Diz-se que os europeus, talvez mais os continentais, são menos dados às biografias das grandes personalidades do que os americanos ou os anglo-saxónicos em geral. É capaz de haver pelos menos duas razões para isso. Por um lado, na Europa continental, predominando a história de matriz marxiana (ou seja, influenciada por Marx, pelo menos no método, ainda que não ideologicamente), olha-se mais para a classe, para o movimento, do que para o indivíduo, o líder. Por outro lado, o ceticismo e a ironia reinantes fazem desconfiar dos santos, dos heróis, dos inspiradores. Aliando marxismo e ironia, escreveu Bertolt Brecht no célebre poema “Perguntas de um operário letrado”: “César venceu os gauleses. // Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?”
Esta tendência, contudo, começa a ser contrariada. Publicam-se cada vez biografias em Portugal, e, entre elas, os pequenos relatos para inspirar, como é caso destes dois livros das edições Guerra & Paz: “O pequeno livro das grandes heroínas”, de Maria João Medeiros, e “O pequeno livro dos grandes heróis”, de Sofia Cochat-Osório.
“O pequeno livro das grandes heroínas” assume a sua intenção de inspirar, para além de informar. As 25 heroínas biografadas, da poetisa Safo de Lesbos (séc. VI a. C.) à estudiosa de primatas Dian Fossey (1932-1985), abriram caminhos “para a nossa passagem, por vezes a custo demasiado alto”. Dian Fossey morreu a golpes de catana, nas montanhas Virunga, no Ruanda. Mas, como Rosa Parks, Frida Kahlo, Anne Frank, Florence Nightingale, Joana d’Arc e muitas outras, lançou uma “dupla semente”: “a semente do espanto, porque tudo o que fizeram não pode deixar de nos impressionar; e a semente da esperança, porque tudo o que alcançaram não pode deixar de nos inspirar” (pág. 10).
Na mesma linha, Sofia Cochat-Osório escreve na Introdução de “O pequeno livro dos grandes heróis”: “Precisamos, mais do que nunca, de figuras inspiradoras, capazes de nos devolver à crença inocente e otimista de que caminhamos persistentemente para a liberdade”. As figuras apresentadas vão de Ramsés II (séc. XIII a.C.) a Nelson Mandela (1918-2013), incluindo, entre outros, Alexandre Magno, Galileu, Voltaire, Abraham Lincoln, Aristides de Sousa Mendes e Martin Luther King.
Sem dúvida, em ambos os livros, uma boa galeria de homens e mulheres que inspiram o mundo.
Jorge Pires Ferreira/Livraria Ror de Livros – Aveiro