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Campus Jazz: “Mais do que encher salas, interessa-nos criar públicos”

Artes

Numa altura em que o Campus Jazz está a tomar conta de vários palcos da região, a Aveiro Mag falou com três curadores do Festival de Jazz da Universidade de Aveiro. Susana Sardo (coordenadora científica do evento e professora do Departamento de Comunicação e Arte, DeCA), João Martins (diretor artístico do evento e professor do DeCA) e Margarida Almeida (responsável pelas parcerias e relações institucionais) falam sobre a evolução do festival, assegurando que “2023 é a edição mais internacional ao nível dos artistas que reúne”.

O que levou o CEJ (Centro de Estudos de Jazz) a apostar num festival?

O CEJ foi criado em 2007 e desde aí tem vindo a desenvolver iniciativas esporádicas associadas ao Jazz mas, sobretudo, centradas no arquivo e na investigação. No entanto, e tendo em conta que a prática do Jazz tem vindo a crescer na Universidade de Aveiro (UA), sobretudo ao nível do curso de Mestrado em Música e de Doutoramento, entendemos que deveríamos agregar esforços no sentido de conferir à UA uma responsabilidade de promotora do Jazz em Portugal. Uma vez que o Centro de Estudos de Jazz é uma realidade única no país, pareceu-nos importante reforçar essa singularidade ao promover um evento sobre Jazz que beneficiasse a região e o país, mas que contribuísse igualmente para a promoção da UA enquanto a universidade portuguesa onde o jazz tem um lugar cativo. Já o tinha através do CEJ e ele sai agora reforçado pelo cumprimento desta missão de divulgação e de espaço de acolhimento para a prática do Jazz, tal como está expresso nos estatutos do CEJ.

O Campus Jazz – assim designado intencionalmente – ultrapassa os muros do CEJ e da UA, acontece nas cidades vizinhas de Aveiro e em todos os seus campi e incorpora vertentes muito diversas de modo a que a componente académica não deixe de estar presente. Afinal, o Campus Jazz é um evento emanado numa universidade! Assim, ele inclui um festival que se distribui ao longo de quase dois meses, um concurso de ensembles de Jazz, um conjunto de masterclasses oferecidas pelos convidados do Campus Jazz, aulas abertas à comunidade académica e não académica e as Jazz Talks que são momentos dedicados a falar sobre jazz, numa perspetiva académica e de investigação, mas também de divulgação. Este ano, o tema das Jazz Talks será o Jazz e os Média, com a presença dos principais comunicadores e melómanos ligados à divulgação do Jazz em Portugal, e em consonância com duas homenagens que iremos fazer ao José Duarte (a quem devemos a criação do CEJ) e ao Manuel Jorge Veloso cujo acervo é agora incorporado no CEJ.

Esta é já a terceira edição do Campus Jazz. O festival tem conseguido crescer desde a primeira edição?

O Campus Jazz está a consolidar-se na programação regular da UA e já é percebido na comunidade como um evento de calendário fixo que surge a 30 de abril com o Dia Internacional do Jazz e se estende semana a semana no campus e na região. Tem crescido em número de iniciativas que integra a cada edição e tem expandido a sua divulgação, contando este ano com parceiros nacionais, para além da importância decisiva dos órgãos de comunicação locais que nos apoiam desde a primeira hora. Temos vários concertos de salas esgotadas, como aconteceu nesta edição, por exemplo, com a apresentação do Quarteto de Henrique Albino. Mas, mais do que encher salas, interessa-nos criar públicos, sugerir novas sonoridades, diversificar propostas culturais, criar palcos e dar oportunidades a novos valores do jazz. Temos conseguido suscitar o interesse e a participação de grandes músicos nacionais e internacionais que, em cada vez maior número, têm participado no Campus Jazz, tanto nos momentos de espetáculo como nos espaços de masterclasse e workshop que sempre permitem a interação direta com os públicos. 2023 é a edição mais internacional ao nível dos artistas que reúne.

É muito animador, por outro lado, ver o crescendo das dinâmicas locais e regionais em torno do Jazz, o que também nos responsabiliza e nos incentiva a reforçar as redes de parcerias já estabelecidas com escolas, municípios e associações. A colaboração institucional com festivais como o Guimarães Jazz, o “Que jazz é este? – Festival de Jazz de Viseu” e o Estarrejazz – Festival de Jazz de Estarreja amplificam o trabalho de promoção do Jazz e dos novos valores, que é um dos objetivos essenciais do Concurso Internacional de Jazz da UA, integrado no Campus Jazz.

Quais são as grandes linhas que tentam seguir, em cada edição, na definição de concertos e artistas convidados?

