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Gonçalo Madaíl: Dos Chip Chip Zan Zan ao Festival da Canção

Artes

Quem viveu os seus anos de adolescência e juventude na Aveiro dos idos anos 90 quase de certeza que viu, assistiu ou, pelo menos, ouviu falar dos Chip Chip Zan Zan, uma das bandas de referência da cidade que, com as suas músicas e letras de uma qualidade única, deixou um legado que muitos, como eu, não conseguem dissociar de memórias bonitas e de estórias por e para contar.

A voz que interpretava todo aquele sentimento era a de Gonçalo Madaíl, um ceboleiro de gema, nascido em 1975 no Hospital de Aveiro e que hoje é o diretor do Centro de Inovação da RTP, da RTP Memória e subdiretor da RTP1, com responsabilidades, entre muitas outras, no ressurgimento do Festival da Canção.

Nesta conversa de amigos, que virou entrevista, revisitámos a vida do Gonçalo, desde as memórias das brincadeiras nos antigos terrenos da antiga Fábrica Campos, palco de infindáveis aventuras incontáveis, do “playground do Côjo”, onde hoje é o Forum Aveiro, aos anos de estudante até ao percurso profissional, onde tem sido, desde sempre, um precursor.

No final, o que ainda está por fazer. E para quem, de novo como eu, ainda hoje entoa o “Fado Falado” ou o “Toma Cuidado”, a luz voltou a brilhar no fundo do túnel.

Começamos, se calhar, pelo fim. Na semana em que acontece outra edição do Festival da Eurovisão, Portugal tem nos Black Mamba mais um desafio. A primeira canção cantada em inglês. É mais um momento único?

Em relação a essa questão, tudo é fácil de explicar. Quem escolheu a canção que representa Portugal foi o júri presente, mas também o público, que num ato de democracia, votaram no seu preferido. Por isso, não há muito a dizer sobre essa questão. Os Black Mamba estão em Roterdão por mérito próprio, mostrando a sua qualidade, reconhecida, e acredito que o seu trabalho será premiado, com a divulgação da música que fazem e chegando a novos mercados.

O Festival da Canção é um dos teus “filhos” prediletos?

Andei sempre a fugir do festival. Mas no dia em que finalmente aceitei o desafio, decidi que era para ser a sério. Parou um ano e se calhar poucos foram os que perceberam que não se realizou. Com uma equipa onde estava o Nuno Galopim e o Henrique Amaro, criámos o conceito que só podia estar como concorrente no festival, quem não dependesse dele. Quem já tivesse uma carreira e que não visse o evento como uma tábua de salvação. Logicamente, e não há como fugir a isso, que tudo resultou porque logo no primeiro ano surgiu o Salvador Sobral. Ele foi o acelerador brutal da mudança.

Acreditaste sempre na vitória?

Foi uma experiência fantástica. Foi uma noite memorável a da vitória. Mas mesmo quando se começou a pressentir o fenómeno, até à noite da final, acreditei que faríamos a melhor classificação, mas nunca ganhar. No entanto, até quando ganhamos somos retumbantes e fizemos a melhor pontuação de sempre. Foi inacreditável. A cereja em cima do bolo foi trazer a Eurovisão para Lisboa, que é apenas o maior programa de entretenimento do mundo, com uma audiência que é o dobro da Super Bowl e dos Óscares, só para se perceber o alcance. Para esse momento, criou-se uma equipa pequena que quase não dormiu durante um ano.

A vitória do Conan Osíris foi um teste difícil ou um desafio diferente?

O Conan Osíris é uma figura ímpar. É um criador e um artista, que pisa terrenos de um território incomum. Desafia os nossos preconceitos e estética. Para além do Salvador foi, na Eurovisão, o que mais impacto e furor causou. Nesse sentido tem de se trabalhar muito o preconceito. O mesmo, agora, com os Black Mamba. Vivemos um período de ouro em termos musicais em Portugal e é um sinal de maturidade reagir com naturalidade a isto.

A tua ligação à música, no entanto, já vem desde a adolescência. Estava destinado não se quebrar esse cordão umbilical?

Sim, a música fez sempre parte de mim e do que faço. De forma direta ou indireta, fosse a escrever ou a cantar ou, numa determinada fase da minha vida, a realizar videoclipes. Até que um dia esse “passatempo” passou para a tempo inteiro, quando recebi o convite da MTV Europa para criar a MTV Portugal e criar um projeto de raiz. Foi o tempo de viajar, de conhecer outras realidades, de estar numa empresa que é uma das melhores do mundo a fazer espetáculos. Aprendi muita “televisão” com eles e o culminar desse projeto foi a Gala da MTV em Lisboa. Foi um mundo esse evento. Uma empreitada inesquecível.

