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Diário de um Peregrino

Opinião

Este é um tema que me diz muito, mas que me deixava sempre muitas dúvidas se deveria, ou não, abordar. Afinal de contas, ou no final das contas, a religião ainda desperta demasiadas emoções, muitas exacerbadas, outras ligeiramente controversas, algumas, mas poucas, de sentimentos livres de quem as toma.

O que me fez avançar na escrita desta crónica, ou livre pensamento, foi um cartaz colado com fita-cola, e escrito à mão – coisa rara – no muro de uma vivenda, ali para os lados da Bidoeira e que dizia mais ou menos assim: “Sr. Peregrino, sinta-se livre de tirar água fresca da arca. Bom caminho”.

Eram 14h40 de sexta-feira. A andar desde as 7 da manhã, a partir da Cova Gala, com paragem para pequeno-almoço em Marinha das Ondas e almoço na Guia, eu e o meu colega de peregrinação, o Edgar (obrigado, meu rapaz!), andávamos debaixo de um sol escaldante, com o termómetro a assinalar os 35 graus. Tínhamos, naturalmente, água connosco, mas o calor era muito e água nenhuma se aguentava sem virar “caldo”.

Aquele cartaz, aquela arca frigorífica cheia de garrafas de água envoltas em gelo, fizeram-me perceber que é tão fácil fazer tanto pelas pessoas, com tão pouco. Com quase nada. Aquelas garrafas de meio litro não custam mais de 50 cêntimos em qualquer supermercado, mas o valor da oferta, sem pedir nada em troca, sem sequer estar ali para receber um agradecimento, vale tanto, mas tanto mais. Ainda parei perto da janela e do portão da casa, e gritei várias vezes: “obrigado pela água!”. Não ouviram nem apareceram, mas elas sabem bem o bem que (nos) fizeram.

Foi a sétima vez que fiz a peregrinação e, por isso, não foi a primeira vez que tive este sentimento de coração cheio. E já fiz com muito calor, com frio e céu fechado, com chuva e granizo, a andar mais de noite ou mais de dia, como este ano. Quando se caminha com colete colocado, a caminho do santuário, há uma aura que nos protege. E há um “respeito” notório dos automobilistas que passam por nós, dos ciclistas que pedalam nos dois sentidos, nas pessoas com quem nos cruzamos.

Ao contrário deste ano, todas as outras vezes caminhei com um grupo de amigos que conheci na OLI – Sistemas Sanitários. Uma espécie de irmandade que todos os anos se juntava para ir a Fátima a pé, tendo a Patrícia e a Ilsa como motoristas de serviço, conduzindo a carrinha de “apoio ao peregrino”. É muito mais confortável ir acompanhado, mas mesmo quando se vai de mochila às costas, nunca se está sozinho. Porque a frase “uma vez peregrino, sempre peregrino” não é dita ao calha. É um facto.

No entanto, aquelas seis caminhadas foram um bálsamo. Chorei muito, ri muito, sofri muito e, no último ano, pedi algo pela primeira vez. Até então, caminhei pela vontade de o fazer. Para testar limites. Para perceber o que fazia, a cada maio e outubro – pelo menos – tantas pessoas irem em peregrinação tantos e tantos quilómetros. E percebi, se percebi. E vi, se vi. Só sente e sabe quem faz o caminho. É uma certeza. Fazer o caminho e, sobretudo, chegar lá, é uma bênção. Um conforto que não tem explicação. É algo muito maior que a fé. É algo que nos transcende. Até a mim, que acredito pouco. Ou menos. Ou diferente.

Este ano fui de mochila às costas. Mas aliviado. Porque o pedido ultrapassou a impossibilidade e tornou-se possível. São coisas que só a fé explica. Se calhar nem é preciso ter explicação. Mas pelo caminho – não este ano, porque alguém incompreensivelmente a “rabiscou” – havia uma frase que explicava tudo, pintada numa caixa de eletricidade, numa estrada entre lado nenhum e nenhum sítio, e que dizia: “a força interior é superior à dor”. E é a realidade. Dura. É impossível fazer 123 quilómetros em dois dias e meio e não sentir dor. Muito menos quando depois de fazer mais de 110 quilómetros se tem de subir mais seis: a “mítica” Santa Catarina da Serra. O corpo, a cada passeio que se sobe ou desce, é uma dor só. A cada cem metros que percorre quando se está esgotado, é uma angústia. Mas o que manda é a cabeça. O que nos faz andar é a “força interior”. Há quem lhe chame fé.

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