Há 22 anos, a carreira no ensino levou-a até à ilha de São Miguel, nos Açores. Chegou e ficou, ainda que com constantes regressos à Gafanha da Nazaré, no município de Ílhavo, terra que a viu nascer e crescer. Aos 52 anos, Alda Casqueira Fernandes orgulha-se de conseguir juntar duas das suas grandes paixões num só projeto: compõe e canta para os mais pequenos, fazendo das notas e das letras musicais uma ferramenta de ensino. “O resto são cantigas”, conta em entrevista à Aveiro Mag, fazendo eco do nome da página de Facebook através da qual divulga também o seu projeto. “Sinto-me muito bem no mundo dos pequeninos”, assegura, não obstante reconhecer que “as crianças são mais difíceis de contentar e são mais sinceras”.
Todo este trabalho de composição de canções para a pequenada está vertido num canal de Youtube que já conta com 62,4 mil inscritos e mais 30 milhões 750 mil visualizações. São mais de 500 vídeos e outras tantas canções que abordam temas tão díspares como o corpo humano, os dias da semana, a alimentação, a família, entre outros. “Na minha prática, enquanto educadora de infância, deparava-me com a dificuldade em encontrar músicas que tivessem um cariz mais educativo, que não fosse só lúdico”, enquadra. 1+1 são 2 e como Alda Casqueira tem a música a correr-lhe nas veias não tardou a colmatar, ela própria, essa falha. “Comecei a fazer músicas para os meus miúdos e foi uma bola de neve. Eles pediam uma música para isto, uma música para aquilo...”, acrescenta.
Estava, assim, dado o primeiro passo para uma aventura que ganhou ainda mais asas durante a pandemia. “Na altura, criei uma iniciativa que se chamava ‘Cantar até a má onda passar’ e todos os dias eu partilhava com as pessoas uma canção da minha autoria”, refere. Daí até saltar para a televisão não foi preciso muito. “Fui chamada pela Direção Regional de Educação para ingressar num projeto da RTP Açores. Acabou por ser a Telescola e estive lá dois anos”, acrescenta.
Também na sequência do trabalho que desenvolveu durante a pandemia, Alda Casqueira foi contactada para fazer 12 episódios musicais para a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens – emitidos, entretanto, na RTP. “São episódios musicais onde se passa uma mensagem de parentalidade positiva”, destaca. Foi compondo as músicas em São Miguel, mas a gravação foi feita na Gafanha da Nazaré, nos estúdios Pré-palco do Rui Carvalho.
Do coro da igreja aos festivais
Alda despertou para as cantigas ainda na infância. Na verdade, elas já faziam parte da família. “Os meus avós e os meus pais sempre foram muito cantadores. Eu comecei a cantar no coro da Capela da Chave com os meus pais e sempre me lembro de eles cantarem muito”, testemunha. Chegou a aprender guitarra nas Irmãs de Maria Schoenstatt, também andou no Conservatório, ainda que pouco tempo, no curso de canto, e foi ainda na adolescência que começou “a compor e a ir a festivais”.
Cantou em grupos de baile – segundo refere, foi assim que conseguiu pagar os seus estudos – e, já a frequentar o seu curso superior, “quando tinha trabalhos de grupo, compunha sempre uma canção”. “A composição para crianças começou nessa altura”, vinca.
Já nos Açores, ingressou num grupo de teatro de fantoches (Associação Açoriana de Educação pela Arte), para o qual também foi compondo, e, ainda tempo depois, foi convidada a ingressar na Orquestra Ligeira da Câmara Municipal de Ponta Delgada, onde esteve sete anos como vocalista principal.
Nos últimos anos, o grande destaque têm sido, então, as canções para a pequenada. Só muito raramente, Alda Casqueira sai desse que é agora o seu registo favorito. “Recentemente, tive a oportunidade de fazer algo para crescidos no Festival Literário de Gouveia onde fiz uma homenagem ao Tó Zé Brito com ele lá presente. Foi muito giro”, relata. Ainda assim, é “no mundo dos pequeninos” que diz preferir estar. “E faço imensos espetáculos pelo país fora sempre nesse registo”, refere.
Sempre que pode, viaja até à sua terra natal, a Gafanha da Nazaré - confessa que tem saudades, além da família, “da areia branca da praia” -, mas São Miguel já é a sua casa. Foi lá que casou, com um transmontano, e teve uma filha. É lá que tem “uma vida com tempo para tudo” e, bem vistas as coisas, os Açores não estão tão longe quanto isso. “No ano passado, devo ter ido aí todos os meses fazer espetáculos para a infância”, conta.