Antes tinhas estado na criação da NTV, que depois se tornou naquela que é hoje a RTP3, e depois desses anos na MTV regressas à RTP. É a tua casa?

Foi inevitável. Quando me convidaram para a direção de programas da RTP foi com o intuito de rejuvenescer a estação. E mais, podia ser o “maluquinho” da equipa, o que está sempre a encontrar caminhos diferentes. E tem sido assim a minha vida. O de criar. Na RTP, por exemplo, com a Academia RTP e depois com o centro de Inovação.

E como foi, e é, esse desafio de liderar a RTP Memória?

É sem dúvida, um paradoxo. A equipa mais jovem e pegar no património mais antigo, que está todo na RTP Memória. É uma ironia fantástica e um desafio tremendo, porque o património é brutal, com documentos valiosos. Está ali a história de Portugal chapadinha. Conseguimos provar que era possível mudar a linguagem, mesmo a RTP Memória sendo um canal de nicho. Só que agora, a média de idade dos espetadores cifra-se nos 40/45 anos, o que mostra que estamos no caminho certo. Foi preciso uma certa dose de loucura e a coragem de desafiar amigos como o Alvim, o Markl, a Cautela, entre outros, a acreditar num projeto destes e que podia ser divertido. É fundamental colocar sempre o tempo em perspetiva. E, também, poder juntar gerações, como ter no mesmo programa o Markl e o Júlio Isidro, um dos maiores de sempre.

Falando de memórias e do passado, o que querias ser quando fosses grande é o que és?

Por acaso não, ainda que não seja muito distante. Sempre fui um aluno de Letras porque a ambição era ir para Jornalismo. Mas falhei o acesso à Universidade Nova por poucas décimas e acabei por ir parar a Ciências da Comunicação na Universidade da Beira Interior, na Covilhã. Para mim foi uma profunda transformação. Obrigou-me a descobrir e a descobrir-me o que me moldou a personalidade. Percebi que não queria jornalismo, mas sim documentários, televisão, curtas-metragens. Fiz uma série de reportagens sobre o interior que me despertaram para esta realidade, mas que sobretudo me fizeram, e isto é fundamental para o que viria a seguir, abrir-me estando num sítio fechado. O passo seguinte foi, com um amigo de sempre, o Nuno Jubero, escolher o que fazer. Pesquisámos o que havia e escolhemos Documentário Criativo, em Barcelona. Pedimos um empréstimo ao banco e fomos para uma cidade maravilhosa, em 1999/2000. Houve algum arrojo, assumo, porque não era abrigo de qualquer programa comunitário ou de intercâmbio, como é agora o Erasmus. Toquei e cantei na rua naturalmente, fizemos pela vida, mas compensou porque a minha primeira experiência televisiva foi lá que aconteceu, na Barcelona Television. Depois disso, NTV, RTP, MTV e agora RTP de novo.

Mas antes de tudo, os Chip Chip Zan Zan. Foi o primeiro processo de criação? Como foi gerir esses picos de fama no início da juventude?

Ajudou muito a transformar a minha vida, da abstração criativa à concretização. A música era uma espécie de osmose. Conheci muitas salas, toquei com bandas de suporte que hoje são das maiores, como os Xutos e Pontapés e os GNR, por exemplo, assim como os Sitiados. Fomos um pequeno fenómeno mediático numa altura em que não existiam redes sociais. Saía do nosso suor. Das nossas imperfeições. Volto a esse “sítio” muitas vezes.

Voltaram a juntar-se há uns anos, num espetáculo único no Olá Ria, que teve casa e corações cheios. É para repetir?

Temos agendas difíceis, pois estamos em sítios diferentes em Portugal e no Mundo. Já fomos convidados para o fazer e sinto que irá acontecer de novo. Esse concerto foi especial, pois voltámos a estar juntos, vimos gente que não víamos há muitos anos, cantámos de novo coisas que nos dizem muito, sentimos que as pessoas ainda sabiam as letras. O Fado Falado, escrito pelo Nuno Peixoto, foi inolvidável. O que sinto pena, ao fim destes anos todos, é que aquela passagem, aquilo que se fez, aquilo que se criou, que se pode perder apenas na memória. De nós e de quem gostava de nós. Não há nenhum registo total, nenhum registo de qualidade. Na altura em que a banda terminou, tínhamos um convite para gravar numa grande editora. A democracia imperou, fomos a votos e decidimos recusar e acabar. Mas hoje, sinto que falta alguma coisa. Espero, um dia, que esse registo, essa gravação, que aconteça. Que fique para a história.

Gonçalo Madaíl nos Chip Chip Zan Zan
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