Depois de cinco livros publicados, é caso para perguntar a Manuel Joaquim Rocha o que ainda lhe falta escrever. “Não penso escrever mais nada. A não ser que surja a necessidade”, confessa, em conversa com a Aveiro Mag. A ideia de escrever uma nova obra parece estar assim, por ora, afastada, mas o gosto pela escrita permanece e vai continuar a materializar-se em artigos de opinião para os jornais Correio do Vouga e Diário de Aveiro. “Gosto de ler esta realidade que estamos a viver, olhar a vida à luz dos valores” e olhar para “a resposta que a Igreja dá ou não dá a esta realidade, à vida que nós levamos”, admite.
Os tempos são de “muitas dúvidas e tentações”, aponta. “Começámos com o problema dos casamentos. Hoje, as coisas foram mudando, e os casais já estão em união de facto, já têm um filhote. E agora como é? Batizam, não batizam?”, exemplifica, notando que, atualmente, há “uma caminhada pastoral atendendo não à regra, mas atendendo às pessoas, o que dificulta a decisão”. “Hoje, a Igreja vai caminhando, mas tem uma tentação: é deixarmo-nos levar pelo vento e irmos na corrente”, vincava, poucos dias depois de o Vaticano ter anunciado que vai permitir aos padres católicos administrar bênçãos a casais do mesmo sexo. “A Igreja tem que acolher a todos, mas não é acolher tudo”, argumenta, sustentando que “cada pessoa tem de fazer também o caminho [da Igreja]. Ainda agora, a pretexto das declarações do Papa, as pessoas a dizerem: a Igreja tem de mudar. Sim, mas as pessoas também têm de caminhar”, refere. “Há coisas para mim, na Igreja, que são caminho. Só vejo, na Igreja, casamento entre um homem uma mulher. O resto? Acolher, com certeza. Mas não pode ser a mesma coisa, portanto, temos de caminhar, uns e outros. O tal todos, todos, mas não é tudo, tudo”, afirma.
Têm sido tempos de mudança para a Igreja, mas também de grande condenação e polémica por força do escândalo dos abusos sexuais de menores. “Muito mau, horrível. Porque além de tudo, as pessoas confiam na Igreja”, avalia, sem deixar de reparar, contudo, que se “empurrou tudo para a Igreja”. “Tem-se dito muito que a igreja tem de fazer isto e aquilo, mas e os casos que são na família? E nas escolas?”, questiona. Ao jornal PÚBLICO, em fevereiro, Ana Nunes de Almeida, coautora do estudo sobre abusos na Igreja, reconheceu maior parte dos abusos não ocorre nem na Igreja nem nas instituições religiosas, mas na família e noutros lugares de socialização das crianças como os clubes desportivos e as escolas. “Mas mesmo que fosse só um caso na igreja, já era mau”, reconheceu o vigário geral.
Manuel Joaquim Rocha não deixa de analisar o que está mal, mas também faz questão de enaltecer as coisas boas da sociedade. Poucas horas antes da entrevista, tínhamos visto um comentário seu no Facebook a regozijar-se com a solidariedade gerada em torno de um pedido de ajuda. "Gosto muito daquele grupo dos Vizinhos de Aveiro. Aparece sempre gente disposta a ajudar. Sempre gente disponível para ajudar e eu admiro muito aquilo", destaca, lembrando que vivemos tempos "controlados pelo relógio, sem tempo para os outros". "E depois também temos sempre razão. E direitos. Não assumimos a nossa quota, o nosso dever, a nossa obrigação. Ficava-nos bem perceber que nem sempre temos razão. O sermos capazes de dizer por favor, obrigada", nota.