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Francisco Fonseca: “O objetivo é tornar-me profissional e ir aos Jogos Olímpicos”

Atletas

O vento tem soprado de feição para Francisco Fonseca. Aos 16 anos, o jovem velejador do CNBB – Clube Náutico da Boca da Barra – está a terminar uma época desportiva marcada por participações no campeonato europeu de juniores, na Croácia, e no campeonato do mundo do mesmo escalão, em Itália, este último, com mais de 370 atletas de 40 países. Em entrevista à Aveiro Mag, o atleta aveirense fala do seu percurso na modalidade, das rotinas de treino e dos atletas que lhe servem de referência, não escondendo a ambição de fazer da vela profissão e de conseguir alcançar os Jogos Olímpicos em 2028.

Em criança, Francisco jogava basquetebol no Clube dos Galitos, em Aveiro. Só aos 10 anos, depois de uma primeira experiência de verão, é que pediu para se juntar ao CVCN – Clube de Vela da Costa Nova – e começar a aprender a velejar. Nos primeiros dois anos, ainda conseguiu conciliar a vela com os treinos e os jogos de basquetebol. “Foram anos puxados. Havia momentos em que eu saía do treino de basquete para meia hora depois estar no treino de vela”, lembra. Até que, quando abraçou uma nova etapa mais competitiva na vela, Francisco não teve outro remédio senão deixar o basquetebol. Uma opção tomada com o coração – velejar apaixonava-o cada vez mais –, mas também com a cabeça – apesar da pouca experiência, o jovem começava a destacar-se entre os pares. “Em pouco tempo, tive uma evolução muito rápida. Tornei-me no melhor entre aqueles que praticavam vela há pouco tempo”, recorda Francisco que, em março de 2017, por proposta do CVCN, foi distinguido como “Atleta Revelação do Ano” na I.ª Gala Náutica do Município de Ílhavo.

Como é habitual, Francisco estreou-se na classe Optimist, uma pequena embarcação que, pelas suas características, permite aos mais pequenos uma primeira abordagem à navegação à vela com estabilidade e segurança. No entanto, pouco tempo depois, a sua estatura – Francisco sempre foi alto para a idade – começou a impor-lhe a transição para uma nova classe. “Acabei por deixar o Optimist bastante cedo. Se fosse só pela minha idade ainda podia ter feito mais duas épocas naquela classe, mas eu já era demasiado alto. E, no Optimist, a altura e o peso são muito importantes. O último ano já foi um pouco à rasca, mas eu queria ganhar experiência e nenhuma outra classe oferece tantas possibilidades de competição na região como o Optimist”, conta Francisco. Decide, por isso, apostar na classe de Laser, uma mudança que o leva para a outra margem do canal de Mira da Ria de Aveiro, para o CNBB, com sede no Porto de Pesca Costeira, na Gafanha da Nazaré.

Ao longo destes anos, sustos, não houve muitos. “Eu respeito o mar. Como treino sozinho, tenho de saber interpretar o mar para saber quando as condições estão a ficar demasiado perigosas”, assegura. Houve, no entanto, um episódio, quando ainda velejava em Optimist. “Num dia de inverno, na Costa Nova, o vento tão depressa caiu para 0 nós , como, de repente, veio uma rajada de trinta e tal nós. As velas começaram a rasgar-se ao meio”, lembra Francisco. “Por um lado, receava que aquilo me acontecesse , mas por outro estava a viver uma adrenalina única”.

Pode ser pelo espetáculo das águas e do céu que nelas se espelha, pode ser pela brisa salgada, pelo movimento perpétuo das ondas ou pelo infinito que inunda o olhar. Pode ser por tudo isto ou, simplesmente, pela inigualável “sensação de liberdade” que diz sentir ao velejar, mas a verdade é que, para Francisco, há uma espécie de atração pelo mar que lhe corre no sangue. Há que considerar a influência da mãe – Rosa –, que praticou windsurf, assim como a do irmão – Martim –, que o convenceu a aprender a surfar e, porque não, a memória do seu tio-avô, amante das ondas e do vento, que acabaria por falecer no ano em que Francisco nasceu, mas que, de acordo com o testemunho que chegou ao jovem por via dos avós, antecipava fazer de Francisco o seu grande companheiro na vela. “Não fosse ele ter falecido e, certamente, a vela teria aparecido bem mais cedo na minha vida”, admite o jovem atleta. É curioso, ainda assim, que o primeiro barco em que Francisco andou tenha sido o antigo veleiro do seu tio-avô, precisamente, no dia em que a embarcação seria vendida a novos donos.

