O meu desejo para 2022

 

José Alexandre Silva

 

 

“Dá-me um abraço, que me desperte
E me aperte, sem me apertar
Que eu já estou perto, abre os teus braços
Quando eu chegar

 

É nesse abraço que eu descanso
Esse espaço que me sossega
E quando possas dá-me outro abraço
Só um não chega”

 

 

As palavras de Miguel Gameiro sempre me fizeram sentido, porque sempre fui uma pessoa de abraços, de palavras com sentido e sentimento. Um romântico, portanto, fruto possivelmente desta minha eterna vocação pelas Letras, pela poesia que reside em cada momento especial.

 

Quando fui desafiado a escrever este meu desejo para 2022, dei por mim a pensar o que mais quereria para o novo ano que se avizinha. Aveiro sempre foi a minha cidade e sempre será e, por isso, não deveria ser difícil pensar em coisas que fariam de Aveiro uma cidade melhor.

 

O primeiro e único pensamento, confesso, foi mais espaços verdes ou espaços próprios para crianças, uma vez que quando quero sair com os meus filhos mais pequenos, a Helena com cinco anos e o Lourenço quase a fazer três (o Francisco, aos 20, já precisa de outras coisas), vejo-me sempre com alternativas reduzidas.

 

No meu tempo (é o que dá estar quase nos 50) era tudo mais fácil. A rua era o nosso mundo e quase nada parecia inseguro e perigoso para os nossos pais, até porque quando não estávamos com eles, estávamos entregues a nós e aos nossos vizinhos. Agora é tudo mais difícil e espaços onde as crianças possam correr livremente, são raros.

 

E, admito, sou um privilegiado, porque moro num pequeno oásis, na Patela, em São Bernardo, numa espécie de praceta, com parque infantil à porta, relva em bom estado para piqueniques de final de tarde ou de fim de semana e uma estrada quase sempre segura, onde os mais novos podem aprender e andar de bicicleta de forma tranquila. Mas, quando quero daqui sair, para onde vou? É essa a questão.

 

No entanto, mesmo sendo um desejo pertinente, acabei por perceber que não é o que mais quero para 2022. O que realmente mais quero é a liberdade de dar e receber abraços, porque em qualquer momento, de alegria, de regozijo, de felicidade imensa, de dor profunda, de desconsolo, de angústia, de qualquer sentimento diferente, nada sabe melhor de que um abraço apertado, dado por quem sabe que precisamos daquele instante de cumplicidade, de conforto.

 

Mas um abraço pode também, e deve, ter uma leitura mais alargada, não tão linear. E desses abraços, de respeito pelo outro, de solidariedade, de fazermos mais por quem e pelo que nos rodeia, é fundamental. Mais do que isso, é obrigatório. Numa altura em que, há quase dois anos, estamos no meio de uma pandemia, é importante que se perceba que é fulcral ajudar quem precisa, estar disponível para ouvir quem necessita falar (e às vezes berrar), e é tão bonito ter, à mão, o lenço de papel para limpar as lágrimas de desespero de quem as verte.

 

Por isso, para 2022 o que quero mesmo, é mais (a)braços para ajudar e confortar. É nas pequenas coisas que reside o segredo para mudar o mundo.

 

 

“Me abrace, que no abraço mais do que em palavras, as pessoas se gostam.”

Clarice Lispector

 

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