É natural de Lisboa mas fez-se aveirense em 1997, quando veio estudar Novas Tecnologias da Comunicação na Universidade de Aveiro. Chegou à cidade da ria já com uma vasta experiência no mundo do teatro e das artes em geral. Hoje, aos 41 anos, vive de e para as artes, sendo presença habitual em projetos como o Festival dos Canais ou as leituras encenadas da Biblioteca Municipal. Recentemente, foi também uma das vozes que se fizeram ouvir, a partir de Aveiro, alertando para os graves problemas que a pandemia veio trazer para os artistas e agentes culturais. Ivo Prata é um homem habituado a assumir vários papéis, a fazer rir miúdos e graúdos, mas neste momento não consegue esquecer a sua preocupação em relação ao impacto desta crise no setor da cultura.
O teatro sempre esteve lá, desde o infantário, e a partir dos 17-18 anos iniciou-se na arte circense. Acabou por ficar ligado a alguns grupos, como foi o caso do MalabArte, em Lisboa, e da Trupe Xtróinas, em Aveiro, num percurso que o levou a trabalhar, depois, na Efémero. “Como ator, direção de comunicação, técnico de luz, som e multimédia…”, recorda.
Em 2010, começou a lançar as sementes que levaram à criação da Pantopeia, associação cultural de criação e promoção artística que deixou a sua marca em Aveiro. “Esta associação fez um trabalho muito interessante mas, a partir do momento em que o prédio onde estava foi vendido, o sonho desmoronou-se”, lamenta.
Ivo Prata recorda com especial saudade o trabalho desenvolvido em parceria com o Agrupamento de Escolas de Aveiro junto dos mais novos. Gosta de trabalhar como educador, a guiar as crianças e jovens no mundo das artes, razão pela qual tem vindo a assumir o papel de professor e formador em várias escolas e centros de ensino (setor público e privado). “Dou-me muito bem a trabalhar com os mais novos, há uma interação muito natural”, confessa.
Além de ator e formador, Ivo Prata também é contador de livros e promotor de leitura. “Adoro poder levar a criança, o jovem ou o adulto, a ter vontade de ler mais e de querer pegar naquele livro e lê-lo com tanta vontade ou energia com que eu o faço”, testemunha, em entrevista à Aveiro Mag. “Gosto muito de trabalhar com livros”, faz questão de notar.
Prova dessa sua paixão foram as inúmeras sessões que foi desenvolvendo, desde 13 de março, a partir do Facebook. Foram mais de 55 vídeos realizados e emitidos em temos de confinamento, a sentir “a falta da reação e energia das pessoas”. “Mas foi uma forma de estar a prestar um serviço à comunidade e ajudar as crianças a passarem o tempo” e também uma maneira de angariar alguns (poucos) donativos - algo que aconteceu involuntariamente, após o próprio público ter solicitado os meios para o fazer.
“A sociedade portuguesa não está preparada para perceber que um artista como eu, a partir do momento em que lhe tiraram todas as suas turmas e cancelaram todos os seus espetáculos, vive do zero”, lamenta Ivo Prata. Foi essa falta de consciência que o levou a participar, recentemente, na Vigília Cultura e Artes realizada em Aveiro – iniciativa que se inseriu num protesto mais alargado, à escala nacional. Um protesto "calmo e ordeiro", que seguiu à risca as orientações da Direção Geral de Saúde, e que poderá conhecer novos episódios, admite Ivo Prata.
Criar raízes em Aveiro
A pergunta era obrigatória. O que leva um artista natural de Lisboa, cidade onde tudo acontece a nível cultural, a fixar-se em Aveiro? "Acabei por criar raízes aqui", testemunha, exaltando a forte presença da água na paisagem da cidade e da região. "Eu e a água temos uma ligação muito forte", revelou, ao mesmo tempo que confessava ter dois grandes amores a este nível: "a Ria Formosa, onde passo os meus verões, desde há muitos anos; a Ria de Aveiro, onde passo o ano todo".
"E gosto muito das pessoas", acrescenta. "Aqui em Aveiro acontece uma coisa que não acontece em Lisboa. Eu consigo ir na rua e dizer olá às pessoas, sem que me olhem de lado", remata.