Uma rotina intensa

Francisco Fonseca cumpre dois a três treinos por dia, durante seis dias por semana. E se as sessões de preparação física – trabalho em contexto de ginásio – costumam durar cerca de uma hora e meia, “na água, os treinos podem demorar de duas a quatro horas”, dependendo das condições de vento, onda e maré. Apesar de ainda realizar uma parte dos seus treinos nas águas abrigadas da Ria de Aveiro – na opinião do jovem atleta, o plano de água da laguna, “apesar dos problemas de assoreamento dos canais que dificultam a prática da modalidade”, não deixa de ser “um espaço de excelência”, que lhe permite “aperfeiçoar manobras sem a distração da onda” –, é cada vez mais em águas abertas, no Atlântico, que Francisco encontra “as condições mais parecidas com aquelas que é comum encontrar-se nos campeonatos internacionais”, o que faz com que, no mar, o treino se torne “mais produtivo”.

Ainda que acredite na possibilidade de “uma aptidão natural” para a modalidade, para Francisco, “com o tempo, à medida que vamos evoluindo, o treino começa a surtir os seus efeitos e essa aptidão natural, por si só, deixa de ser suficiente. E aquilo que as pessoas passam a atribuir-nos como talento é, na verdade, resultado de muitas horas, muitos anos de treino duro”. Na vela, não há resultados rápidos nem soluções milagrosas.

Um dos aspetos que mais cativa Francisco é “o facto de um treino nunca ser igual a outro”. “A direção e intensidade do vento é diferente, a forma como está disposto ao longo do plano de água é diferente, as ondas são diferentes. Não é como no basquetebol em que há táticas que vão estudadas para o jogo. Na vela, eu não consigo fazer uma tática para uma regata. O segredo é estar devidamente preparado para conseguir chegar lá, analisar a situação e, na hora, trabalhar com as condições que existirem”, esclarece. “Exige uma capacidade de antecipação e decisão muito rápidas. Por vezes, uma só decisão, por pequena que possa parecer, pode determinar se ficas nos dez primeiros ou nos dez últimos lugares de uma prova”, sublinha o jovem atleta. Se, por um lado, velejar pode ser visto como uma forma de desenvolver a autoconfiança e o conhecimento sobre si próprio, sobre os seus limites, por outro, é também um constante exercício de humildade e prudência. As incertezas da meteorologia e todos aqueles fatores que, a bordo de uma embarcação, não dependem exclusivamente de quem a manobra, obrigam os atletas a manter-se atentos e a respeitar o mar. O grande objetivo é conseguirem superar-se a si próprios.

Nestes seis anos dedicados à vela, Francisco teve a oportunidade de participar em diversas provas e campeonatos um pouco por todo o país e além-fronteiras, assim como de visitar eventos internacionais - o campeonato europeu de seniores, em 2019, no Porto, ou a European Continential Race, este ano, em Vilamoura, por exemplo – onde se reuniram “alguns dos melhores velejadores do mundo”. Francisco recorda o convívio com atletas como Mária Érdi, da Hungria, ou Paige Railey, dos Estados Unidos – ambas já foram campeãs do mundo –, com o cipriota Pavlos Kontides (bicampeão do mundo e medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, foi o primeiro atleta a vencer uma medalha olímpica pelo Chipre) ou os croatas Ton?i Stipanovi? (medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, e de Tóquio, no verão passado) e Filip Juriši?, assim como com o treinador Jozo Jakeli?.

“No início, eu era só mais um fã a tentar puxar conversa com eles no Instagram. Mas eles responderam-me, conhecemo-nos e acabámos por tornar-nos amigos. Em Vilamoura, deram-me a oportunidade de conviver com eles, ensinaram-me muitas coisas e deram-me dicas”, partilha Francisco, visivelmente agradecido pela oportunidade que estes atletas olímpicos lhe deram de os conhecer e conviver com eles. “Foram momentos muito especiais para mim. Foi aí que decidi que queria fazer disto a minha vida”.

Um economista a bordo

Nos últimos anos, algumas escolas da região de Aveiro têm tentado introduzir a vela aos seus alunos, seja por via de experiências isoladas – batismos de vela –, seja com a promoção de clubes escolares dedicados aos desportos náuticos ou, ainda, no âmbito do Desporto Escolar. Apesar de nunca ter tido a possibilidade de praticar vela na sua escola, durante os anos de ensino básico, Francisco chegou a integrar programas de Desporto Escolar de outras estabelecimentos, tendo competido pela Escola Secundária José Estêvão e pela Escola Secundária da Gafanha da Nazaré.

