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A partir da Noruega, aveirense cumpre missão de apoio aos refugiados

Sociedade

Marta Parada, pediatra a trabalhar na Noruega, foi outra das aveirenses que decidiu sair da sua zona de conforto para ir buscar refugiados à fronteira da Ucrânia. Partiu, no dia 5 de março, carregada de mantimentos e regressou à Noruega com mais de 100 refugiados da guerra.

Uma viagem que lhe provocou um misto de sensações, conforme testemunhou à Aveiro Mag. Por um lado, a angústia e frustração por não poder trazer todos os refugiados. Por outro, a alegria de ter feito a diferença para alguns.

O que a levou a ir para Ucrânia, desde a Noruega, onde reside e trabalha, buscar refugiados?

Desde o início da guerra que estava inquieta. As notícias diárias do aumento de refugidos começaram a mexer comigo de tal modo, que dei por mim a procurar a melhor forma de poder ajudar. Comecei com donativos a algumas organizações a trabalhar no terreno, com experiência em cenários de conflito e que sem dinheiro não conseguem executar aquilo a que se propõem (compra de medicamentos, roupa, mantas térmicas, provisão de locais para colher refugiados, entre outras coisas), como Médicos Sem Fronteiras, UNICEF, Cruz Vermelha, Aldeias SOS Crianças e Caritas, só para nomear algumas.

Mas os constantes relatos de mães que se punham à estrada de mão dada com os filhos para fugir à guerra, tiraram-me o sono. Queria fazer mais. Como médica e, ainda por cima, pediatra, sentia-me com competências para participar numa missão de evacuação e transporte de refugiados para um lugar seguro. E, por isso, a inquietação não cessou. Soube, nessa altura, que em Portugal, um grande amigo, o Paulo Jesus, integrava uma caravana de carros para levar mantimentos e recolher refugiados previamente sinalizados e essa ação inspirou-me ainda mais à procura de missões semelhantes na Noruega. Falei com colegas de trabalho e exprimi esta minha vontade de partir em direção à fronteira. No dia 4 de março, de manhã, tinha uma mensagem de uma amiga que me reenviava uma publicação numa página de médicos no Facebook onde pediam médicos para integrar um projeto da igreja norueguesa de uma cidade perto da minha, numa missão que consistiria levar mantimentos e em trazer 170 refugiados que quisessem vir viver para a Noruega. A partida estava prevista para o dia seguinte e a minha resposta foi sem hesitação, sim.

O que esperava encontrar e o que encontrou?

Só sabia o que via nas notícias. Um agressor e um país agredido. Uma guerra com dez dias mas com muitas consequências trágicas em vidas humanas. Muitas pessoas a fugir, especialmente mulheres e crianças. Aqui ao lado. Famílias separadas. Mas as notícias não te dão a dimensão dos olhares. Nas notícias não te contam as histórias só a ti. Nas notícias não te abraçam. Nas notícias não lhes sentes o cheiros dos dias que passaram a andar com os filhos ao colo e a pouca bagagem que trazem às costas.

Foi isso que encontrei. Centenas de crianças, jovens e mulheres sem espaço entre si, amontoadas naquele campo de refugiados. Sem privacidade, com casa de banho comum no exterior, à espera para carregar telemóveis numa mega extensão improvisada, à espera da paragem seguinte, de alguém que as levasse para outro lugar, deitadas à sua sorte, vulneráveis. Pessoas a quem a guerra interrompeu o trabalho, o cabeleireiro, a ida ao dentista, a preparação do casamento, a festa de anos do filho, ou o tratamento de quimioterapia da mãe. Crianças a quem a guerra tirou as gargalhadas e as brincadeiras. Adolescentes a quem a guerra interrompeu o processo de pertença e descoberta de si próprio. É devastador e incompreensível.

Qual o sentimento que fica de tudo?

Fica um sentimento de profunda empatia por um povo atacado violentamente. Fica a admiração pela bravura destas mulheres, que se puseram à estrada para pôr a salvo a parte da família que pôde fugir. Fica um sentimento de profunda angústia e frustração por não ter mais braços para trazer todos. Fica, ainda assim, a alegria de podermos ter feito a diferença para alguns. Mas continuo a não conseguir dormir bem.

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