A interação artística e pedagógica com a comunidade artística e académica da região é um dos fortes pilares da nossa estratégia de programação. Nesse sentido, a presença de personalidades de relevo internacional, como Shai Maestro e Jacky Terrasson, a trabalhar diretamente com os nossos alunos - através dos concertos com a Orquestra e Combo de Jazz, respetivamente, e as suas masterclasses - são um ótimo exemplo dessa estratégia. Por outro lado, a vinda de Carmen Souza e Henrique Albino refletem o fenómeno de escala global que o jazz trouxe, como elemento de linguagem universal. Os quatro músicos estiveram ou vão estar (caso de Shai Maestro), tal como tem acontecido com os convidados do Campus Jazz em edições anteriores, em contacto com a comunidade através das suas masterclasses. Como forma de dar palco aos valores emergentes do Jazz nacional, enquadra-se a presença do vencedor da edição anterior do Concurso Internacional de Jazz da UA - o projeto THEMANDUS - e o projeto de Mauro Ribeiro, ex-aluno de mestrado em Jazz da UA. No sentido de relevar a importância artística do corpo docente da UA, regista-se a presença no Festival do guitarrista Mário Delgado, que apresenta o seu projeto “Filactera”, e do vibrafonista Eduardo Cardinho, que subiu a palco em conjunto com a Orquestra de Jazz de Estarreja.

Esta linha de atuação com uma muito alargada interação entre as valências da UA e a multiplicidade e o ecletismo que o jazz assume no mundo está também em consonância com a estratégia da Universidade para esta área, no apoio ao multiculturalismo, a diversidade, a internacionalização e uma estreita cooperação com a sociedade. É uma aposta forte que a UA, através do suporte institucional da Reitoria, tem vindo a concretizar.

A edição deste ano vai estender-se até 16 de junho. Quais são, no seu entender, os grandes destaques?

Os dias 1 e 2 de junho reúnem um conjunto de iniciativas muito ecléticas para as quais convidámos o jovem e conceituado pianista Shai Maestro. Vai acompanhar o showcase das escolas de ensino artístico e profissional da região, orientar uma masterclasse e um workshop aberto e atuará com a Orquestra de Jazz da UA, que interpretará temas do reportório Shai Maestro. Este será um momento único de contacto com um músico de renome mundial projetando, dessa forma, o Campus Jazz para uma dimensão internacional. Entre as atividades de dia 2 de junho acontecem também as Jazz Talks, que vão ter como tema de debate O Jazz e os Media em Portugal”, reunindo nomes de várias gerações de responsáveis pela divulgação deste género musical e homenageando José Duarte e Manuel Jorge Veloso.

O festival já conseguiu afirmar-se a nível nacional?

Julgamos que sim, uma vez que o conjunto de atividades propostas durante o Festival (concertos, masterclasses, jazz talks, concurso, jam sessions, etc.) promovem a participação direta de pessoas vindas de todos os cantos do país. Cumulativamente, as parcerias criadas com os municípios da região e com os festivais de Jazz de Viseu, Guimarães e Estarreja concorrem para uma afirmação territorial alargada do Campus Jazz.

O Campus Jazz é apenas uma das várias atividades do CEJ, criado a partir da doação da coleção de José Duarte. Estamos a falar de quantos discos e livros?

A coleção bibliográfica tem 699 livros, a fonográfica tem 1858 vinis e 3489 CDs, mais 361 cartazes e 114 publicações periódicas. Destaque, ainda, para outros documentos, nomeadamente, programas de rádio manuscritos, artigos de imprensa periódica, fotografias, entre outros.

Ao acervo entregue pelo José Duarte à UA juntaram-se outras coleções e doações. A de Alan Spennock, amigo de José Duarte, chegou por sua mão e reúne um total de cerca de 1622 espécimes sobre jazz, dos quais se destacam 753 registos sonoros (discos de goma-laca de 78 rpm, discos de vinil de 33 e 45 rpm e CD), 53 cartas (recebidas e expedida), 469 documentos de imprensa (revistas, artigos e recortes), e 61 manuscritos, 4 monografias, alguns objetos pessoais, um programa de concerto e um conjunto de 265 fotografias. Mas também o musicólogo luso-uruguaio Carlos Martins, doou uma coleção constituída por fotografias, posters, cartazes e recortes de artigos sobre jazz, 300 cassetes áudio, 50 LP, 1000 CD, 50 livros, 200 revistas sobre jazz (publicadas a partir dos anos 2000 em França, Espanha, Bélgica, Itália e Portugal) e cerca de 50 vídeos de gravações de concertos e documentários de jazz.

A este se juntou também documentação de David Ferreira e, a 2 de junho, será integrado o extenso espólio de Manuel Jorge Veloso.

Depois do recente desaparecimento de José Duarte sentem que têm agora uma responsabilidade ainda maior em mãos ao nível da preservação desta coleção e da divulgação do Jazz?

Não! Desde a fundação do CEJ que o compromisso que assumimos de nos dedicarmos à investigação, ao arquivo, ao ensino e à divulgação do Jazz tem estado na linha da frente das nossas prioridades. A partida do José Duarte deixa a vida do Jazz em Portugal mais pobre (não voltaremos a ouvir o Cinco Minutos de Jazz, na rádio...), mas a responsabilidade que assumimos ao fundar o CEJ com o seu acervo teve impactos desde o primeiro minuto. E pretendemos manter esse compromisso. De alguma forma, o José Duarte continuará vivo através do CEJ e sabemos que ele escolheu a UA justamente por isso. Sabia que estando na UA a sua coleção não seria um móvel estático esquecido num arquivo. Mas que permaneceria em crescimento e a produzir conhecimento com e sobre o jazz. Faremos justiça a esse desejo.

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