Neste momento, com 16 anos, Francisco está no 11.º ano no curso de Ciências Socioeconómica, na Escola Secundária Dr. Mário Sacramento, em Aveiro. Para quem possa pensar que o estudo das áreas da gestão, da economia ou das finanças nada tem que ver com a vela, Francisco explica: “Em primeiro lugar, para conseguir conciliar os treinos e os estudos é preciso saber gerir bem o nosso tempo e as nossas prioridades. Como na Economia, só com uma gestão equilibrada é que conseguimos aproveitar ao máximo os recursos que temos”. Além disso, há que ser um bom gestor de finanças, para saber onde e quando investir, garantindo que a participação nas provas mais importantes não fica comprometida, e um agente comercial competente, capaz de vender a “marca Francisco Fonseca” a potenciais patrocinadores. Como se tudo isto não bastasse, prossegue Francisco, “quer na escola, quer na vela, temos de ser disciplinados, se queremos alcançar patamares superiores”. “Ter boas notas permite-me manter o meu plano B”, reconhece Francisco, já para não falar do facto de “sossegar os pais” que, desta forma, veem no compromisso e dedicação com que o filho encara o seu percurso académico um motivo forte para continuarem a apoiá-lo na concretização dos seus sonhos.

A modalidade continua a só estar ao alcance de algumas carteiras e é difícil não tocar neste assunto de cada vez que se fala de vela. “Infelizmente, para se ser bom na vela, além de muito trabalho, é preciso muito dinheiro”, confirma Francisco. Desde logo, há os custos com o equipamento e a sua manutenção; depois, como os circuitos competitivos tem provas espalhadas por localizações bastante distantes umas das outras, há os custos relacionados com o transporte das embarcações e de toda a sua palamenta; há ainda os custos com a estadia que, nalguns casos, pode estender-se por mais de duas semanas. No caso de Francisco, o apoio do CNBB tem sido fundamental. “Ajudam com as despesas, emprestam-me a carrinha, o atrelado, o espaço para a minha embarcação e dão-me as melhores condições para eu treinar”, enumera o jovem atleta, que sente o clube como “uma família onde o apoio entre atletas e dirigentes é uma constante”. É, porém, a família que, contra ventos e marés, tudo tem feito para que Francisco possa continuar a embarcar nestes projetos, suportando-lhe a maior fatia dos gastos. “Tenho recorrido, sobretudo, a ‘mãetrocínios’”, confessa Francisco. “Só assim tem sido possível participar nas provas internacionais”.

Em conversa com a Aveiro Mag, e a título de exemplo, Francisco compara a realidade da vela com a do basquetebol: “No basquetebol, tudo é mais simples. Só temos de treinar, e treinar forte se queremos ser bons, e depois os clubes acabam por tratar do resto porque já têm estrutura para isso. Além disso, se formos verdadeiramente bons, o basquetebol já está divulgado a tal ponto que as melhores equipas vão buscar os melhores atletas”. Um cenário bem diferente daquele que se vive na vela, onde “não há cá Porto, Benfica ou Sporting, têm de ser os atletas a juntar-se em grupos e a arranjar os seus próprios patrocinadores”, lamenta o jovem atleta, que apela às empresas para que encarem a vela, com o alcance e a visibilidade que tem, como uma boa mostra para as suas marcas, produtos ou serviços.

Objetivo: Los Angeles 2028

Para o futuro, o principal objetivo de Francisco é tornar-se velejador profissional. É, aliás, nesse sentido que, assim que termine o campeonato nacional desta época, em abril do próximo ano, espera fazer a transição para Laser Standart, a classe olímpica masculina. Na expectativa de ter mais tempo livre, no 12.º ano, o plano passa por reforçar os treinos para, logo a seguir, estar em condições de se juntar a uma equipa profissional, fazendo o ensino superior à distância. Como não podia deixar de ser, outra das metas de Francisco é a participação nos Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles (Estados Unidos da América). “Tenho vontade, tenho os contactos necessários e sei que vou conseguir”, reitera, convicto. Bons ventos o acompanhem.

*Fotos:Afonso Ré Lau e cedidas pelo CNBB

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