Há jogos inspirados tradições de diversas regiões, antigos brinquedos e até mesmo em experiências científicas. Alguns surgiram na sequência de reptos específicos, como os “jogos sobre as tradições ligadas ao arroz” que Helder desenvolveu para o festival “Dou-te o Arroz”, em Ulme, Chamusca, ou aqueles que criou para o festival Rádio Faneca, em Ílhavo, na altura da pandemia – desafiado a criar jogos que pudessem ser jogados apenas com os pés, desenvolveu um circuito inteiro adaptado às restrições da época. Noutra ocasião, instigado a criar jogos sobre o tema da sustentabilidade, elaborou uma “Ponde das Gerações”, uma estrutura inspirada na ponte de Da Vinci, que permitia que as famílias construíssem uma estrutura mais alta do que elas próprias, reforçando a ideia de que o que fazemos hoje impacta o futuro.
Para Helder, os jogos não são apenas uma forma de entreter, de passar o tempo, mas podem servir como meio para educar e unir pessoas. Em 2013, num evento dinamizado pela Santa Casa da Misericórdia de Águeda, Helder deparou-se com “uma senhora de idade, com problemas de locomoção, a quem havia caído uma bola durante um jogo”. Para espanto de todos, ao ritmo e com a agilidade que a idade e a saúde lhe ofereciam, a ansiã baixou-se e apanhou a bola, continuando a jogar. “Se fosse uma sessão de fisioterapia, mandava o terapeuta passear, mas o contexto do jogo faz toda a diferença”, comenta Helder, bem-disposto. A experiência inspirou o "Ganhar Sorrisos", um projeto voltado para o público sénior que tem feito com que Helder leve jogos para lares, incentivando o exercício físico e cognitivo.

Com o passar dos anos, a demanda pelos Jogos do Helder cresceu. No verão, é comum encontrá-los em festivais culturais, mostras tradicionais e eventos de rua de Norte a Sul de Portugal – em 2024, por altura do Dia Mundial da Criança, mais de uma centena de jogos estiveram espalhados pelo território nacional, de Ponte de Lima até Lagoa. No inverno, quando a agenda de eventos acalma, é tempo de se dedicar à criação de novos jogos. Entre as suas invenções mais curiosas estão três bicicletas insólitas: “uma bicicleta em que as rodas têm eixos independentes, uma em que o quadro gira e, a mais alucinante de todas, uma que avança quando se pedala para trás e vira para o lado oposto ao da direção do guiador”, descreve.
O sucesso do projeto poderia tê-lo levado a transformá-lo em um simples negócio de construção e aluguer de jogos, mas Helder continua fiel à sua essência: um projeto social, educativo e intergeracional. É difícil, ainda assim, explicar os Jogos do Helder em palavras. Mais do que simples brinquedos de madeira, cordas e tubos pintados de cores berrantes, são experiências que reúnem pessoas, criam memórias e provam que, muitas vezes, é no meio das maiores dificuldades que se encontram os caminhos mais gratificantes.