro músico, Rui Oliveira, “cantamos e tocamos todos os dias”, conta.
Para já, o mais importante é “desfrutar deste momento”. Mais tarde, “as oportunidades na música hão de aparecer”, diz, com a certeza de que a música portuguesa, na qual enraíza muito do que faz, tem futuro – e um futuro bonito.
* Créditos da foto de capa: Paulo Moreira (Naked Fotografia)